É chegada a hora de pôr fim às ilusões

Por Coletivo LGBTQIA+ da AE

Texto publicado Boletim LBGTQIA+ da Tendência Petista Articulação de Esquerda de fevereiro

O rebaixamento político-programático sofrido nos últimos anos pela esquerda latino-americana, inclusive nosso Partido, se deu, entre outras várias razões, pelo predomínio de uma visão de mundo segundo a qual: ou não é possível superar o capitalismo; ou, ainda que seja possível, é algo tão absolutamente distante de se realizar, que mal valeria a pena lutar por isso aqui e agora.

Esta visão de mundo rebaixada levou muitos militantes (agora convertidos em “ativistas”), especialmente negros e negras, LGBTs, mulheres, etc., a acreditar que nosso horizonte político se encerraria diante da possibilidade de termos maior “representatividade”, o que quase sempre significou ocupar postos de trabalho e/ou de destaque na política institucional que historicamente pertenceram à classe média branca, especialmente homens heterossexuais representantes da burguesia.

Ao alcançar estas posições, ainda que em proporção bastante reduzida, já que grande parte dos postos de maior prestígio social e melhores salários seguiram ocupados pelos mesmos de sempre, uma parte de nós acreditou que teria chegado ao topo. “A favela venceu”, convencionou-se dizer, ainda que, de um modo geral, a favela continuasse sua batalha cotidiana pela sobrevivência, na sua luta contra a violência policial e pela garantia dos direitos mais básicos aos quais ainda hoje não tem acesso.

Em muitas organizações de esquerda, a grande questão passou a ser se pessoas negras, LGBTs, mulheres, etc. estavam representadas nos espaços de direção, não importando muito se a política defendida seria insuficiente para nos fazer trilhar o caminho rumo ao poder real da classe trabalhadora e a transformação radical da sociedade.

De certo modo, a ilusão de acreditar que o fato de uma pequena parte de nós ocupar espaços que nunca nos pertenceram, em si, aponta para uma transformação mais ampla, está inserida no contexto da ilusão maior que terminou prevalecendo entre amplos setores da esquerda e da classe trabalhadora organizada que acreditaram que poderíamos cumprir bem a função de gerir o Estado burguês (função esta que, diga-se de passagem, os representantes da burguesia fazem muito melhor) sem que isso levasse a uma contundente reação da classe dominante.

Na atual quadra histórica, em que os países imperialistas promovem suas guerras mundo adentro, em que a concentração de renda e riqueza atinge níveis sem precedentes e em que o controle policial e a vigilância social são alarmantes, impõe-se à classe trabalhadora organizada, em especial às mulheres, negros/as e LGBTs, a urgente necessidade de superação de toda e qualquer ilusão sobre representatividade pura e simples, que jamais nos permitirá construir uma sociedade onde o povo trabalhador detenha o poder, decidindo como, quando e o que produzir com base em suas necessidades reais e rompendo, em definitivo, com a insustentável lógica da produção para garantir os lucros de poucos. ★

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