Por Valter Pomar (*)
O companheiro Edinho Silva, candidato à presidência nacional do PT, acaba de dar entrevista ao Opera Mundi.
Ele teve bons momentos na entrevista, destacadamente sua trajetória nas pastorais, sua posição sobre o chamado identitarismo e sua crítica ao modelo hegemônico de segurança pública (que ele não disse, mas é o vigente por exemplo no estado da Bahia, governado hoje e anteriormente governado por três apoiadores dele).
A entrevista também teve momentos muito constrangedores, como sua posição acerca das eleições na Venezuela e da entrada da Venezuela nos BRICS. Aliás, constrangedores não apenas pelo mérito, mas também pela forma: ficou visivelmente irritado por ser tirado da zona de conforto.
Mas o que me assustou foi certa falta de memória, tanto no tema do socialismo quanto no tema da foto de Lula com Bolsonaro.
Sobre o tema “socialismo”, Edinho disse que tem falado do assunto em seus discursos país afora. Não sabia, muito antes pelo contrário, espero que alguma alma boa me envie a prova. De toda forma, recomendo a Edinho que faça uma emenda no manifesto de sua candidatura. Pois lá a palavra socialismo simplesmente não consta.
Agora, sobre o tema “foto de Lula com Bolsonaro”, Edinho primeiro tergiversou e depois deu uma versão incorreta sobre o ocorrido.
Para quem não lembra, transcrevo abaixo trecho de um texto publicado neste blog e disponível aqui:
https://valterpomar.blogspot.com/2025/03/edinho-e-foto-com-bolsonaro.html
Os bastidores não sei, só sei que foi publicado assim no UOL dia 4/11/2022: Edinho disse que “o presidente Lula tem que tomar posse no ambiente de estabilidade institucional. Temos que criar as condições para tanto. Eu defendo que se abra um amplo diálogo com as próprias forças que foram derrotadas (…) Isso não é sequer consenso no meu partido, mas é a minha posição. Se existiu uma foto de Fernando Henrique e Lula na transição de 2002, por que nós não podemos construir essa foto agora com Bolsonaro e Lula, mostrando ao país que existe uma transição madura, adulta, dentro de um ambiente democrático? Isso seria um gesto que efetivamente baixaria a temperatura do Brasil”.
Edinho comparou esta sua proposta com o que supostamente teria sido feito pelo “ex-chanceler alemão Konrad Adenauer, [que] quando foi empossado, se encontrou com lideranças do nazismo para depois destruir o nazismo. Do ponto de vista histórico, o encontro Lula e Bolsonaro pode ser importante e não significa nenhuma concessão”.
Na história que estudei, Adenauer não “destruiu o nazismo”, muito antes pelo contrário. Mas o mais importante é que – como ficou demonstrado pelas investigações do STF – no momento em que Edinho queria fazer uma foto, Bolsonaro e os seus estavam (como seguem estando) numa vibe pouco amigável, digamos assim.
Edinho aprendeu a lição? Pela ênfase beirando a temerosa que ele dá ao fascismo, pareceria que sim. Mas suas declarações acerca da “polarização” & outros assuntos mostram que ele segue não entendendo que para “destruir o nazismo” é preciso um partido para tempos de guerra, onde ninguém ache boa ideia fazer selfie com fascista.
O artigo citado pode ser lido aqui:
(*) Valter Pomar é professor e membro do diretório nacional do PT