Luiz Boneti vê a JPT muito distante da realidade da juventude brasileira no sentido da organização cotidiana

Natural de Pato Branco (PR), Luiz Boneti, de 25 anos, é o candidato da Juventude da AE à coordenação da JPT. Estudante do último ano do curso de Direito na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul, integra o Diretório Central dos Estudantes e atua na coordenação do Movimento Negro Unificado na cidade.
Filiou-se ao PT em 2019, ano em que fez trabalho de base para o PED. Em 2021, Boneti participou do Congresso da JPT, que, devido à pandemia, aconteceu em formato híbrido. Sua primeira disputa a cargos no Partido foi no PED 2025, quando foi o candidato da AE ao PT de Santa Maria (RS).
Na avaliação de Boneti, a JPT tem adotado “com muita força” diversos “vícios” que o PT tem hoje: “Então, ou a gente implementa uma cultura política diferente para a JPT, ou a gente a verá se esvair enquanto espaço, de fato, de formação e organização política da juventude brasileira. Nós entendemos que são esses processos, são essas questões que estão em jogo neste momento”.
Boneti considera que a “grande tarefa” da juventude do PT é conseguir fortalecer os núcleos nas bases. “A gente sempre teve essa premissa, essa concepção da JPT enquanto uma frente de massa para a juventude brasileira. E, efetivamente, a gente entende que ela, mais do que nunca, precisa representar isso.” O candidato da AE vê a JPT muito distante da realidade da juventude brasileira no sentido da organização cotidiana. “E nós defendemos que isso precisa mudar. [Queremos] uma juventude do PT com posição política, autonomia. Esse congresso foi marcado por uma interferência muito grande da própria presidência do PT nacional.” Boneti afirma que, para que a JPT seja respeitada dentro e fora do Partido, sua autonomia enquanto instância é “inegociável”.
O candidato acredita que outro grande desafio que o PT tem hoje é ampliar as filiações de juventude. “Mas também garantir que esse processo de filiação venha junto com o processo de formação política. Não apenas filiar, mas conseguir conduzir esse processo para garantir que a juventude queira realmente se organizar, estar atuando numa organização política coletiva. Então o processo da filiação, no nosso entendimento, tem que passar por isso. Agregar mais jovens, e mais jovens com formação para atuar de fato, para disseminar nas cidades, seja no movimento estudantil, no movimento comunitário, nas periferias, no movimento negro, na juventude LGBT, nas mulheres jovens, para nossa organização política, e não apenas crescer numericamente em filiações”.
Para ele, “a mudança de jeito, de rumo da juventude da JPT é justamente para garantir que a juventude volte a sentir orgulho, sentir vontade de militar dentro do PT. Porque as contradições estão postas, a forma que o partido tem funcionado, na verdade, mais afasta do que aproxima os jovens. A JPT precisa ser espaço para romper com essa lógica que está posta.”
JAE defende congresso bienal
O Congresso da Juventude do PT acontece de 12 a 14 de dezembro em Luziânia, Goiás. Trata-se de um congresso que funciona em três níveis. A etapa municipal terminou em 8 de novembro, e para cada quatro jovens que participaram do congresso municipal, elegeu-se um delegado à etapa estadual, que foi encerrada em 7 de dezembro. A mesma proporção é usada para a delegação nacional. Até o último congresso, a proporção era de três para um. Assim como nas demais fases, a etapa nacional é aberta a qualquer jovem filiado ou filiada do Partido, mas terão direito a voz e voto apenas os delegados e delegadas eleitos para a as delegações nacionais, que vão escolher a nova secretaria e a nova executiva. A quantidade de membros da executiva e o período de mandato serão definidos no congresso.
“Então, hoje, basicamente, está acontecendo um congresso a cada quatro anos, o que acaba sendo muito tempo para direções de juventude. Este congresso está oficializado como sexto, mas, na realidade, é o quinto, porque 2018 foi um congresso extraordinário. Não foi um congresso com tiragem de delegados e tal. Na realidade, a defesa que a gente sempre fez foi a de que os congressos acontecessem de dois em dois anos. No entanto, a lógica do PT realmente tomou conta da JPT.”
Delegada diz que congresso é insuficiente
A antecessora de Boneti na coordenação da JAE, a advogada mossoroense Ana Flávia Oliveira Barbosa de Lira, de 26 anos, critica a maneira como o Congresso foi organizado. “Foi um congresso pensado de forma muito atropelada. Tem que ter um debate muito conciso, aprofundado dentro das instâncias da Juventude do PT. E pelo que a gente tem visto de fraudes, das disputas internas entre a própria CNB, não vai ser um congresso que vai dar conta, de fato, de fazer os debates necessários que a Juventude do PT precisa”, opina.
Ana Flávia, que é secretária estadual da JPT no Rio Grande do Norte e delegada ao Congresso, defende um debate permanente sobre a juventude. “É um assunto que a gente vai precisar colocar como pauta prioritária não só na JAE, mas na AE, de fazer um debate permanente sobre isso. Porque a gente está naquele momento de que, se a gente não faz uma virada de chave, isso pode se acabar”.
A dirigente teme que tudo o que já se debateu nas últimas décadas se converta apenas em teoria. “Aquilo que [Rafael] Pops, que os que vieram antes da gente pensaram e tentaram construir, que não foi efetivado de fato, pode até virar um debate que está nas nossas resoluções e nos livros e que está ali guardado. Então esse debate permanente vai ser fundamental. A gente está disposto a construir isso, porque diz respeito à vida do nosso partido. Se a gente quer um partido centenário, milenar, que faça profundas transformações no nosso país, a gente vai ter que colocar esse debate como um centro do debate das instâncias partidárias. E, infelizmente, esse Congresso não vai ser capaz de colocar o debate como deve ser feito”.
A crítica de Ana Flávia se estende também aos critérios de participação e mobilização ao Congresso. “A gente tinha uma proporção no regimento e, passadas todas as etapas municipais, a gente tem o resultado de quantos delegados irão para as etapas estaduais. E aí a COE nacional e a Secretaria Nacional da JPT tiveram que rever a proporção do Congresso para adequar ao que Edinho [Silva, presidente nacional do PT] pediu – cerca de 800 jovens –, porque iria passar mais de mil jovens delegados nacionais. Então, veja que coisa. A gente vai para um Congresso que não é um Congresso extremamente mobilizado. E acaba que um modelo de conta de garrafa, de conta de delegados, de tentativas de consensos acima da política, acaba se sobrepondo à boa política, do debate, da divergência, dos balanços duros que precisam ser feitos”.
