Página 13 publica carta de Aline Rochedo Pachamama, companheira petista e indígena, do povo Puri, de uma comunidade de Visconde de Mauá (RJ), reivindicando o direito dos povos originários ao isolamento diante da pandemia do coronavírus e de apoio do SUS aos indígenas em situação urbana.
Considerando a colonização como uma prática iniciada em 1500, e que permanece desde então, atos de violência em relação aos povos originários podem ter a conotação de algo que ocorreu no passado. Mas não, estão acontecendo neste ano. Acontecem em 2020: invasão e apropriação de território; disseminação de doenças por parte dos não-indígenas; assassinatos; apropriação de conhecimento cultural; a não aceitação do originário como cidadão; a desvalorização de nossa sabedoria; a imposição de religiões em relação à nossa cultura, que não contemplam as nossas crenças, cosmologia e ritos; a exigência de um perfil de “índio”, que traduz uma imagem cristalizada do século XVI; a mídia, que deturpa nossos valores e luta; as ofensas ditas; a escola, que ensina que o “índio” está extinto; o 19 de abril , que não é homenagem; o “índio”, que virou adereço e não nos representa. Somos povos originários. Eu mulher Puri.
Em tempos de pandemia, tal colonização apresenta sua faceta mais cruel e genocida. Sabemos que a ousadia de garimpeiros, grileiros e madeireiros é fruto do descomprometimento, violência simbólica e violação de direitos aos grupos em situação de vulnerabilidade por conta das invasões constantes e violação dos seus direitos.
O trecho da constituição de 1988 que sinaliza que “são reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens”. Sendo partícula desse povo originário, aqui venho por intermédio deste solicitar a salvaguarda pelo Estado e sociedade em relação ao DIREITO DE ISOLAMENTO DOS POVOS ORIGINÁRIOS com medidas eficazes de intervenção para a RETIRADA IMEDIATA de garimpeiros, grileiros e madeireiros das proximidades das aldeias indígenas e apoio do SUS aos indígenas em situação urbana. Sabemos que a ousadia de garimpeiros, grileiros e madeireiros é fruto do descomprometimentos com os grupos mais vulneráveis desse pais. A concessão à invasão (inclusive em governo de esquerda) em nossas florestas públicas e territórios indígenas ocorreram pela negligência da sociedade e principalmente dos representantes políticos que deveriam assegurar o direito e a democracia.
Agradeço por me acompanharem por meio dessas palavras. No aguardo do retorno.
Aline Rochedo Pachamama (Povo Puri da Mantiqueira)