Por Ismael César (*)
Estive em Cuba entre os dias 22 a 28/ julho de 2025, acompanhado do jornalista Pedro César Batista, numa agenda intensa e marcante. Visitamos hospitais, museus, o Centro Fidel Castro Ruz, dialogamos com autoridades e, principalmente, caminhamos pelas ruas de Havana, sentindo de perto o pulsar do povo cubano. Tivemos ainda a honra de participar das celebrações do 26 de julho – Dia da Rebeldia Nacional, data que marca a histórica tentativa de tomada do Quartel de Moncada por Fidel Castro e seus companheiros em 1953.
Voltar à Ilha após mais de uma década foi também encarar uma realidade mais dura. A situação econômica se agravou de forma visível desde minha última visita em 2014. A escassez de alimentos, combustíveis, medicamentos e produtos básicos é evidente. No entanto, o que se revela com ainda mais força é o impacto devastador do bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos desde 1962 — um cerco cruel que asfixia um povo por sua escolha soberana de construir um caminho próprio.
Mas Cuba é, sobretudo, resistência. Uma resistência que nasce da consciência política e da profunda solidariedade do povo. Em cada esquina, encontramos gestos de ajuda mútua. As pessoas se apoiam, compartilham o pouco que têm, e mantêm viva uma chama que ilumina o ideal de um mundo mais justo. Como dizem por lá: “não dividimos o que nos sobra, dividimos o que temos”.
Desde 1992, a Assembleia Geral da ONU aprova — ano após ano — resoluções exigindo o fim do bloqueio. Nenhuma delas foi respeitada pelos EUA. Pelo contrário, no governo Trump, o cerco se intensificou com a inclusão de Cuba na lista de países que supostamente patrocinam o terrorismo, a proibição de remessas financeiras e novas restrições ao turismo.
Cuba é punida por resistir ao modelo neoliberal que naturaliza a exploração, promove guerras, alimenta o lucro acima da vida e sustenta-se pela exclusão de milhões. O exemplo cubano incomoda porque mostra que é possível organizar a sociedade a partir de valores coletivos, centrados na dignidade, saúde, educação, cultura e soberania.
Mesmo com todas as dificuldades, Cuba não deixou de estender a mão ao mundo. Enviou médicos a dezenas de países durante a pandemia da Covid-19. Foi solidária com o povo do Haiti, com os países africanos, com os palestinos e tantos outros. A revolução cubana não é apenas um projeto nacional — é um símbolo global de dignidade e esperança.
Diante disso, é urgente multiplicar Comitês de Solidariedade a Cuba em todo o Brasil. Reafirmar o compromisso com a 28 Conferência Nacional de Solidariedade com Cuba, a ser realizada em Brasília, em 2027.
É preciso que cada sindicato, cada movimento social, cada entidade progressista assuma a responsabilidade de denunciar o bloqueio e exigir do Estado brasileiro ações efetivas de cooperação, como a suspensão da dívida cubana com o Brasil e o envio de ajuda humanitária.
O imperialismo precisa destruir Cuba para seguir impondo sua hegemonia de exploração. Mas nós, trabalhadores e trabalhadoras do mundo, devemos fazer o oposto: fortalecer Cuba para que floresça a certeza de que outro mundo é possível, um mundo de seres livres e iguais, de justiça, paz e solidariedade entre os povos.
(*) Ismael Jose Cesar é Executiva Nacional da CUT – Brasil