Por Wladimir Pomar (*)
O PT, apesar de suas nuances, sempre se destacou por realizar um trabalho de base que envolve, principalmente, alguns milhões de filiados e simpatizantes. No entanto, é preciso reconhecer que, nos últimos tempos, esse partido passou a apresentar fragilidades nesse terreno. Seus principais setores passaram a enfatizar as atividades parlamentares, dando-lhes uma prioridade. O que, muitas vezes, enfraquece aquele trabalho de base, assim como a relação íntima, nem sempre fácil, com as camadas trabalhadoras e populares que constituem a esmagadora maioria do povo brasileiro.
Isso ocorre, provavelmente, porque, do ponto de vista estratégico, o atual comando petista parece haver abandonado o socialismo como bandeira estratégica, considerando-a uma bandeira inventada, sem qualquer viabilidade prática. Ou seja, tal comando não leva em conta que o socialismo é apenas o resultado lógico e histórico das crescentes contradições básicas do desenvolvimento capitalista. E que só pode concretizar-se, como solução para tais contradições, se contar com a participação de milhões de trabalhadores e deserdados por esse sistema.
Tal participação, para concretizar-se, precisa de um trabalho político constante e intenso nas bases da sociedade, que incorpore camadas crescentes dos trabalhadores, ativos e deserdados, na discussão e na luta por condições mais humanas de trabalho, estudo, cultura e saúde.
Dizendo de outro modo, apesar do presente refluxo numérico da classe trabalhadora brasileira, em virtude do enfraquecimento econômico do país e, também, da crescente produtividade proporcionada pelo desenvolvimento tecnológico, tanto industrial quanto agrícola, tal classe continua presente e ativa na busca da sobrevivência.
Em tais condições deveria, portanto, continuar sendo considerada a principal força social e política em qualquer empenho para melhorar a situação do país e de sua população. O que exige que seja tratada com principalidade por um partido que se denomina “dos Trabalhadores”, e que proclama pretender construir uma sociedade avançada, na qual seus membros tenham trabalho e vida dignos.
Em outras palavras, em termos práticos, que a direção e a militância de tal partido mergulhem, efetivamente, nas diversas camadas dessa classe que dizem representar, realizem pesquisas efetivas para conhecer as condições reais de vida e de trabalho de tal classe, em cada local de trabalho e de moradia, e tenham como principal atividade tanto o conhecimento profundo de suas condições de vida e de trabalho, quanto de suas ações de conhecimento, de organização e de luta.
Infelizmente, isso parece não mais fazer parte das preocupações de parte da direção petista, embora a política genocida do bolsonarismo tenda a piorar, ainda mais e constantemente, as condições de vida, de estudo e de trabalho daqueles cuja sobrevivência física depende, basicamente, de conseguirem vender sua força de trabalho. O que só obterão, como a vida das sociedades capitalistas tem demonstrado, através de um processo constante de organização e de luta, que deve ter a participação efetiva da direção e da militância petista.
Em outras palavras, tendo em conta a crise que o Brasil atravessa, e suas consequências desastrosas sobre a maior parte da população, tal situação exige, ainda mais, que dirigentes e militantes petistas mergulhem, conheçam e participem, de forma ainda mais intensa do que todo o período anterior, seja de vida do PT, seja de vida e de luta do dia a dia das atuais camadas trabalhadoras e populares brasileiras.
Em cada local, é indispensável pesquisar e conhecer os problemas reais vividos por seus moradores e trabalhadores, participar com eles das discussões, propostas e decisões de enfrentamento de tal situação e, mais ainda, das lutas concretas que decidam realizar.
Se o PT pretende derrotar Bolsonaro e a direita política nas próximas eleições presidenciais e legislativas, nacionais e estaduais, este é o momento de dar uma virada completa na relação de seus dirigentes e militantes com as camadas trabalhadoras majoritárias da população brasileira. Mais ainda do que antes, será preciso mergulhar fundo na vida real das centenas de milhões de brasileiros que só tem, como mercadoria de sobrevivência, sua força de trabalho.
Dizendo de outro modo, é necessário não somente sugerir e lutar pela solução dos problemas macroeconômicos que impedem a geração de novos empregos, mas também, em cada área ou região de militância, pela melhoria das condições efetivas de trabalho e de vida, que se tornaram muito piores pelos efeitos da pandemia e do desgoverno bolsonarista.
(*) Wladimir Pomar é jornalista, escritor e militante petista