Mariana Ghirelllo
No dia 27 de maio, os colombianos irão escolher o presidente que irá governar o país pelos próximos quatro anos. A disputa, por enquanto, está entre o candidato da extrema direita colombiana, o ex-senador Ivan Duque, seguido do ex-prefeito de Bogotá e candidato de centro-esquerda Gustavo Petro. A proximidade entre os candidatos, e um possível segundo turno, fez crescer os discursos que provocam medo e as campanhas de desinformação ou fakenews – utilizados no plebiscito para a paz em 2016.
Padrinho de Ivan Duque, o ex-presidente Álvaro Uribe Velez, pede votos: “digam não ao Castrochavismo, não deixem que Colômbia se torne uma Venezuela”. Os argumentos do ex-presidente são os mesmos utilizados na campanha do “não” no plebiscito que tinha como objetivo legitimar, através do voto popular, o acordo de paz entre o governo colombiano e a antiga guerrilha das FARC-EP. “Não deixe que Santos entregue o país para as FARC”, dizia aos seus seguidores.
Ganhou o não. O resultado do plebiscito provocou polêmica e o diretor da campanha vitoriosa feita pelo Centro Democrático, Juan Carlos Vélez, disse em entrevista ao jornal El Colombiano, “que queriam que as pessoas saíssem para votar verracas (enfurecidas)”. Inúmeras notícias falsas sobre o acordo foram compartilhadas a exaustão, desclassificando até a credibilidade da ONU (Organização das Nações Unidas). O Centro Democrático, por sua vez, alegava que era contra alguns pontos do acordo, e não contra a paz.
Com o slogan “Mão Firme, Coração Grande”, o partido Centro Democrático reúne hoje a maior parte dos setores conservadores colombianos como militares, religiosos e empresários. O plebiscito que tinha a intenção de calar a extrema direita acabou antecipando o período de campanha eleitoral, e eles arrancaram bem posicionados e fortalecidos.
Na corrida presidencial, eles foram um dos últimos partidos a apresentar seu candidato, ao mesmo tempo que a aliança que encabeça Petro. Os dois partidos realizaram, durante as eleições legislativas, consultas para eleger seus candidatos a presidência. Ivan Duque e Gustavo Petro ganharam as consultas com 4 milhões e 2,8 milhões de votos, respectivamente.
A carreira política de Ivan Duque se iniciou no Ministério da Fazenda como assessor, durante o governo do ex-presidente Andres Pastrana. Advogado, trabalhou por doze anos no BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), chegando a ser conselheiro e representante da Colômbia no banco internacional. Posteriormente, atuou como assessor internacional do ex-presidente Álvaro Uribe. Foi eleito senador em 2014 e se retirou do cargo para concorrer a presidência.
O discurso de Ivan Duque é mais moderado que o de seu padrinho Uribe, que chegou a falar em análises de concessões públicas de meios de comunicação caso Duque chegasse à presidência. Duque foi questionado sobre a fala de Uribe em uma entrevista à CNN espanhola durante uma visita em Washington, nos Estados Unidos. “Jamais censurei a liberdade de expressão e muito menos de imprensa, tenho capacidade de rir de mim mesmo”, disse Duque.
Esperança para a esquerda
O candidato que aparece em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto é um dos líderes da esquerda colombiana. Gustavo Petro nasceu na capital do país, mas sua família foi viver no departamento de Córdoba, e ainda criança se mudou para uma cidade chamada Zipaquirá, nos arredores de Bogotá. Nos três primeiros meses da campanha, ele era o favorito e se manteve em primeiro nas pesquisas de intenção de voto. Esta semana, uma nova pesquisa colocou Ivan Duque em primeiro.
Sua militância política começou quando ainda vivia em Zipaquirá. Lá foi eleito vereador (consejal) aos 24 anos e assumiu sua militância na antiga guerrilha urbana M-19 (Movimiento 19 de Abril), que se desmobilizou em um processo de paz, e participou da construção da Constituição colombiana de 1991, vigente até os dias atuais. Ainda que a direita o acuse de estar alinhado com uma esquerda ortodoxa, Petro representa a centro-esquerda colombiana.
Petro continuou a construir sua carreira política e foi eleito senador pelo partido Polo Democrático na legislatura de 2006-2010, e em 2012, chegou à prefeitura de Bogotá, onde cria seu próprio movimento, chamado Bogotá Humana. Seu mandato na prefeitura foi movimentado e ele chegou a ser destituído do cargo por uma decisão unilateral da Procuradoria Geral da Nação.
Na ocasião, a Procuradoria alegou que Petro colocava em risco a saúde dos bogotanos com uma mudança que fez na coleta do lixo. O projeto previa a reciclagem e a ocupação e treinamento de recicladores, e a mudança da empresa contratada para a recolecção do lixo. Mas o processo de mudança teve problemas e houve atraso na coleta de lixo em regiões de Bogotá.
O prefeito recorreu ao Judiciário colombiano e à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, e a Comissão ordenou o regresso do prefeito ao cargo. Posteriormente, o Conselho de Estado, órgão consultivo administrativo do governo, mandou indenizar os salários que ele deixou de receber com a destituição e a Corte Suprema confirmou a decisão.
A candidatura de Petro reúne muitos movimentos, como a UP (Unión Patriótica), Mais (Movimento Alternativa Indígena y Social), ASI (Alianza Social Independiente), Colombia Humana e Movimiento Progresistas, os dois últimos movimentos liderados pelo candidato. E seus comícios também contam com boa participação de público. Em uma de suas atividades de campanha, em Cúcuta, o carro onde estava recebeu um disparo, que só não atravessou o vidro porque o carro era blindado.
Para derrotar a maioria da direita, os candidatos de centro que possuem eleitores e apoio estão se unindo a outros para somar forças. Esta semana, o candidato que aparece em terceiro lugar, o matemático e professor universitário Sergio Fajardo, se reuniu com Humberto De La Calle, que pertenceu a equipe do governo de Juan Manuel Santos, na mesa de diálogos com as FARC-EP em Havana, Cuba, para discutir uma possível aliança.
Humberto de La Calle chegou a assumir que sua campanha eleitoral “não levantou voo”, e Fajardo, por sua vez, diz que só espera a resposta do outro candidato para firmar uma aliança. Fajardo já fez uma aliança com a antes candidata à presidência Claudia Lopez, que vem desempenhando um papel crítico aos uribistas e conservadores, e com uma grande campanha contra a corrupção. De La Calle, Fajardo e Claudia juntos poderiam disputar uma vaga no segundo turno.
Voto em Branco
Depois da publicação da prévia do cartão em papel de votação pelo CNE (Conselho Nacional Eleitoral), um partido provocou uma discussão porque não apresenta candidatos e se dizem “promotores do voto em branco”. O PRE (Partido de Reinvidicación Étnica) não deixa claro se deseja que os eleitores marquem o “x” no espaço correspondente ao voto para o partido ou se no espaço para votos em branco. O partido receberá verbas públicas, assim como os outros partidos, para fazer sua campanha.
O representante do partido Carlos Velásquez, em entrevista a Caracol Radio, disse que promovem o voto em branco porque “seria a única forma de despolarizar o país”. Segundo Velásquez, caso os votos em branco superem o número de votos que recebeu o candidato mais votado, teriam que fazer a eleição novamente, mas com outros candidatos.
Na Colômbia o voto não é obrigatório e a abstenção é uma das mais altas do continente. Com uma população de 47 milhões, quase 33 milhões de eleitores estariam aptos para votar, mas na última eleição presidencial apenas 13 milhões votaram no primeiro turno, e 15 milhões no segundo turno. Os votos brancos e nulos ficam ao redor de 1 milhão de votos. Para Velásquez, se eles conseguem superar 4% dos votos do presidente, “esta seria uma mensagem contundente ao eleitorado”.
Um dos primeiros a assumir a candidatura foi o ex-vice-presidente Vargas Lleras, do partido Cambio Radical. Ele deixou o cargo em março do ano passado, rompendo e criticando o atual presidente Juan Manuel Santos, e logo passou a receber atenção da imprensa. Ele chegou a aparecer em primeiro nas pesquisas que investigavam a aceitação de candidatos, hoje aparece em quinto lugar nas pesquisas de intenção de voto, depois de Ivan Duque, Gustavo Petro, Votos em Branco e Sergio Fajardo, em fevereiro de 2018.
Outra candidata de esquerda é a ex-senadora Piedad Córdoba, do Partido Poder Ciudadano Siglo XXI. Dentre os candidatos, ela representaria a candidatura mais a esquerda. Em seu site de campanha diz que “a esperança está no legado de Simón Bolívar, Manuelita Sáenz, Benkos Biohó, María Cano, Jorge Eliécer Gatián e Camilo Torres”. Ela conseguiu mais de um milhão e meio de assinaturas para inscrever sua candidatura no CNE.
Eleições legislativas
No dia 11 de março os colombianos elegeram seus congressistas. Apesar de grupos e movimentos progressistas e de esquerda terem conquistados novas cadeiras no legislativo, a direita segue tendo a maioria dos votos. E a novidade são as cinco cadeiras aos integrantes do novo partido FARC (Fuerza Alternativa Revolucionaria del Comum) na Câmara de Representantes e cinco no Senado por duas legislaturas, segundo o firmado no acordo de Havana.
Mariana Ghirelllo é jornalista.