Por Marcelo Barbosa (*)
Governado Cláudio Castro (PL) e Washington Quaquá
A situação do Estado do Rio de Janeiro nos últimos anos não é boa, e se depender de alguns arranjos políticos a promessa de superação vai ficar ainda mais difícil de ser realizada.
É verdade que muitas das mazelas do estado fluminense não vêm de agora, mas o quadro piorou muito com a condução econômica de Guedes no governo do Cavernícola. Os efeitos da crise econômica e “má” gestão da economia são evidentes: redução dos postos de trabalho, aumento do desemprego, falta de investimento, empoderamento das milícias, crescimento da pobreza, etc. Caso consideremos os danos da pandemia à população fluminense, o Rio de Janeiro, certamente, é um dos Estados mais afetados negativamente. Os dados oficiais atualizados indicam que já são mais de 61.605 mortos por Covid 19 em todo Estado.
Do ponto de vista mais específico, ou seja, da gestão propriamente dita do Estado, a condução é considerada uma das piores do Brasil. O atual governador fluminense, o bolsonarista Claúdio Castro, – empossado após impeachment de outro bolsonarista (arrependido), Wilson Witzel, tem proporcionado ao Estado um quadro horroroso. O atual governo do Rio tem demonstrado ser nocivo à população fluminense. Isso é facilmente verificado a partir das políticas encaminhadas pelo governador bolsonarista: privatização da Cedae, ação catastrófica dos agentes de segurança na favela do Jacarezinho, o projeto de privatização da UERJ pela base parlamentar do governo, sem falar da divulgação das conversas do ex-secretário de Administração Penitenciária Raphael Montenegro com traficantes do Rio de Janeiro.
Não bastasse isso tudo, é com, no mínimo, perplexidade que recebo a notícia dos aplausos e elogios do Vice-Presidente nacional do PT Washington Quaquá e ex-prefeito de Maricá ao governador bolsonarista Claúdio Castro em visita a cidade de Maricá. De acordo com o post em sua conta do twitter, publicou Quaquá:
“[…] nunca tivemos um governador que tenha tratado Maricá com o devido respeito e parceria, como tem feito Claúdio Castro”.
Adiante segue Quaquá,
“Não sou de participar de eventos oficiais, nem quando era prefeito gostava, mas hoje fiz questão de ir prestigiar a vinda do Governador Cláudio Castro”.
Vamos de breves comentários. Nesse trecho, além de bajular o governador, Quaquá está se referindo aos repasses oriundos da Cedae (exatos R$ 154 milhões) que a cidade de Maricá foi contemplada.
Continua Quaquá em seu tweet,
“Para quem chegou sem que ninguém levasse muita fé, ele tem demonstrado imensa capacidade de diálogo e ao mesmo tempo de vencer a crise administrativa do Estado”.
Capacidade de diálogo, como assim? Acho que Quaquá esqueceu que foi o governador Claúdio Castro, que não somente autorizou a desastrosa ação da polícia civil na favela do Jacarezinho, se contrapondo inclusive ao STF, como comemorou os resultados da matança e o terror na comunidade. Muito diálogo sim!
Segue triunfante Quaquá,
“Antes de mais nada, num país destruído pelo lavajatismo e capturado pelos falsos moralistas, vingadores autoritários, mas ao fim e ao cabo, mais corruptos do que os que eles, criminosamente, se arvoram combater, destruindo o país a serviço de projetos estrangeiros, ter gente com capacidade de diálogo e espírito de tolerância é um ganho imenso”.
Aqui, o ex-prefeito de Maricá se supera. Para Quaquá existe uma grande distinção entre os bolsonaristas e os lavajatistas. Ora, o Cavernícola não foi o grande beneficiado em 2022 com os ataques “moralistas” ao PT? O ex-juiz Moro não foi Ministro de primeira hora do governo Bolsonaro?
No mesmo trecho, Quaquá aprofunda ainda mais a distinção do governador bolsonarista Claúdio Castro daqueles que se colocam “a serviço de projetos estrangeiros”. Nesse momento pirei, não dá realmente para entender! O governador bolsonarista não é aquele que privatizou a Cedae entregando a Companhia para à grupos ligados ao capital estrangeiro? Não é aquele aliado fiel do presidente Cavernícola? Aquele Presidente que é capacho dos EUA, que privatizou os Correios para o capital gringo, que privatizou a BR Distribuidora da Petrobras (atualmente Vibra Energia), que avança para a Eletrobrás, que encaminha a privatização dos serviços públicos via PEC 32 no Congresso? No final desse parágrafo fiquei até curioso para saber de Quaquá quem seriam aqueles “a serviço de projetos estrangeiros” que menciona.
Quaquá encerra o seu post com o brilhante desfecho,
“Por isso sai de casa para ir hoje a essa solenidade de defensores da democracia….”.
Texto de Quaquá também foi publicado em sua conta no Instagram
Defensores da democracia? Com esse grand finale do texto de Quaquá, conclui que, ou eu estou ficando maluco ou não sei mais o que é democracia, tendo em vista que essa turma da extrema direita que se elegeu junto com o Cavernícola odeia a democracia. Eles vivem ameaçando as instituições, convocam as forças armadas, desrespeitam a Constituição, louvam a ditadura militar de 1964.
Estripulias à parte, a perspectiva de cenário eleitoral apontada por Quaquá para 2022 é certamente o da frente ampla, ou seja, para “derrotar” Bolsonaro vale tudo. E nesse sentido cabem alianças com “deus e o diabo”, enfim com golpistas, neoliberais, extrema-direita, direita fisiológica, fundamentalistas, etc. O pragmatismo ilimitado de Quaquá aposta, provavelmente, que o governador Claúdio Castro, acrescido do prefeito de Duque de Caxias Washington Reis (aquele que inaugurou uma escola militar com o nome do pai do Bolsonaro) e o prefeito Waguinho de Belford Roxo (aquele com ótimas relações com o senador Flávio Bolsonaro, filho do Presidente) vão pular do barco do cavernícola, tendo em vista que, na opinião de Quaquá, não seriam políticos bolsonaristas, mas sim, fisiológicos e que, portanto, agirão de forma oportunista pensando nas próprias sobrevivências, assim, ficarão do lado daquele que estiver mais forte para a disputa de 2022. Na leitura de Quaquá será Lula.
Na verdade o tweet de Quaquá nos apontou muitas coisas, algumas explícitas e outras não. Entre as explícitas fica a mensagem de que em nome da consolidação do campo de alianças entorno de Lula toda justificativa serve, “frente ampla contra o fascismo”, “defesa da democracia”, etc. Não importa se o PT vai trilhar “ombro a ombro” com os bolsonaristas, o que vale é “ganhar”. Das coisas não explícitas destacamos o fato de que o Vice-Presidente do PT Quaquá está somente construindo campo fértil para a sua possível candidatura a deputado federal pelo estado, bem na linha daqueles com quem deseja aliança, ou seja, que agem de forma oportunista e em defesa da própria sobrevivência política.
(*) Marcelo Barbosa é integrante do Núcleo do PT da UFF e militante da AE.
Link da matéria sobre o post de Quaquá: