Por Pedro Estevam da Rocha Pomar (*)
De 31 de janeiro a 4 de fevereiro, aconteceu a jornada de formação política Cloves Castro. Na noite de 1 de fevereiro, aconteceu uma homenagem ao Cloves. A homenagem foi aberta por falas de Ana Lidia e de Pedro Pomar, autor do texto a seguir.
Cloves Castro era um lutador social, e mais que isso, era um revolucionário. Cloves ingressou no PCB, então ainda Partido Comunista do Brasil, em 1959. Nele militou ativamente e nele permaneceu quando este mudou seus estatutos e passou a chamar-se Partido Comunista Brasileiro, em 1961. Mas em 1966 ou 1967 passou para a Dissidência (conhecida como DI), que iria se transformar na Ação Libertadora Nacional (ALN), um dos principais agrupamentos de oposição armada à Ditadura Militar, sob comando do ex-deputado constituinte Carlos Marighella e de Joaquim Câmara Ferreira. Cloves participou do setor de massas da ALN até ser preso, o que veio a ocorrer em princípios de 1970. Torturado pela Ditadura Militar, não passou informações nem desistiu da luta, pelo contrário.
Cloves retorna ao trabalho (na Legas Metal, então uma pequena empresa) e passa a militar na Oposição Metalúrgica de São Paulo. Destaca-se na histórica greve de 1978, que eclodiu em meio à disputa eleitoral no Sindicato dos Metalúrgicos, à época presidido por Joaquinzão, protótipo do peleguismo. A edição em DVD de “Braços Cruzados, Máquinas Paradas”, ótimo documentário de Roberto Gervitz, Sérgio Toledo e Aloysio Raulino, traz, além das imagens colhidas no calor da hora, depoimentos dos líderes dessa greve e das chapas 2 e 3 (de oposição), entre eles Cloves, feitos trinta anos depois. Cloves realça, em seu testemunho, a importância da unidade e da democracia nas experiências de 1978: “Quando se discutia a campanha salarial, nós discutíamos com todo mundo, e íamos para o Sindicato unidos. Unidos em todos os sentidos, inclusive na porrada”, isto é, a solidariedade também se expressava na autodefesa do grupo frente às agressões físicas.
No final da década de 1970, Cloves dedica-se ao projeto de fundação do Partido dos Trabalhadores e torna-se um militante petista de primeira linha. Tinha uma impressionante clareza sobre a dinâmica dos processos eleitorais e uma grande energia, que o levou a sair candidato a presidente do Diretório Municipal de São Paulo, no PED de 2019, aos 80 anos de idade, encabeçando a chapa da tendência petista Articulação de Esquerda, grupo em que pôde conjugar sua combatividade de militante de base com seus princípios marxistas aprendidos nos tempos do PCB, que sempre manteve.
Vale, aqui, lembrar o que disse Cloves ao avaliar em retrospectiva a experiência da Oposição Metalúrgica, com seus antigos companheiros Hélio Bombardi, Waldemar Rossi, José Pedro da Silva e Fernando do Ó: “Estamos bem com a nossa consciência, valeu a pena tudo que fizemos. Não enriquecemos. Não abandonamos a luta. E continuamos essa caminhada”.
Cloves de Castro, livreiro, ex-metalúrgico, militante do Partido dos Trabalhadores, sempre reivindicando-se comunista, partiu em 15 de novembro de 2020. Perdemos um grande companheiro, que nos deixa um formidável exemplo de luta e vitalidade revolucionária.
(*) Pedro Estevam da Rocha Pomar é jornalista, diretor sindical e militante petista.