Balanço inicial na capital gaúcha

Na primeira reunião do Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano e Arquitetura (CMDUA), realizada no dia 30 de outubro de 2024, após o segundo turno eleitoral da capital gaúcha, já foi aprovado mais um projeto da construtora Melnick: terá três torres de 66,25 metros de altura e o antigo ginásio da Brigada Militar como base. Segundo os presentes, já foram feitas falas do tipo: “as regras atrapalham os negócios”.

Descrevemos esse episódio para ilustrar qual é o ambiente e o cenário pós-eleitoral, sendo que a maioria dos votantes optou pela continuidade do que esta aí. Ou seja, teremos quatro anos de muitas batalhas de resistência contra o completo desmonte do que existe de estrutura pública e contra a ampliação dos negócios das grandes construtoras na cidade de Porto Alegre, que não têm nenhum compromisso com as pessoas e a natureza.

Enfim, por que a cidade de Porto Alegre, entre os votantes, optou por este caminho?

Em 2023, as análises feitas pelo Partido dos Trabalhadores afirmavam que havia sinais de esgotamento deste projeto que governava a cidade, e, em que pese a grande estrutura política e empresarial, haveria alguma chance de disputa.

Este cenário ficou evidenciado quando da crise climática e das enchentes que se abateram sobre a cidade no mês de maio, assim como durante todas as consequências vividas no mês seguinte. Em junho, pesquisas indicavam rejeição superior a 50% do atual prefeito, Sebastião Melo, sendo que ele chegou a aparecer em sondagens eleitorais com pouco mais de 20%.

Cabe salientar que a denúncia coordenada por um grupo de engenheiros e ex-gestores do Departamento Municipal de Água e Esgotos (DMAE) e do Departamento de Esgotos Pluviais (DEP), que teve repercussão nacional, foi fundamental para que se abatesse sobre Melo a responsabilidade pela falta de manutenção e cuidado com a nossa capital. A fala dessas lideranças e o documento que apresentaram deram credibilidade à denuncia e à narrativa.

Então, precisamos compreender — entre acertos, erros, incompreensões — o que ocorreu na nossa capital.

Em primeiro lugar, é preciso referendar a decisão do Partido do Trabalhadores de apresentar uma candidatura própria à Prefeitura de Porto Alegre. Em 2020, indicamos o vice da chapa de Manuela Dávila, então PCdoB.

Um segundo aspecto importante foi a construção da unidade com todos os partidos da esquerda, algo inédito ao longo dos últimos 20 anos. Reunindo a Frente liderada pelo PT e a Frente liderada pelo PSOL, tivemos PT, PSOL, PCdoB, PV, Rede e PSB juntos já no primeiro turno.

Esta unidade garantiu a chegada ao segundo turno da chapa de Maria do Rosário e Tamyres Filgueira. A esquerda polarizou novamente a disputa, como havia feito em 2020. O PT chegou ao segundo turno com um nome seu, algo que não acontecia desde 2008.

Um terceiro elemento importante foi a ampliação da nominata da esquerda eleita para a Câmara Municipal. O PT ampliou de quatro para cinco vagas, o PSOL também e o PCdoB manteve as suas duas vagas.

A Federação liderada pelo PT foi a mais votada, com 102.626 votos; depois, veio a Federação do PSOL, com 80.697 votos; em seguida, o MDB, com 67.236; e o PL, com 60.441.

A Articulação de Esquerda lançou três nomes depois de várias discussões, e os votos alcançados por Ceniriani Vargas, Davison Soares e Volnei Picolotto, nesta ordem, superaram a marca dos 2 mil votos. Isto deixa claro que, se a corrente tivesse uma candidatura única, teríamos condições de disputar uma suplência ou disputar as últimas vagas dos eleitos.

Elementos para compreender os limites e a vitória do adversário:

A primeira reflexão que devemos fazer diz respeito à relação crise climática-enchente e o impacto das ações do governo federal.

O governo Lula acertou em cheio ao tratar como prioridade a crise no RS, acertou ao vir várias vezes ao estado, ao montar um ninistério extraordinário e destinar mais de R$ 80 bilhões.

No entanto, a narrativa que prevaleceu, construída pelo ingrato governador Eduardo Leite e vários prefeitos, foi a de que o governo federal fez menos do que devia e que entregou bem menos do que prometeu.

E, ao contrário do que havia sido cristalizado no mês de junho, a narrativa de que havia vários responsáveis pela situação ganhou milhares de adeptos na cidade, e o prefeito atenuou a sua responsabilidade.

Um segundo elemento importante para a análise refere-se ao fato de que nossa campanha centrou muito pouco na ideia de que o que estava em julgamento eram os 20 anos do atual projeto, e prevaleceu a crítica sistemática apenas à gestão e aos quatro anos de Sebastião Melo. Essa narrativa permitiu ao atual prefeito comparar-se ao antecessor e pedir mais tempo para concluir o que faltava.

Um terceiro elemento diz respeito às manipulações e fake News montadas contra nossa candidata no tema dos direitos humanos. Muitas destas mentiras apareceram várias vezes nas pesquisas qualitativas. Acabamos fazendo um enfrentamento, à altura, muito tarde, o que foi incapaz de desmontar o que havia sido construído contra nós.

Um quarto elemento é que demoramos a acertar na mobilização e na comunicação, via programas de rádio e TV. Basicamente, acertamos em ambos no final do primeiro turno e começo do segundo turno. Porém, aí já estava cristalizada a disputa e a divisão dos votos.

Um quinto elemento diz respeito à força política e empresarial do nosso adversário, que trouxe o bolsonarismo raiz para sua chapa e contou com inúmeras doações físicas de grandes empresários da cidade. Basta ler sua prestação de contas.

Por fim, devemos registrar o belo desempenho de Maria do Rosário em todos os debates, em especial no segundo turno.

Para finalizar, temos uma tarefa inadiável: voltar a fazer formação política e ideológica, e ter organização de base buscando ter centenas e milhares de militantes capazes de fazer a disputa no cotidiano em cada território. Isto precisa ser feito de forma a respeitar cada comunidade.

O PT precisa afirmar a sua identidade de partido militante que atua no dia a dia da sociedade e enxerga nas disputas e conquistas eleitorais o resultado deste trabalho.

Enfim, são elementos para o debate, para que possamos afirmar os acertos e corrigir os erros para o cotidiano da luta política e para as próximas disputas eleitorais.

Direção municipal da AE de Porto Alegre-RS.

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