Dados da economia divulgados pelo IBGE são incapazes de demonstrar melhora consistente pelo lado real e efetivo da sociedade brasileira. O ano de 2018 será de definições inadiáveis
Por Márcio Pochmann*
Na semana que passou, o IBGE confirmou que a economia brasileira, após dois anos de encolhimento acumulado de 7% do Produto Interno Bruto (PIB), voltou a crescer 1%. Essa constatação positiva, todavia, não resulta da adoção da política econômica neoliberal executada pelo governo Temer.
Isso porque a chegada da nova equipe econômica, em decorrência do afastamento da presidenta Rousseff, terminou por postergar a recessão para o segundo semestre de 2016. No ano passado, a expansão do PIB deveu-se fundamentalmente ao ótimo desempenho da safra agrícola, responsável pelo crescimento de 13% do setor primário da economia, uma vez que a indústria simplesmente não cresceu e o setor de serviços somente aumentou em 0,3%.
Sem o êxito da safra agrícola, o PIB teria sido elevado em apenas 0,3% no ano de 2017, mesmo assim estimulado pelo setor de serviços, que se se moveu lentamente em função das medidas antiliberais contraditoriamente tomadas pelo governo Temer, de liberação de renda para o consumo da população (FGTS e outras iniciativas).
Mantida a atual política antipovo do governo Temer, a economia brasileira dificilmente poderá colher horizonte sustentável de crescimento da produção, emprego e renda.
Ademais, cabe ressaltar que a tímida recuperação econômica do ano passado voltou a confirmar o problema estrutural revelado a partir da crise global de 2008. Ou seja, o vazamento para o exterior dos acréscimos de renda gerados pela elevação do PIB.
No ano de 2017, por exemplo, as importações aumentaram 5% ante a expansão de 5,2% das exportações, o que permitiu, ainda, garantir o superávit no comércio externo. Mas a continuar o ritmo acelerado de expansão das importações em função da recuperação do PIB, parte significativa da força de demanda interna será atendida cada vez mais por oferta proveniente do exterior, sobretudo de manufatura.
Recoloca-se, nesse sentido, a temática da reindustrialização. Especialmente porque em 2017, os investimentos continuaram a decair, levando a taxa de Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) ao nível mais baixo, o que contrai a capacidade de produzir e a distancia da trajetória de expansão do PIB.
Para piorar, as medidas recentes do governo Trump nos campos tributários e do comércio externo, como a taxação do aço, tendem a comprometer parcelas das exportações brasileiras, cada vez mais dependentes de setores não manufaturados. Sem o retorno da ênfase nas forças do mercado interno, a economia brasileira tende a seguir vulnerável e apática, por mais que os analistas do mercado financeiro e comentaristas midiáticos procurem esconder.
Inequivocamente, os dados da economia divulgados pelo IBGE fornecem elementos propagandistas aos golpistas de plantão, porém incapazes de demonstrar melhora consistente pelo lado real e efetivo da sociedade brasileira. Diante disso, a saída da recessão de 2015 e 2016 parece revelar uma economia com setor industrial ainda menor, cada vez mais dependente das exportações de produtos primários e de estímulos governamentais de renda para motivar pontualmente os serviços.
A substituição da política econômica neoliberal pelo projeto desenvolvimentista em novas bases constitui tarefa premente de todos que acreditam em um outro país possível. O ano de 2018 será, portanto, o de definições inadiáveis.
* Marcio Pochmann é professor do Instituto de Economia e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (Cesit), ambos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
Fonte: Rede Brasil Atual