Construir a alternativa popular e democrática para o RS

Por Júlio Quadros (*)

Ato da campanha de 2022, em Porto Alegre – Foto Ricardo Stuckert

Texto integrante da edição especial do jornal Página 13 – Rio Grande do Sul

O ciclo de hegemonia neoliberal no Rio Grande do Sul, iniciado por Sartori e aprofundado por Eduardo Leite, vive um momento de forte questionamento e existe a possibilidade de encerramento.

O fato é que a promessa feita por Sartori, e continuada por Leite, de que as privatizações de empresas gaúchas, ao lado de políticas de retirada de direitos dos servidores públicos, criariam uma poupança para alavancar um novo período de desenvolvimento para o Rio Grande do Sul, não se comprovou.

A peça orçamentária da LDO, enviada pelo governo do estado para a Assembleia Legislativa, prevê, para o ano de 2026, um déficit de R$ 3,5 bilhões. Além do descumprimento da vinculação dos 25% de Educação e dos 12% em Saúde, que são conquistas constitucionais. Tudo isso ocorre apesar de o estado estar livre de seus compromissos de pagamento de parcelas da dívida com a União por um período de 36 meses. E mesmo o Estado recebeu volumosos recursos, oriundos do governo federal, para o enfrentamento das causas e consequências da crise climática e da trágica inundação em 2024.

E agora, no encerramento de 2025, querem criar 58 novos pedágios no RS, mostrando mais uma vez de que lado estão e com quem querem construir o futuro.

Alias, não é a primeira vez que este ideário neoliberal dirige o rumo dos gaúchos. Na primeira oportunidade foi nos anos 1990, com Antonio Britto, que entregou a telefonia, parte da área de energia e assinou o péssimo acordo de dívida com a União. Esta tentativa foi interrompida pela vitória de Olivio Dutra e da Frente Popular em 1998.

O segundo momento de hegemonia neoliberal foi com Yeda Crusius, que seguiu na toada de retirada dos direitos e conquistas do serviço público estadual. Esta segunda tentativa foi interrompida pela vitória de Tarso Genro e da Frente Popular em 2010.

Agora vivemos um terceiro período de implementação do neoliberalismo, o mais longo e mais desastroso de todos, pois terminou de entregar o que restava de energia pública, privatizou-se o bem maior, a nossa água, acabou-se com fundações que produziam inteligência pública e negligenciou-se de vez a importância da saúde, educação e segurança pública.

Agora é hora de interrompermos este terceiro ciclo.

Portanto, o centro da disputa tática no Rio Grande do Sul é construir uma significativa vitória de Lula no estado e retomar o rumo dos gaúchos para um projeto democrático e popular, que retome as experiências de participação direta e apoie, de forma prioritária, a classe trabalhadora e os pequenos e médios produtores do campo e da cidade.

Considerando que esta é nossa tática para o período, não devemos fazer nenhum aceno, especialmente no primeiro turno, em direção a um programa ou às lideranças políticas que sustentaram este projeto nos últimos 10 anos.

Ao contrário, devemos produzir uma síntese na sociedade de julgamento deste modelo, da sua inviabilidade e de que somente um programa e um campo de alianças com características democráticas, populares e trabalhistas são capazes de superar este momento.

Assim, também afirmaremos que a superação deste modelo não deve ser com base numa alternativa conservadora, excludente e autoritária típica da extrema direita, de seus partidos e de seus programas.

Compreendemos como estratégico o movimento feito pelo PT gaúcho de constituição da Mesa do Lula, reunindo 8 partidos: PT, PDT, PCdoB, PSB, PSOL, PV, Rede e Avante. Este é o núcleo da base aliada capaz de oferecer no estado a defesa do nosso governo federal e a efetivação de uma campanha capaz de polarizar com a extrema direita e, ao mesmo tempo, estancar discursos e acordos com o neoliberalismo.

No caso do Rio Grande do Sul, devemos reunir a base política no primeiro turno e, se isso não for possível, no segundo turno, com o objetivo de pôr fim ao atual ciclo de neoliberalismo em terras gaúchas, demonstrar que somos a alternativa política capaz de polarizar e derrotar a extrema direita.

Vamos construir as condições para a retomada de um projeto popular no estado do Rio Grande do Sul, alinhado com as diretrizes do Brasil de Lula.

(*) Júlio Quadros é membro da executiva estadual e do diretório nacional do PT

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *