Dados com ascensão de mortes por policiais, roubos, furtos, estupros e operações desastradas expõem gestão Tarcísio
Por Daniela Miranda (*)
O ano de 2023 trouxe para São Paulo um novo governador, o carioca Tarcísio de Freitas (Republicanos). Desde sua instalação no Palácio dos Bandeirantes, só crescem os problemas na segurança pública do estado, sede da principal facção criminosa do País, o Primeiro Comando da Capital (PCC). Dados recentes revelam um panorama sombrio: aumento de crimes violentos, estupros, letalidade policial, investimento em armamentos, foco nos crimes patrimoniais e corporativismo na Secretaria Estadual de Segurança Pública.
Segundo dados da secretaria, a letalidade da Polícia Militar nos seis primeiros meses de 2023 cresceu 11% comparado com o mesmo período do ano passado.
De janeiro a junho de 2023, 201 pessoas foram mortas em confrontos com policiais militares, das quais 155 por agentes em serviço e 46 por profissionais de folga, conforme o levantamento.
Outro dado alarmante: no primeiro semestre deste ano, São Paulo registrou o maior número de estupros desde o início da série histórica da Secretaria de Segurança, em 2001. Foram contabilizados 7.089 casos, o equivalente a 38 por dia.
Entre janeiro e março deste ano, houve aumento nos registros de roubos de veículos (5,7%) e de furtos (4,7%). Nos primeiros cinco meses de 2023, delegacias localizadas em bairros ricos da cidade de São Paulo registraram recorde nas ocorrências de roubo e furto.
Dados da Secretaria da Segurança Pública indicam uma explosão nos casos de roubos, por exemplo, no 14º DP (Pinheiros). De janeiro a maio foram 1.426 ocorrências com o uso de armas ou mediante violência. É a maior quantidade já vista no distrito desde 2002.
Chacina no Litoral de SP – Como os dados da letalidade policial se referem ao período entre janeiro e junho de 2023, não incluem as 16 mortes por policiais militares durante a Operação Escudo, ocorrida na Baixada Santista no final do último mês de julho, uma das mais violentas já realizadas na região pela PM.
A operação foi instalada após o assassinato do policial Patrick Bastos Reis, soldado das Rondas Ostensivas Tobias Aguiar (Rota), durante patrulhamento na comunidade Vila Julia, no Guarujá, com o objetivo de capturar criminosos responsáveis pela ação contra agentes da PM.
No dia 31 de julho, Tarcísio de Freitas, em entrevista coletiva, comemorou a operação. “Nós vamos investigar, nós vamos prender, nós vamos apresentar à justiça, nós vamos levar ao banco dos réus. Foi isso exatamente que foi feito neste final de semana. Eu estou extremamente satisfeito com a ação da polícia, extremamente triste com o que aconteceu porque nada vai trazer um pai de família de volta”, disse. O governador tem reiterado, desde a divulgação dos primeiros óbitos, que não há excesso da força policial na operação.
No comando do estado há oito meses, Tarcísio teve como uma das suas principais bandeiras, nas eleições do ano passado, a linha dura na área de segurança pública. O republicano, ex-ministro de Jair Bolsonaro, defendeu a retirada das câmeras corporais dos policiais militares e só recuou da proposta após repercussões negativas. Também afirmou se inspirar no modelo de governo do Rio de Janeiro, um estado que tem 74,2% da sua capital operada por milícias, segundo dados do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (Geni) da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Diversos fatores, segundo especialistas, têm contribuído para o aumento da violência em São Paulo. A falta de investimentos adequados em políticas de prevenção e repressão ao crime é apontada como um deles, além das mudanças na estrutura da Secretaria de Segurança.
Ao assumir, o governador escolheu para comandar a pasta policiais, o capitão da PM, conhecido como deputado Capitão Derrite, do PL, eleito deputado federal em 2022. Para a secretaria-executiva, nomeou o delegado Osvaldo Nico. A secretaria é acusada de manipular dados sobre a violência no estado.
Uma das primeiras ações de Tarcísio ao chegar ao Palácio dos Bandeirantes foi revisar o programa Olho Vivo, apontado como o responsável por quedas significativas na letalidade policial. O programa não recebeu novos investimentos em 2023.
Em contrapartida, os investimentos avançaram na compra de armas e equipamentos menos letais para as polícias civil e militar e pessoal efetivo para área por meio de concursos públicos.
No mês de março, a Secretaria de Segurança Pública abriu licitações para comprar 2,7 mil escudos balísticos, 30 mil granadas não letais e 10 mil kits de gás lacrimogêneo, além de investir mais de R$ 5,2 milhões para aquisição de espingardas calibre 12 e 3,7 mil submetralhadoras, entre outros equipamentos.
Ações desastradas na área da região da Cracolândia nos últimos meses para retirar e mudar de lugar os moradores de ruas e usuários também aumentam a pressão sob o governo paulista.
(*) Daniela Miranda é militante do PT.