Antirracismo revolucionário, eleições, PT e Coletivo de Negros(as)

Por  Fausto Antonio (*)

Epigrafia do  antirracismo revolucionário

O  socialismo, objetivo  nuclear do  antirracismo revolucionário, será conquistado  com transformações estruturais  e radicais de classe, mas  a  classe, renovada e  no contexto brasileiro, se historiciza como conjunto indissociável  de  classe, raça, gênero  e  território usado. 

Eleições  de  2024  e  derrota  política  do  PT

A vitória eleitoral   da  direita  foi  anunciada  há  tempo. As  eleições  municipais  de 06  de  outubro de 2024 confirmaram a previsão. A  direita  sairia, de  acordo  com análises prévias,  vitoriosa no  Brasil todo. O  processo  confirmou que a  dita  democracia sufragista, como tática, é  válida transitivamente  para assegurar bancadas e prefeitos (as) organicamente subordinados às massas e às políticas horizontalmente conduzidas pela classe trabalhadora.

O  radicalismo,  na  defesa estratégica dos trabalhadores, dinamiza a disputa  não  tão-somente no espaço , na representação e no  comando  do executivo e  do legislativo, mas nos  lugares e/ou  chão da sociedade brasileira. Trata-se,  a  rigor,  de imposição, na  correlação  de  forças, das  políticas redentoras das massas  negras, trabalhadoras e oprimidas.

O  Mapa Eleitoral  de 2024  revela  o  estágio  ou  o  estado da  correlação  de  forças    existente   nas  reentrâncias e/ou  chão  da  sociedade brasileira.  Não existe  possibilidade, sem  radicalismo, entendido  como defesa estratégica dos  interesses do  conjunto indissociável de  classe, raça, gênero e território usado, de  efetiva inserção dos trabalhadores , das camadas negras e  populares na disputa  política. Em outros  termos, é a política de longa duração, portanto,estratégica, que  determina o papel necessariamente tático do processo eleitoral.

No  caso  do  PT, relevando  o papel distinto do processo tático  e  do  estratégico,   o  fiasco  eleitoral  é, sobretudo , político. O  eleitoral, isolado, não é o  foco central. A leitura do  resultado em si pode  ser feita  assim ou  assado, tanto faz. Ela, dissociada do projeto  estratégico, é  inútil. Há  quem diz,  no viés comparativo com as eleições de 2020, “que  houve avanços quantitativos”.

Perfumarias eleitorais à parte, leituras desta natureza induzem a  erros  do  ponto  de  vista estratégico e  de  enfrentamento da burguesia branca, da tutela militar, do racismo, da violência policial, das privatizações e, especialmente, do isolamento  das  questões  municipais da conjuntura  nacional e  internacional em oposição, por  exemplo, ao  imperialismo  e ao sionismo.  Tais  debates  e políticas são fundamentais e devem ocupar as intervenções  municipais. A  ausência  dessa estratégia é  o retrato e notadamente  o resultado da subordinação  do  projeto político e estratégico ao subprojeto eleitoral e, muitas vezes, unicamente eleitoreiro.

Desse modo, há  o  abandono  dos  lugares e da horizontalidade  orgânica do PT e dos  oprimidos no contexto nacional e igualmente no contexto  internacional.    O  fiasco   é  o  resultado,  além da  desconsideração  da   centralidade das mobilizações e lutas,  do  abandono da  disputa, com candidaturas  orgânicas do PT, nas  capitais, grandes, médias  e pequenas cidades; tudo,  a  favor  do  “acordo para  garantir a  governabilidade na  esfera presidencial”. Sobram, então,  alianças  espúrias, na  contramão dos  interesses dos  trabalhadores, com  a  direita  e  extrema  direita.

Na  mesma margem de  desmobilização, o PT  institucionalizado tem assumido, de modo  descarado, a  veste de “esquerda liberal”,  a  despeito de  a  base do  PT apontar e representar, mesmo sem a organicidade formativa do partido, forte potencial anti-sistema burguês e pró  socialismo como marco  estratégico. As  direções, no  entanto, conforme  alianças verticais à  direita, assumem  discursos ordinários de verniz  meramente   humanista.

O  paralisante quadro, de  alianças com a direita,     se  aplica ao conjunto  do país, com  especial destaque  para as  capitais brasileiras e  grandes cidades. Tudo  ocorre  assim porque  o  PT hegemônico, “esquerda  liberal” é, sobretudo, uma federação vertical  de mandatos, de assessores (as) parlamentares e de assessores (as) instalados  nas instâncias governamentais municipais, estaduais  e  nacional.

O  partido, reduzido à  tática eleitoral e  de  governabilidade submissa à  direita,  se  mostrou, como era  esperado, desarmado para  se  opor às  instituições burguesas brancas   e  para  o inadiável  processo de mobilização  e  luta contra as condições  materiais e  imateriais injustas    sustentadas pelo neoliberalismo, racismo e toda ordem   de  ataques aos trabalhadores,  à  soberania  nacional e internacional encabeçada por  países, partidos e organizações  que  lutam historicamente contra o imperialismo e o sionismo.

Movimento Negro e  Coletivo  de  Negros  do PT

O  Coletivo  de  Negros (as)  do  PT  é  parte do Movimento  Negro. Não é  apenas uma  simples  tendência; o Coletivo  de  Negros  do  PT tem, na  sua  composição, diversas tendências do  Movimento  Negro Brasileiro.  No contexto da  cidade  de  Campinas, à  guisa de exemplo  que pode  ser estendido para outras cidades do país, há militantes do  MNU, Ylê  Ogum, Movimento Cultural Hip Hop, Movimento Capoeira  nas  Escolas, Clube Machadinho,  Laudelina  de Campos  Melo, Jongo  Dito  Ribeiro  e ativistas de muitos  Coletivos  de Negros  de vários Sindicatos filiados, principalmente, à CUT.

Existe base interna, com articulação orgânica externa, que  pode  ser aferida pelas tendências constituidoras do Movimento Negro e, ao  mesmo  tempo, do   que  consideramos como Coletivo de Negros (as) do  PT.  O  Coletivo  de  Negros  do  PT tem, pela  sua  composição e  pela natureza concreta e  sistêmica  do  racismo, uma função partidária para encetar a  luta contra  o racismo.  No  que  concerne a luta para superação  do  racismo, o  trabalho  do  ativismo negro e/ou antirracismo  e  torná-la hegemônica  nas  intervemções estratégicas  do  PT.  A  intervenção  poderia  ser eficaz, no  entanto,  ela  é  frágil  e  insuficiente.

O  Coletivo  de  Negros  (as)  do  PT,  de  acordo com a composição  é base e , em muitos  casos, direção  do  Movimento Negro mais  amplo, mas fica subordinado às  tendências  internas do PT e ao projeto institucional  pequeno burguês que é, no momento, hegemonizador de  parte das  correntes do Movimento  Negro Brasileiro organizdo e tragicamente   ONGNIZADO. O Coletivo  de  Negros (as) do PT, pela  sua  composição e  principalmente  pela orientação  política  estabilizada marojitariamente  pelos processos eleitorais  internos  e  externos,  não funciona  como motor interno  e  externo para assegurar  uma orientação antirracismo revolucionárua.

A propósito  do  antirracismo  revolucionário, é  necessário  dizer que  ele  renova a  leitura do marxismo, no  Brasil, considerando o  modo pelo qual  se define  e  funciona o  capitalismo no  país. O  socialismo, objetivo  nuclear do  antirracismo revolucionário, será conquistado  com transformações estruturais  e radicais de classe, mas  a  classe, renovada e  no contexto brasileiro, se historiciza como conjunto indissociável  de  classe, raça, gênero  e  território usado.

A  postulação teórica e política relativa ao movimento antirracismo revolucionário, é  fato  evidente, não  está  no  horizonte  e muito  menos  no  escopo político do Coletivo  de  Negros (as) do  PT. Por funcionar como apêndice de correnttes e também por  insuficiência  política  derivada do Movimento Negro em geral, a atuação  do Coletivo  de Negros (as) do  PT é hegemonizada por uma  política da ordem partidária  e institucional; parte robusta  do Movimento  negro o é  igualmente.

As  duas  forças atuam  e  são  movidas pelos  Processos Eleitorais Internos ( PED -PT) e  eleições externas para o legislativo e executivo nas escalas municipais, estaduais  e  nacional.  Eis  as  razões centrais  pelas  quais o Coletivo  de  Negros(as) do PT não cumpre o papel interno e  externo propugnado pela sua criação.

 (*) Fausto Antonio  é  escritor, poeta, dramaturgo e professor da Unilab, Malês, Bahia.              

 

Respostas de 2

  1. Excelente Fausto. Rever táticas e estratégias de luta deve ser foco fundamental, do que é chamado de ” coletivos negros”. Na concepção de que coletivo, na organização, corresponde a reunião de vários elementos , pessoas em um contexto, que conseguem caminhar conjuntamente. Enquanto, movimento negro, no momento, ” líderes ” se movimentam isoladamente…na cidade de Campinas

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