Campinas: um balanço inicial

Por Leandro ElielMargarida Calixto (*)

Em Campinas, após duas gestões do PSB/PSDB, a administração do prefeito Jonas Donizete (PSB) sofreu um intenso desgaste público com escândalos de corrupção em várias áreas da administração, chegando, em 2020, a uma divisão de sua base de apoio na definição da candidatura governista. Além disso, Jonas Donizete promoveu um desmonte das políticas sociais e um arrocho no salário do funcionalismo público, entre outras medidas afinadas com as políticas neoliberais dos governos estadual e federal, aumentando ainda mais seu desgaste nos setores populares.

Nesse contexto, quatro candidaturas se destacaram no processo eleitoral. As duas candidaturas governistas, Dário Saadi (Republicanos) e Rafa Zimbaldi (PL), com apoio de outros setores da direita, buscaram, com maior ou menor intensidade, o distanciamento da administração. Dário Saadi foi escolhido pelo prefeito, que indicou seu vice, enquanto Rafa Zimbaldi, rompendo de última hora com o governo, coligou-se com o PSDB, que indicou a vice-prefeita. Artur Orsi (PSD), quadro da direita local, buscou se aproximar do eleitorado bolsonarista, mas não se diferenciou programaticamente das demais candidaturas governistas. A única candidatura realmente oposicionista, que se destacou, foi a de Pedro Tourinho (PT), em aliança com o PSOL, que indicou Edilene Santana como vice-prefeita, com apoio do PCB, UP e Consulta Popular.

Os resultados foram os seguintes:

Dário Saadi (REP) e Rafa Zimbaldi (PL) foram os mais votados. Por uma margem muito pequena (1,37%) nosso candidato Pedro Tourinho não foi para o segundo turno. Para um balanço mais adequado, considerando o processo eleitoral nacional, é preciso

aguardar os resultados do segundo turno. Nesse sentido, como um balanço preliminar, observando aspectos locais, apontamos algumas questões importantes.

A primeira delas é que foi um acerto a indicação de Pedro Tourinho e Edilene Santana, que cumpriram com toda a disposição a tarefa de polarização política, de denúncia dos desmontes provocados pelos governos municipal, estadual e nacional das políticas sociais, do ataque aos direitos dos trabalhadores, das políticas neoliberais, a denúncia do que representavam as candidaturas governistas, a defesa contundente de nosso programa. Além disso, a coligação com o PSOL, que indicou a vice, com o PCB, UP e Consulta Popular foi correta, fortalecendo a construção de um bloco de esquerda em Campinas, em que pese a candidatura própria do PCdoB, que respeitamos.

Com essa estreita margem de 1% dos votos, todo detalhe e erros cometidos por nós podem servir de justificativas para não termos ido ao segundo turno. Poderíamos listar uma série de questões que, isoladamente, nos dariam as condições necessárias para um melhor desempenho: mais tempo de campanha a partir de uma definição prévia de nossa candidatura; maior engajamento de algumas candidaturas proporcionais e de setores do Partido; mais recursos materiais, entre outras. Mas, devemos também avaliar questões estruturais mais amplas, aquilo que esteve em nossa governabilidade e, com o cuidado necessário, refletirmos sobre nossas limitações e construirmos as condições de superá-las. O PT Campinas organizará um calendário de devolutiva do Pedro Tourinho nas diversas regiões de Campinas e um balanço do processo eleitoral após o segundo turno, momento para produzirmos um balanço mais detalhado. O PT Campinas, corretamente, não apoiará nenhuma das candidaturas e fará oposição ao próximo governo.

Outro elemento importante para análise foi a quantidade de abstenções (30,84%), nulos (11,86%) e brancos (7,6%) na eleição municipal, totalizando 50,3%. Nas condições de pandemia é difícil avaliar o que representam o cuidado do isolamento social e o descontentamento com a situação política geral. De toda forma, é possível indicar uma situação de deterioração em relação aos processos eleitorais e institucionais.

Em relação a Câmara Municipal, uma primeira evidência é o quadro de fragmentação de representação partidária: PSB (4), PL (4), PT (3), PSD (2), PSOL (2), DEM (2), PSC (2), Republicanos (2), Solidariedade (2), PSDB (1), PSL (1), PP (1), PV (1), PCdoB (1), Podemos (1), Cidadania (1), Avante (1), MDB (1), Novo (1). Essa composição indica uma predominância dos partidos de direita, uma aparente dificuldade no apoio ao próximo prefeito, que, evidentemente, pode ser contornada com a mesma política adotada pelo atual governo: o loteamento dos cargos comissionados e a composição do governo. Observe-se também o fortalecimento da representação feminina, principalmente pela esquerda, tendo inclusive a eleita pelo PSOL como a mais votada da cidade.

A bancada de esquerda ampliou sua representação: O PT aumentou de 2 para 3, o PSOL de 1 para 2, o PCdoB permaneceu com 1, totalizando 6 representações. Se de 2012 para 2016 tivemos uma queda brusca na votação proporcional do PT de 59.046 para 27.405 votos, em 2020 ampliamos para 33.788 votos, ainda longe de nosso melhor desempenho, mas pode indicar uma capacidade de recuperação de vínculos com nossa base social. O PSOL, em 2020, conquistou 28.297 votos e o PCdoB recebeu 11.360 votos.

A nova bancada do PT destaca-se também por ser composta em sua totalidade por três negros, sendo duas mulheres. Guida Calixto, Paolla e Cecílio representarão o PT na Câmara Municipal no lugar de Pedro Tourinho, candidato a prefeito, e Carlão, que não se reelegeu.

Por fim, como destaque final, a nossa candidata da AE, Guida Calixto, foi eleita a mais votada da bancada do PT. Isto foi resultado não só do acúmulo político da corrente, ponto de partida importante, mas graças a outros fatores: desempenho pessoal como militante sindical e partidária; envolvimento de outros setores do PT; militantes petistas sem vínculos orgânicos com tendências; e de uma base social diversificada, com destaque para os servidores municipais. Essa capacidade de ampliação foi fundamental para a conquista do mandato e para sua construção coletiva. Além disso, nossa campanha foi vermelha, petista, de defesa dos interesses da classe trabalhadora, construindo um ambiente político que agregou uma militância politizada e aguerrida, na contramão daqueles que buscaram esconder nossos símbolos e nossas bandeiras históricas. A defesa do PT, de uma sociedade mais justa e socialista, marcou a campanha.

(*) Leandro Eliel é professor é militante do PT Campinas e Margarida Calixto é funcionária pública, advogada e militante do PT Campinas


(**) Textos assinados não refletem, necessariamente, a opinião da tendência Articulação de Esquerda ou do Página 13.

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