Por Redação Página 13 (*)
Apagão em Macapá (AP)
Na noite da última terça-feira (3), uma subestação de energia elétrica da cidade de Macapá, capital do Amapá, pegou fogo e levou 13 municípios a ficaram sem energia elétrica. Esses municípios representam quase 90% da população do estado.
A falta de energia, e a demora em resolver o problema, trouxe grandes problemas ao estado. A população começou a estocar alimentos e muitas das prateleiras dos supermercados ficaram vazias. O abastecimento de água também foi prejudicado em razão da falta de energia. O funcionamento dos bancos também foi atingido, impossibilitando que as pessoas retirassem dinheiro para fazer compras. Sem comunicação, com telefonia e internet fora do ar, foi difícil inclusive chamar a atenção da sociedade para a crise e para cobrar resposta dos governos.
Uma mensagem, postada nas redes sociais por Dayne de Oliveira, dava a ideia do drama e das contradições que cercam a crise do Amapá:
“Aqui o cenário é de guerra.
2020 e o AMAPÁ em protesto por água e energia.
O Amapá é banhado pelo maior rio de água doce do mundo, Rio Amazonas.
E não temos água potável.
O Amapá tem 5 hidrelétricas que fornecem energia pra fora do País.
E não temos para-raios e pagamos uma energia absurdamente cara.
O Amapá fica localizado exatamente no meio do mundo e somos tratados como se fosse o fim do mundo.
Eu não tenho mais palavras.
Na foto é a comunidade Casa Grande fazendo protesto de 5 dias sem energia.”
Geovane Granjeiro, ex-presidente da CUT Amapá, e candidato a vice-prefeito pelo PT em Macapá, argumenta, em entrevista ao canal da Revista Fórum, que o caos gerado pela falta de energia não poder ser atribuída simplesmente a um raio que possa ter caído na subestação, pois trata-se de fenômeno natural, que eventualmente pode atingir as subestações de energia.
A questão é porque o sistema não estava preparado para essa situação? Segundo Granjeiro, a resposta está no modelo de operação e transmissão de energia, que foi sendo relegado ao setor privado ao longo dos anos, reduzindo o papel das empresas estatais.
A subestação de energia atingida, que é a mais importante do estado, estava com um dos seus três transformadores fora de funcionamento desde 2019, tempo mais do que o suficiente para ter sido consertado. A subestação é administrada por uma empresa privada espanhola chamada Isolux. Esse grupo multinacional, que controla a concessionária Linhas do Macapá, não conseguiu resolver o problema ocasionado pelo fogo e pediu socorro para os trabalhadores da Eletrobrás.
Segundo o diretor do Sindicato dos Urbanitários do Maranhão (STIU/MA), Wellington Diniz, que também é funcionário da Eletrobras, “o que acontece no Amapá pode acontecer em outros lugares. Bolsonaro e ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque vêm dizendo que a Eletrobras não tem capacidade de investimento, e apostam na privatização, só que na hora em que acontece um acidente como este são os técnicos da Eletrobras que são convocados para prestarem socorro à empresa internacional porque ela não tem capacidade para resolver o problema” ( Portal da CUT ).
O Partido dos Trabalhadores, por meio de sua presidenta, emitiu uma nota sobre assunto. Nela o PT “manifesta solidariedade ao povo do Amapá, que experimenta há cinco dias um apagão do sistema elétrico em todo o estado por um acidente em um transformador de um fornecedor privado. É estarrecedora a falta de compromisso do governo de Jair Bolsonaro com o povo”. Complementa “a demora da empresa privada espanhola responsável pela Isolux em responder à crise e solucionar a falta de energia no Amapá mostra que a privatização do setor é um grande equívoco.”
Ainda segundo a nota, o apagão no Amapá confirma o erro do governo em querer vender da Eletrobrás. “Hoje, quem está tratando de reverter a crise e garantir o suprimento emergencial de energia no Amapá é a Eletronorte, uma subsidiária da Eletrobrás. A holding responsável pelo sistema elétrico está prestes a ser vendida. O PT reitera: a privatização do setor elétrico é um desserviço para o Brasil e para o nosso povo.”
A população do Amapá ainda não sabe ao certo quando a situação estará normalizada, mas uma coisa é já é certa: é preciso impedir a privatização do setor elétrico para que não voltemos a era dos apagões, talvez ainda pior, do governo FHC, agravando ainda mais as difíceis condições de vida do povo e da classe trabalhadora, que não tem um dia de sossego com o governo Bolsonaro e seus aliados.
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