A vitória do PT dentro da derrota eleitoral

Por Sérgio Henrique (*)

Desde 2019 as tentativas do PT de construção de uma tática independente para as eleições de Teresina foram atrapalhadas pela visão equivocada do governador Wellington Dias acerca dos interesses dos teresinenses para a próxima gestão da cidade, considerando o desgaste da atual gestão, o desgaste do bolsonarismo e da conjuntura de polarização política acirrada com o golpe de 2016.

A derrota política e eleitoral do candidato da preferência do governador e de outros petistas infiéis, o deputado federal Fábio Abreu, foi uma demonstração flagrante do equívoco na articulação entre Wellington e alguns petistas no inicio desse processo. Fabio Abreu obteve 29.037 votos (7,02%), votação inferior à alcançada pela candidatura do PT, que obteve 47.573 votos (11,50%). A insatisfação com a gestão do PSDB, que fez seu candidato ficar em segundo lugar com 26,70% dos votos, poderia abrir espaço para o PT ser a alternativa imediata da maioria dos insatisfeitos, mas essa posição foi preenchida pela candidatura de Dr. Pessoa do MDB que obteve 34,53% dos votos.

A crítica que se fazia à tática do governador era de que a pauta principal do Capitão Fabio Abreu, que é a segurança, mobilizava um segmento anti-petista que se afastaria da campanha ao perceber o apoio do PT. Essa preocupação não era somente de nossa parte, pois na leitura dos estrategistas da campanha de Abreu, uma composição com os Republicanos seria mais coerente para atrair o eleitorado mais à direita do que ter o PT na vaga de vice.

Diante desses fatos, a militância petista e o pré-candidato Fabio Novo conseguiram a vitória para a tese da candidatura própria. Contudo, isso não foi suficiente para mobilização do petismo com toda sua força e o engajamento dos amplos setores que já votaram em Lula ou no PT. É inegável que o isolamento social provocado pela pandemia dificultou a mobilização política que o PT poderia articular, mas foi notório o baixo engajamento das lideranças políticas mais próximas do governo e dos setores majoritários do partido na pré-campanha do PT em Teresina.

É verdade que o próprio candidato apostou na força da institucionalidade, gerada pela presença no governo estadual, para fortalecer sua pré-campanha, deixando de lado o potencial mobilizador dos movimentos sociais, principalmente do movimento sindical. Mas até mesmo para articulação com as entidades da classe trabalhadora, faltou comunicação com setores articulados pela CNB nos sindicatos dirigidos por petistas da ArtSind. Se existiu uma dificuldade pessoal para o Fabio Novo, é de estranhar porque os dirigentes e lideranças da CNB não cumpriram a tarefa de articulação da campanha do PT com as lideranças do movimento sindical.

É interessante observar que o espaço que antes o PT ocupava não foi preenchido por outras forças de esquerda, e isso se refletiu nas votações das demais candidaturas que juntas somaram 9.150 votos, com destaque para candidatura do PSOL, que obteve 8.283 votos. O resultado dessas eleições demonstra que a sistemática de propaganda contra o petismo também atinge as demais forças de esquerda, principalmente quando a ausência de trabalho de base com a classe trabalhadora soma-se aos ataques dos inimigos.

Mas a força do PT se mostrou maior que os equívocos de seus dirigentes e o resultado vimos nas urnas mesmo em condições adversas. A campanha do PT conseguiu pautar um projeto alternativo ao modelo neoliberal vigente. Temas importantes como a regularização fundiária e de políticas para o meio rural foram destaques, além de uma crítica radical às políticas de assistência social, saúde e educação.

As formas criativas de fazer campanha demonstraram que o PT ainda mantém um estilo de militância diferente em relação aos demais partidos, e vimos isso nos “canoaços” e “bicicletaços” que com certeza levaram a campanha do PT para as periferias da cidade. Com essa campanha ficaram os exemplos e as experiências concretas do que é prejudicial para a mobilização eleitoral do partido e de quais são as pautas que aproximam o PT da classe trabalhadora e dos que estão com seus direitos negados.

A posição do PT no segundo turno

As candidaturas de direita esconderam a imagem de Bolsonaro, e isso permitiu ao Dr. Pessoa (PMDB) ocupar o lugar que o PT já ocupou no imaginário dos teresinenses que desejam alternativa aos governos do PSDB. Mas é nítida a participação de setores anti-petistas e bolsonaristas na campanha de Dr. Pessoa e este, mesmo sendo de um partido da base aliada do governo Wellington Dias, recusou o apoio declarado do conjunto do petismo e somou-se a um vídeo do candidato a vice recusando apoio de Wellington Dias. Essa situação levou à decisão acertada do candidato não eleito do PT de declarar voto nulo no segundo turno, e essa atitude é seguida pela grande maioria da militância por não reconhecer em nenhuma das candidaturas diferenças de projeto.

A polêmica nas redes sociais é: qual posição do PT está valendo? Se é a declaração de apoio partindo de Wellington Dias ou a posição de Fabio Novo de anular o voto. De qualquer forma, pelo menos nas redes a posição majoritária dos e das petistas é que o PSDB não dá conta das transformações e necessidades da maioria do povo e o MDB do Dr. Pessoa é o partido do golpe. Se depender do resultado das urnas, onde podemos ver uma vitória dentro de uma derrota com uma diferença de 18.536 votos entre a votação do PT e a de Fábio Abreu, em Teresina mais vale a orientação de Fabio Novo do que a orientação de lideranças que defendiam que o PT retirasse candidatura.

É com essa tranquilidade e firmeza que saudamos a vitória do PT e de Fábio Novo por terem cumprido a missão de defender o projeto da classe trabalhadora, e de agora termos a paciência de nos colocarmos como oposição a qualquer uma das duas propostas de governo colocadas. Nesse segundo turno em Teresina, vote 13 e vamos para as ruas organizar as marchas e os bicicletaços!

(*) Sérgio Henrique é membro do Diretório Municipal do PT de Teresina, estudante de Serviço Social e entregador por aplicativos.


(**) Textos assinados não refletem, necessariamente, a opinião da tendência Articulação de Esquerda ou do Página 13.

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