Balanço das Eleições 2024 em São José dos Campos

Por Direção Municipal da AE – SJC

A disputa majoritária

1.Entre 1992 e 2016, as eleições para prefeito em São José dos Campos foram mais ou menos polarizadas entre uma candidatura de direita (via de regra, PSDB) e uma candidatura de esquerda (PT). Neste período, a única vez que houve segundo turno foi em 1992, quando a então candidata petista Ângela Guadagnin derrotou, com 50,54% dos votos válidos, o candidato do PTB, José Coimbra.

2.De 1996 até 2016, portanto, as eleições foram todas resolvidas no primeiro turno, sempre em uma disputa entre PSDB e PT, com o PSDB vencendo todas, exceto as eleições de 2012, na qual Carlinhos Almeida foi vitorioso, com 50,99% dos votos válidos.

3.As eleições de 2020 também foram resolvidas em primeiro turno, com uma diferença, porém, com relação às anteriores: em 2020, já com a extrema direita no governo federal, pela primeira vez em décadas a disputa principal não aconteceu entre direita e esquerda, mas sim entre duas direitas. Naquele pleito, Felício Ramuth (PSDB) ficou com 58,21% dos votos válidos e a Coronel Eliane Nikoluk (PL) ficou em segundo lugar, com 15,95%. O PT, com Wagner Balieiro, ficou apenas na terceira posição, com 10,25%.

4.As duas eleições vencidas pelo PT entre 1992 e 2020 ocorreram em condições muito particulares:

a.Em 1992 era recente a disputa entre Lula e Collor, que quase elegeu pela primeira vez um representante da classe trabalhadora à Presidência da República, e a militância estava organizada e participava ativamente de diversos sindicatos, em organizações de base da Igreja Católica, em associações de bairro, etc.

b.Em 2012, o primeiro governo Dilma representava o auge dos governos petistas na presidência do país, com nível de aprovação sem precedentes e com a maioria do povo percebendo no cotidiano a melhoria significativa em suas condições de vida.

5.Mesmo em condições relativamente mais favoráveis, as duas vitórias petistas aconteceram apenas por pequena margem de diferença sobre os candidatos representantes da direita.

6.Já em 2024, após mais de trinta anos, as eleições foram definidas novamente em segundo turno. Dessa vez, porém, consolidando a disputa entre as direitas, e reafirmando o PT e, portanto, a esquerda, apenas como coadjuvante na disputa municipal, com Wagner obtendo 11,67% dos votos válidos e ficando em quarto lugar.

7.Acompanhando, portanto, o que vem acontecendo Brasil afora, em São José dos Campos a extrema direita vem se fortalecendo a tal ponto de, no primeiro turno de 2024, haver três candidatos, Anderson (PSD), Cury (PL) e Elton (União Brasil), se reivindicando como representantes deste campo e disputando o apoio de sua principal figura nacional, Jair Bolsonaro.

8.A combinação entre o fortalecimento da extrema direita e o profundo enfraquecimento do PT fez com que, nem mesmo sob o governo Lula 3, o Partido pudesse se recolocar como alternativa real à prefeitura da cidade.

9.O resultado de 2024 revelou de forma aberta as limitações, tanto políticas quanto organizativas, do Partido, com baixo perfil na oposição à direita da cidade, avesso ao debate ideológico, com suas instâncias de direção funcionando de forma precária e descontinuada, sem capacidade de elaboração, sem uma sede própria que possa servir de referência a sua militância e aos movimentos sociais e sem qualquer trabalho de base.

10.É verdade que em 2012 o Partido em São José já não contava com um bom nível de organização, e já se encontrava de certa forma bastante desmobilizado e inoperante junto à base social, mas apesar disso conseguiu eleger o prefeito.

11.Isso evidencia que as condições de 2012 são bastante diferentes das condições de 2024. E se, por um lado, o que o governo Dilma estava fazendo em 2012 foi suficiente para contribuir com a eleição de Carlinhos Almeida, já em 2024, seria necessário que o governo federal estivesse fazendo muito mais para que minimamente o PT pudesse voltar a ser protagonista na disputa municipal, ainda que fosse derrotado.

12Neste sentido, as previsões segundo as quais as coisas melhorariam para nós “automaticamente”, pelo simples fato de termos Lula na Presidência, demonstraram-se equivocadas.

a.Primeiro porque desconsideraram que a organização maior ou menor do partido e de sua militância são fundamentais para o resultado eleitoral (na campanha do Wagner sequer houve carreatas, bandeiraços, etc., e, via de regra, a militância não se apresentou para a construção dessa candidatura);

b.Segundo porque desconsideraram que a política que defendemos e a polarização que fazemos (ou deixamos de fazer) com a visão de mundo da extrema direita é também, e cada vez mais, fundamental para a disputa eleitoral;

c.E, por fim, porque apostaram que a figura do presidente é suficiente para atrair votos para o nosso campo, ainda que as políticas populares implementadas em nível nacional sejam tímidas e não resultem em grandes melhorias nas condições de vida da maioria da classe trabalhadora.

13.Em 2024 aconteceu também algo que não se via desde 1992, que é uma chapa formada por partidos de esquerda. Se há mais de trinta anos o vice de Ângela Guadagnin era do PSB, em uma coligação formada, ainda, por PCdoB e PPS (que nesta época ainda era de esquerda), desta vez a vice de Wagner foi a companheira do PSOL, Marina Sassi, em uma coligação entre a federação Brasil da Esperança (PT, PCdoB e PV) e a federação PSOL/Rede.

14.Contudo, inicialmente houve tentativas do campo majoritário de estabelecer alianças eleitorais mais amplas. Apesar da maioria do Partido ter sinalizado em algumas circunstâncias o fato de que “esperava ter conseguido ampliar mais”, os partidos da base do governo federal que foram procurados pelo PT não manifestaram qualquer disposição em fazer composição a nível local.

15.Neste sentido, a explicação pelo fato de o PT ter saído coligado na eleição majoritária a partidos restritos à esquerda e centro-esquerda em 2024 se deve menos a uma decisão e opção política do Partido e mais à decisão de outros partidos, quiçá inclusive de direita e de centro-direita, em não se coligar com o PT.

Tabela 1: Votação da disputa ao Executivo em São José dos Campos de 2012 a 2024.

  2012 2016 2020 2024
Eleitores aptos 455.440 488.641 540.501 536.901
Abstenções 74.799 (16,42%) 94.635 (19,37%) 145.249 (26,87%) 132.904 (24,75%)
Brancos e nulos 26.050 (5,72%) 41.193 (8,43%) 43.446 (8,04%) 38.196 (7,12%)
Votos válidos 354.591 (77,86%) 352.813 (72,20%) 351.806 (65,09%) 365.801 (68,13%)
 
PT 180.794 (50,99%) 76.327 (21,63%) 36.063 (10,25%) 42.679 (11,67%)
PSDB 153.011 (43,15%) 219.511 (62,22%) 204.800 (58,21%)
PV 8.260 (2,33%) 8.581 (2,43%)
PSB 5.413 (1,53%) 2.246 (0,64%)
PSDC 3.704 (1,04%)
PSTU 2.699 (0,76%) 4.384 (1,24%) 1.661 (0,47%) 1.659 (0,45%)
PSOL 710 (0,20%) 7.670 (2,18%)
PRB 42.755 (12,12%)
PATRIOTA 1.255 (0,36%)
PL 56.122 (15,95%) 94.947 (25,96%)
PSD 16.528 (4,70%) 145.061 (39,66%)
PSL 15.116 (4,30%)
NOVO 9.658 (2,75%)
PC do B 1.208 (0,34%)
PTC 734 (0,21%)
UNIÃO BRASIL 72.745 (19,89%)
PDT 8.710 (2,38%)

16.Ao se comparar a votação da candidatura petista em 2020 e em 2024, fica bastante perceptível que o mais provável é que o aumento obtido agora, aumento este que não evitou o amargo quarto lugar nas eleições, foi mais devido aos votos que em 2020 ficaram na candidatura do PSOL do que propriamente a alguma recuperação que o Partido possa ter obtido com relação à eleição anterior.

Definição da candidatura, GTE e linha geral de campanha

17.As inúmeras dificuldades político-organizativas enfrentadas pelo PT se manifestaram ao longo de todo o processo, desde a pré-campanha, a começar pela escolha do candidato. Tendo sido nosso representante nas eleições de 2020, o mais provável era que Wagner se apresentasse novamente como candidato a prefeito.

18.Apesar do atraso em se oficializar a candidatura do PT e a chapa majoritária para a eleição de 2024, o Partido adotou a decisão correta, ao confirmar o nome de uma de suas principais lideranças para a tarefa. Neste sentido, merece destaque a decisão do companheiro Wagner Balieiro de disponibilizar seu nome para encabeçar nossa chapa, em um contexto de disputa dificílimo, abrindo mão da “saída fácil” de pleitear uma vaga na Câmara Municipal, em uma eleição que seria praticamente certa, em prol de garantir ao Partido a oportunidade de se apresentar com chapa própria na disputa majoritária.

19.No que diz respeito ao Grupo de Trabalho Eleitoral (GTE), uma reunião da Executiva do Partido definiu que o grupo seria composto por dois membros do campo majoritário e um da AE. Na prática, contudo, houve pouco espaço para debates e discussões que envolvessem todos os membros do grupo de trabalho, sempre a pretexto de realizar reuniões em dias úteis e em horário comercial, o que inviabilizou a participação conjunta de todos os representantes nas reuniões. Além disso, no decorrer do processo outras pessoas ligadas à maioria do Partido na cidade foram incorporadas ao GTE e assumiram informalmente tarefas específicas no colegiado, o que contribuiu para esvaziar ainda mais as atribuições do grupo de trabalho.

20.Por fim, é importante destacar que todas as articulações políticas e táticas da campanha majoritária (incluindo definição de política de aliança e linha dos programas no rádio e TV) foram conduzidas pessoalmente pelo presidente do Partido e pelo próprio candidato, limitando-se, quando muito, a informar ao GTE as decisões adotadas.

21.Foram realizadas algumas reuniões temáticas durante a campanha para que pudessem ser coletadas contribuições para a construção do programa de governo. Estas reuniões, via de regra, contaram com quóruns muito baixos e o que aconteceu, ao final, foi a elaboração de um plano de governo de gabinete, que nem sequer foi divulgado entre os filiados.

22.Mesmo em algumas das reuniões temáticas que contaram com uma participação maior da militância, as mesmas tiveram seus trabalhos mal organizados, sem uma mesa responsável por coletar as contribuições e sistematizá-las para a constituição do Programa de Governo.

23.Com um plano de governo e uma disposição ao enfrentamento muito aquém do necessário para enfrentar as candidaturas da direita, o que se viu muitas vezes ao longo do processo foi a chapa majoritária fazendo campanha para algumas candidaturas proporcionais e priorizando a participação em atividades por elas realizadas.

24.Em função disso, em alguns momentos da campanha a chapa majoritária chegava a “sumir” em meio a algumas candidaturas à vereança, adotando uma postura de derrota a priori, o que contribuiu inclusive para o crescimento da candidatura do Dr. Elton, que aos olhos do senso comum apareceu como suposta alternativa competitiva “fora” do campo bolsonarista.

25.Com relação aos recursos financeiros, chama atenção o fato de que, apesar da maior parte dos recursos da campanha majoritária ter sido oriunda do Fundo Eleitoral, 18% (200 mil reais) vieram da doação do empresário Wagner Louis de Souza, dono do Vale Sul Shopping e da Century. Apesar disso, foi nítida a desvantagem financeira de nossa candidatura com relação aos concorrentes da direita. No entanto, é preciso ter em conta o fato de que por vezes o discurso de que “tivemos poucos recursos financeiros” se apresenta como uma cortina de fumaça que encoberta ao menos um dos nossos grandes problemas atuais, que é o da falta de “recursos humanos”, que fazem campanha independentemente de dinheiro, e que o fazem porque estão defendendo algo em que acreditam.

26.A grave desmobilização ao longo da campanha do Wagner, sem a militância engajada no dia a dia e sem ir para as ruas defender o projeto petista, deixa claro, mais uma vez, que não temos sido capazes de motivar nem mesmo os militantes mais aguerridos, razão pela qual não é possível acreditar que teríamos condições de mobilizar setores mais amplos da sociedade.

27.Finalmente, a trajetória do PT em São José, com todos os problemas políticos e organizativos que enfrenta há vários anos, bem como o histórico das disputas com a direita e o aparecimento e a consolidação da extrema direita na cena política, afastam-nos, em definitivo, de respostas fáceis que atribuem ao nome lançado a maior parte da responsabilidade sobre o nosso mau desempenho em 2024.

A disputa proporcional

28.É necessário um maior aprofundamento histórico, político, eleitoral e sociológico para consolidar um entendimento de porque razão o PT, mesmo em seus melhores momentos eleitorais (que o tornaram capaz de eleger representantes ao Executivo em todos os níveis) salvo raras exceções, não conseguiu eleger maiorias para as casas legislativas pelo país.

29.Isso não é diferente em São José, onde mesmo em momentos eleitoralmente favoráveis para a candidatura majoritária, jamais chegamos a ter mais do que cinco representantes em uma Câmara Municipal de vinte e um vereadores. O histórico de candidatos eleitos pelo PT na cidade é o seguinte:

Tabela 2: Vereadores eleitos pelo PT de 1982 a 2024.

1982 1988 1992 1996 2000 2004 2008 2012 2016 2020 2024
02 03 02 03 05 03 04 04 03 02 02

30.Tomando por base tão somente a quantidade de vereadores eleitos é possível dizer que o Partido chegou ao seu auge nas eleições de 2000, após um período de ascenso das lutas sociais e do próprio PT.

31.Nos anos 2000, mesmo estando à frente do governo federal, o PT em São José não voltou a conseguir o feito de eleger cinco representantes e, a partir de 2012, teve início um processo de descenso, que foi também um reflexo do que vinha acontecendo no cenário nacional e no país como um todo.

Tabela 3: Votação da disputa à Câmara Municipal entre 2012 e 2024.

  2012 2016 2020 2024
Eleitores aptos 455.440 488.641 540.501 536.901
Abstenções 74.799 (16,42%) 94.635 (19,37%) 145.249 (26,87%) 132.904 (24,75%)
Brancos e nulos 29.381 (6,45%) 43.674 (8,93%) 47.209 (8,73%) 40.990 (7,63%)
Votos legenda 30.267 (6,65%) 27.467 (5,62%) 25.595 (4,74%) 19.693 (3,67%)
Votos nominais 320.993 (70,48%) 322.865 (66,07%) 322.448 (59,66%) 343.314 (63,94%)

32.Em 2024, a decisão nacional do PT pela formação de uma federação impôs a nível local a necessidade de compor com o PV, que em São José é historicamente um partido de direita, representado por figuras como Cyborg, e cuja força eleitoral das chapas proporcionais em 2012 e 2016 tem relação com o mandato do deputado estadual Afonso Lobato. Quando este perdeu a eleição em 2018, a direita abandonou a sigla, restando o PV que participou da federação com o PT nestas eleições, cuja expressão eleitoral  se mostrou desprezível, como apresentado na tabela a seguir.

Tabela 4: Votação proporcional da esquerda entre 2012 e 2024 (somente votos nominais).

  2012 2016 2020 2024
PT 47.385 (14,76%) 29.863 (9,25%) 21.098 (6,54%) 29.730 (8,66%)
PSOL 377 475 8.929 10.265
PCdoB 3.515 557 3.200 510
Rede 532 743
PV 20.671 21.979 164
PDT 1.540 7.569 1.302
PSTU 6.841 1.905 1.582 1.177
Esquerda (sem PT)* 12.273 (3,82%) 10.506 (3,25%) 14.243 (4,42%) 14.161 (4,12%)
Esquerda (com PT) 59.658 (18,59%) 40.369 (12,50%) 35.341 (10,96%) 43.891 (12,78%)

* Pelas razões acima mencionadas, não contabiliza o PV em 2012 e 2016.

33.Além da questão político-ideológica do PV, durante boa parte da pré-campanha a federação conviveu com a incerteza da viabilidade da chapa perante a Justiça Eleitoral, em razão daquele partido não ter apresentado as prestações de contas das eleições anteriores. Ao final, não se sabe em que termos foram consertados os acordos para a resolução desta situação, mas fato é que foi resolvida. Naquele momento, ficou evidente que a federação trazia mais contras do que prós para o PT, fato que ficou comprovado com o resultado eleitoral do PV.

34.A chapa proporcional, a despeito de contar com a vereadora mais votada da cidade, Amélia Naomi, com 8.679 votos, e de eleger uma segunda vereadora também muito bem votada, Juliana Fraga, com 5.937 votos, teve, em seu conjunto, 29.730 votos, totalizando 8,66% dos votos nominais, percentual superior ao de 2020, mas inferior ao de 2016, e muito inferior ao de 2012.

35.O processo de formação da chapa foi inicialmente organizado a partir de um formulário digital criado para que quem quisesse se candidatar pudesse manifestar seu interesse. Foram cerca de trinta e cinco pessoas inscritas para as dezoito vagas disponíveis. Em reunião da Executiva, definiu-se uma “comissão de vereadores” que ficou responsável por entrevistar os inscritos e estabelecer os critérios de “corte”. Estes critérios, porém, não foram tornados públicos.

36.Durante este processo também foram feitos vários acordos entre membros da maioria do Partido e pessoas consideradas com alto potencial eleitoral, mas que não estavam nem sequer filiadas. Este foi o caso, por exemplo, de Jamilton, Brunielly e Ingrid de Sá, esta última tendo sido contemplada com financiamento generoso de R$50 mil por parte do empresário do agronegócio, Rubens Ometto, que também doou R$600 mil para a candidatura de Anderson Farias (PSD).

37.As condições em que a chapa petista foi formada, trazendo pessoas a laço para sua composição, não poderia resultar em algo diferente: candidaturas de todas as cores, exceto vermelho, políticas oportunistas e eleitoreiras, pouca ou nenhuma defesa da candidatura majoritária, plataformas eleitorais com baixíssimo conteúdo político e avessas à disputa ideológica com a direita, etc.

38.Em consequência disso o Partido acabou colhendo o que plantou: apesar de ter alcançado um pequeno aumento em sua votação em relação a 2020, o PT ficou relativamente longe de alcançar a terceira vaga na Câmara por conta da cláusula de barreira, que impede que a chapa dispute a distribuição das vagas remanescentes (sobras) caso seus candidatos a serem indicados para essas vagas não tenham atingido ao menos 20% do quociente eleitoral (3.456 votos). No caso do PT, seu primeiro suplente a disputar a terceira vaga atingiu apenas 65% deste número.

39.Neste aspecto, merece destaque o fato de que, se por um lado, a chapa majoritária do Partido melhorou sua votação em relação às últimas eleições municipais, por outro, a votação na chapa proporcional continuou bastante concentrada em poucos candidatos/as, neste caso, impedindo a indicação de mais vagas na disputa das sobras, já que os demais candidatos estiveram longe de alcançar os 20% do quociente eleitoral.

40.Isto também é uma consequência da falta de apoio à maioria das candidaturas, que encontra sua maior expressão na ausência de orientações e de uma linha política clara a ser seguida, o que produz campanhas de um partido de esquerda, sem necessariamente um conteúdo de esquerda, frequentemente com ausência de firmeza ideológica e com caráter eleitoreiro e pragmático.

41A distribuição absurdamente desigual dos recursos do fundo eleitoral também é uma expressão da falta de apoio à grande parte das candidaturas da chapa petista, muito embora tampouco seja possível atribuir à falta de dinheiro o mal desempenho de vários candidatos, que por vezes nem sequer contavam com um grupo de apoio ou, se o tinham, não teriam, de todo modo, maior expressividade caso houvesse mais dinheiro disponível.

42.A ausência de trabalho militante não foi uma particularidade da candidatura majoritária. Em quase todas as campanhas proporcionais o que se viu foi a política de funcionários predominar sobre a política militante que caracterizou o PT durante muitos anos, além de campanhas que, não tendo recursos financeiros para contratar seus funcionários, tampouco contava com apoio de alguma base organizada que lhe conferisse maior força e alcance.

43.Além disso, é nítido que, ao menos desde 2012, a chapa de vereadores do PT recebe uma quantidade de votos muito inferior àquela recebida pela candidatura majoritária. Isso revela que as debilidades das nossas chapas proporcionais são imensas, agravadas pela falta de coesão do grupo, falta de orientação política, pela ausência de apoio estrutural do Partido à maioria das candidaturas e pela ausência parcial ou total de trabalho de base por parte de muitas candidaturas. Em 2024 isso não foi diferente, e ao final tivemos 56,64% dos votos concentrados em três candidaturas, das dezoito da chapa petista.

A candidatura da Articulação de Esquerda – Prof. Luis 13123

44.A tendência petista Articulação de Esquerda (AE) vem lançando candidaturas próprias a vereador em São José dos Campos desde as eleições de 2008, primeiro com o companheiro Maurílio (2008, 2012 e 2016), em seguida com o companheiro Paulo (2020) e, em 2024, com o companheiro Luis.

45.Em todos estes anos enfrentamos muitos dos mesmos problemas de que sofre o Partido. Este é o caso do baixo nível de engajamento militante nas atividades de campanha que são, por sua vez, um reflexo do baixo grau de organicidade e organização da tendência, cujos membros, via de regra, não estão organizados em movimentos sociais, sindicatos, etc. ou, quando estão, o fazem com muitas dificuldades e de forma muito inconstante.

46.Especificamente na campanha Prof. Luis 13123, merece destaque a enorme motivação do candidato, que abraçou com muito entusiasmo, dedicação e espírito militante a tarefa de representar nosso projeto político à sociedade nessas eleições, sempre com muita combatividade.

47.Embora historicamente tenhamos candidaturas de professores da rede pública estadual e municipal de ensino e, portanto, consequentemente um foco político na educação, o Prof. Luis, por sua própria trajetória de vida e de luta, introduziu um componente novo, o da Cultura, que enriqueceu enormemente a nossa campanha e contribuiu para nos apresentar a cidade de São José de uma outra forma.

48.Tomando por base a atuação do candidato, na reunião de planejamento de campanha adotamos a tática de focar em três eixos: propostas para a Educação, para a Cultura e para a Zona Norte da cidade. Além disso, decidimos que nossa candidatura tinha que ter um viés fortemente antiprivatista, para confrontar as candidaturas de direita e para tensionar inclusive com as candidaturas proporcionais e majoritária do próprio PT que, seja por não concordarem, seja por adotarem uma postura de pouco conflito, optaram por não tocar este tema.

49.De um modo geral, essa linha política mostrou-se acertada, exceto pelo fato de que, ao longo da campanha, ficou claro que o enfoque de tipo “bairrista” é praticamente incompatível com as características e com o alto grau de politização apresentado pela candidatura da AE. Ficou demonstrado, assim, que ainda que a atuação nas ruas estivesse mais voltada para os bairros da Zona Norte, até mesmo por falta de gente envolvida na campanha, nossas propostas deveriam ser sempre de cunho mais abrangente, abordando a cidade como um todo.

Tabela 5: Votação nominal do PT e das candidaturas da AE entre 2012 e 2024.

  Chapa PT Nº Candidatos Votos per capita Candidatura AE % AE
2012 47.385 41 1.155 1.153 2,43
2016 29.863 27 1.106 733 2,45
2020 21.098 32 659 1.223 5,80
2024 29.730 18 1.651 1.144 3,85

50.Quando se compara a votação das candidaturas da AE com a votação da chapa de vereadores do PT nota-se que nosso melhor desempenho foi nas eleições de 2020. Ainda que a votação em 2024 tenha diminuído em somente 79 votos com relação à anterior, em termos percentuais caímos de 5,80% em 2020 para 3,85% em 2024.

51.Por outro lado, ao comparar 2012 com 2024, o que se vê é que mesmo com apenas 09 votos de diferença, o percentual naquela eleição (2,43%) foi bastante inferior ao percentual desta (3,85%), sugerindo uma tendência de crescimento da nossa importância na chapa petista ao longo dos anos, ainda que muito aquém do que precisamos e do que gostaríamos, e ainda que este crescimento frente à chapa não resulte em um aumento da nossa expressão eleitoral de conjunto.

52.Quando se olha para a quantidade de candidatos na chapa petista, bem como para a votação per capita, nosso melhor desempenho até aqui se confirma como sendo o das eleições de 2020 onde, mesmo com uma chapa relativamente grande, nossa votação foi quase o dobro da votação per capita. Em 2012 nossa votação coincidiu com a votação per capita, e em 2016 e 2024 ficaram abaixo desse número.

53.É preciso avaliar mais profundamente as principais razões que levaram nossa campanha de 2020 a ser a relativamente mais exitosa em termos eleitorais, para além do cenário excepcional de realização do pleito em meio à pandemia, sem campanhas de rua e todas as suas consequências. De todo modo, por sua maior abrangência e por tocar temas nos quais ainda não havíamos tocado anteriormente, do ponto de vista político, a campanha do Prof. Luis foi a mais avançada que a AE pode construir até aqui.

Figura 1: Votação das candidaturas da Articulação de Esquerda por zona eleitoral de 2012 a 2024.

54.No que diz respeito à votação da AE por zona eleitoral, nossa candidatura em 2024 foi a que obteve uma distribuição mais homogênea entre elas, já que em 2012 e em 2016 houve uma concentração na zona 282 (Zona Norte) e em 2020, uma concentração na zona 411 (Zona Leste).

55.A partir dos balanços realizados sobre as eleições que participamos, desde 2008, houve um entendimento, desde muito cedo, da necessidade de que, ao longo da campanha fosse garantido que nosso candidato não ficasse sozinho, sem o apoio dos companheiros, sem reuniões, sem alinhamentos ao longo da rota, etc., já que isso aconteceu em todas as campanhas anteriores. Neste sentido, podemos dizer que houve avanços do ponto de vista organizativo que garantiram que este erro não se repetisse nas eleições de 2024.

56.Porém, ficou demonstrado a partir do número de votos obtidos na presente eleição, que se manteve no mesmo patamar de nossa votação histórica, que os ganhos organizativos no período de pré-campanha e campanha, tão somente, não foram suficientes para nos fazer avançar e ampliar a votação.

57.Claro está que somente o trabalho de construção orgânica fora do período eleitoral, o trabalho de base cotidiano e a inserção ativa e organizada de nossos militantes nos movimentos sociais, sindicatos, etc. poderá contribuir para o aumento de nossa influência na classe trabalhadora e, consequentemente, de nossa votação nas próximas eleições.

58.É verdade que a Articulação de Esquerda defende a política estratégica mais acertada para o Partido, porém, do ponto de vista tático, não nos diferenciamos significativamente da maioria. Portanto, para que possamos avançar para além do discurso e para que possamos demonstrar que nossa política estratégica acertada resulta em avanços tático-eleitorais, será necessário que assumamos o compromisso militante de levar o nível de nossa atuação cotidiana a um outro patamar, seja no Partido, seja em movimentos sociais, seja em sindicatos e onde mais pudermos estar presentes.

59.Somente dessa forma poderemos, no futuro, comprovar na prática que nosso acerto estratégico tem implicações na forma como o Partido se organiza, na forma como disputamos as eleições e na forma como fazemos a política cotidiana, não deixando restar dúvidas que, portanto, aquilo que defendemos é capaz de alterar qualitativa e quantitativamente a situação do nosso Partido na cidade de São José dos Campos, colocando-o à altura dos tempos de guerra em que vivemos e com a força necessária para lutar pela construção do Socialismo.


ANEXO: Vereadores eleitos pelo PT em São José dos Campos, desde 1982

1982 – Brás Cândido e Ernesto Gradella

1988 – Amélia Naomi, Ernesto Gradella (Carlinhos Almeida assume em 1991, em função da eleição do Gradella a deputado federal em 1990) e Miranda Ueb

1992 – Amélia Naomi e Carlinhos Almeida

1996 – Amélia Naomi, Carlinhos Almeida (Mauro Kano assume em 1999, em função da eleição do Carlinhos a deputado estadual em 1998) e Dulce Rita

2000 – Amélia Naomi, Giba, Izelia, Mauro Kano e Neusa do Carmo

2004 – Amélia Naomi, Tonhão Dutra e Wagner Balieiro

2008 – Amélia Naomi, Ângela Guadagnin, Tonhão Dutra e Wagner Balieiro

2012 – Amélia Naomi, Ângela Guadagnin, Juliana Fraga e Wagner Balieiro

2016 – Amélia Naomi, Juliana Fraga e Wagner Balieiro

2020 – Amélia Naomi e Juliana Fraga

2024 – Amélia Naomi e Juliana Fraga

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