Fausto Antonio*
A natureza do sistema racista existente no Brasil empiriciza, de modo inseparável, a tríade raça, classe e gênero. As categorias de análise, inseparáveis na realidade concreta, histórica e espacial, revelam contradições; dentre elas, os privilégios das mulheres brancas que ocupam, no Brasil, imediatamente abaixo dos homens brancos, todos os espaços de mando financeiro, imagético e de representação.
Os dados de agências de pesquisas diversas dizem, de modo claro, que as mulheres brancas ganham mais do que os homens negros e ocupam posições de mando e comando em profusão. O sistema televisivo brasileiro é emblemático a propósito dos privilégios imagéticos e de representação, que derivam da centralidade das desigualdades raciais, do racismo e da sua naturalização. A superação do racismo é o motor central para a organização de negr@s e dos trabalhadores (as).
A superação do racismo, produzido pela inseparabilidade de raça-classe e gênero, é exigência ímpar e impostergável. É ímpar pela conjugação do passado e do presente brasileiro produzido primeiro, nos 4 séculos de trabalho escravizado e, segundo e pós 13 de maio de 1888, pela institucionalização e igualmente estruturação do sistema racista, que vigora até os dias atuais e tem no seu núcleo a branquitude no comando de todos os sistemas de poder, no genocídio de jovens negros e no espistemicício e/ou invisibilidade teórica e intelectual negra.
O Epistemicídio não se limita à produção acadêmica, o processo e projeto de apagamento teórico é nuclear para a manutenção do racismo em todos os níveis, escalas e escalões do país. Não é por outra razão que a superação do racismo fica fora das costumeiras e frouxas análises de conjuntura. Aqui, negritando agências e localizações negras, a análise ou o esboço da conjuntura passa pela compreensão dos significados retrospectivos dos 4 séculos de trabalho escravizado e o seu lugar em todas as instituições brasileiras e, no mesmo movimento , a análise passa pela atualização prospectiva desse processo materializado pelo sistema racista à brasileira pós 13/05/1888 e conjunturalmente mobilizado pelas elites brancas e racistas no Golpe de Estado de 2016 , na prisão do presidente Lula, na violência policial contra negros, na exclusão negra do poder e da cidadania e na fraude eleitoral de 2018. A propósito dessa delimitação, fiz vários artigos discutindo a natureza racista, isto é, branca, do Golpe iniciado entre 2013 e 2016 e em curso na atualidade brasileira. O método aqui proposto traz o processo estrutural da sociedade racista brasileira para o projeto de organização de negr@s e dos trabalhadores (as). O método considera, não é uma limitação, a superação das desigualdades raciais e/ou do racismo como motor central para a superação, no Brasil, do capitalismo. A cor da classe dominante e golpista é um dado indispensável para a organização de negr@s e dos trabalhadores (as).
Desse modo, à guia de revelar a natureza do golpe , é fundamental compreender o papel do bloco de poder formado pela classe média e elite brancas brasileiras. Para facilitar o entendimento, gosto de caracterizar, a partir da cor ou raça da classe dominante nacional, o golpe como produção das elites e classe média brancas, racistas, fascistas, bocais, saqueadoras, entreguistas e perversas brasileiras. O capitalismo existente no Brasil é fruto, principalmente, da dinâmica dos 4 séculos de trabalho escravizado e da sua permanente atualização pelo sistema racista produzido pós 13 de maio de 1888. O golpe em marcha no páis, coalhado , é um pleonasmo, de generais brancos à moda de Castelo Branco, Costa e Silva, Geisel , Médici e João Batista Figueiredo e outros de 1964, empiriciza, nos sistemas estruturais da sociedade brasileira, a branquitude e a racialização que é totalitária no sistema judiciário, é exemplar o STF de juristas exclusivamente brancos, e igualmente no financeiro, econômico, parlamentar, militar, policial, televisivo e acadêmico.
A luta contra o racismo é a luta para superar, a partir da organização de negr@s e dos trabalhadores (as), os privilégios aos brancos (as) assegurados e estruturados pelas instituição brasileiras. Não há, na conjuntura atual, possibilidade de organização para a superação do capitalismo sem a superação do racismo, ou seja, sem uma estrutural e substantiva derrota dos privilégios historicamente materializados e naturalizados para a branquitude brasileira. A exigência tática brada, sem redução aos processos eleitorais, por uma organização em todos os níveis da sociedade. Dentro desses limites, com ênfase especial, teríamos um processo organizativo radical nos movimentos sociais negros , de mulheres negras, LGBTT, MST, sindical, estudantil, Jovens negr@s, movimentos culturais negro-brasileiros como MCHH, entre tantos outros, populares, partidos à esquerda, CUT, igrejas e sistemas umbanda e candomblé.
Visando a um processo de hegemonia antirracismo, o movimento, centralizado na convulsão das ruas e dos lugares negros e populares, é artefato político na escala tática para derrotar o golpe branco e, no mesmo movimento, é processo estratégico para a superação do racismo estrutural e institucional. Desse modo, é fundamental a ação conjunta e coordenada dos movimentos negros e do antirracismo, o processo e/ou projeto político deve articular intervenções e processos de luta contra o golpe branco iconizado pelo impedimento da presidenta Dilma , prisão de Lula e eleição fraudulenta do governo racista e fascista de Bolsonaro. Os três dados conjunturais, golpe de 2016, prisão de Lula e governo explicitamente racista e fascista, atualizaram a conjugação dinâmica das bases estruturais dos 4 séculos de trabalho escravizado e os 131 anos de pleno funcionamento do sistema racista à brasileira.
*Fausto Antonio é escritor negro-brasileiro, publica nos Cadernos Negros é professor da Unilab – Malês , Bahia