Eleições 2024: como perder por “WO”

Por Lucas Rafael Chianello (*)

O PT decidiu que, para cidades com mais de 100 mil eleitores, a palavra final sobre a candidatura majoritária seria da Comissão Executiva Nacional.

Poços de Caldas, maior cidade do sul de Minas Gerais, onde, em 1979, decidiu-se pela fundação do PT (conforme relatado por Fernando Morais na biografia sobre Lula), possui mais de 100 mil eleitores e já teve dois governos do PT: 2001-2004, com Paulo Tadeu, e 2013-2016, com Eloisio Lourenço.

Para as eleições do presente ano, quatro pré-candidaturas a prefeito foram anunciadas pelo Diretório Municipal: Tiago Mafra, professor; Diney Lenon, único vereador petista na cidade atualmente, num legislativo de 15 cadeiras; Cacá D´Arcádia, então advogada do partido; e do próprio Paulo Tadeu, atual presidente municipal.

Ainda em 2023, Tiago Mafra retirou seu nome; depois, Diney Lenon reafirmou sua pré-candidatura à reeleição a vereador e, às vésperas das convenções partidárias, Cacá D´Arcadia decidiu por tentar uma vaga na Câmara Municipal.

Assim, Paulo Tadeu foi ratificado como pré-candidato a prefeito.

Eloisio Lourenço decidiu por sair do PT para o PSB em 2019 (deixando várias pendências em prestações de contas eleitorais do tempo em que foi secretário de finanças), foi candidato a prefeito em 2020, em contexto de pandemia, e, numa cidade que esteve entre as 10 maiores abstenções do país, obteve cerca de 8 mil votos num colégio eleitoral de cerca de 120 mil eleitores.

Tanto ele quanto Paulo Tadeu integravam a base do deputado federal Odair Cunha, que sempre soube da intenção do PT poços-caldense de lançar uma candidatura a prefeito, enquanto, após as eleições presidenciais, Eloisio Lourenço se colocou como pré-candidato e propagandeava a receita de que se juntos as coisas já seriam difíceis, pulverizados, com certeza, perderíamos.

No âmbito do Comitê Popular de Luta local, que mais funcionou como uma instância suprapartidária de apoio a Lula, foi feita a proposta de se fazer sondagens para se chegar na conclusão de qual seria a candidatura mais viável, metodologia que Eloisio não aceitou para continuar sua pré-campanha.

Uma vez decidido pelo PT local que Paulo Tadeu seria o pré-candidato a prefeito e comunicadas as instâncias superiores da decisão, a CEN aprovou o nome de Eloisio Lourenço como o candidato a ser apoiado pelo PT, por indicação do deputado federal Odair Cunha.

O diretório poços-caldense interpôs seu recurso ao Diretório Nacional; no dia 18 de julho, Paulo Tadeu defendeu a reversão da decisão, enquanto Gleide Andrade e Odair Cunha defenderam a manutenção do apoio a Eloisio, o que foi ratificado por uma maioria de 41 a 24 votos no Diretório Nacional e 2 abstenções.

O caso de Poços de Caldas não foi único no Diretório Nacional e reflete o ápice de uma danosa prática: das decisões políticas se darem pelos mandatos e não pelas instâncias partidárias.

Tamanha foi a comoção com o ocorrido em Poços de Caldas que, em pouco tempo, nos chegaram notícias de o mesmo procedimento ter ocorrido em outras cidades, tanto do Sul de Minas como de outras regiões: Varginha (outro significativo colégio eleitoral, onde o PT já foi eleito e reeleito), Guaranésia e Ipatinga, de ímpar experiência petista.

E a informação que nos chega é a mesma: prevaleceu o entendimento de determinado mandato de que nessas cidades o melhor seria apoiar um candidato de outro partido.

Feita em Poços de Caldas a pré-convenção eleitoral que aprovou os nomes à vereança, decidiu-se que, após as eleições, o diretório irá se articular com os demais da região para iniciar um movimento contra o modelo partidário de corporação de mandatos, pois estes pertencem ao partido e não o contrário e, quando as decisões políticas se dão pelo interesse primeiro dos mandatos, privilegia-se um mandatário (indivíduo) ao invés de se dar sentido à luta política social e coletiva.

Até lá, nessas cidades, a luta eleitoral se restringirá à eleição apenas para o legislativo, o que ceifa a possibilidade de se ter nelas agentes governamentais petistas que reforcem, localmente, a necessidade de Lula continuar na presidência em 2026.

Como medir a avaliação do governo Lula nos municípios durante as eleições sem candidaturas petistas a serem votadas?

Sem candidaturas petistas a prefeito a serem defendidas, a avaliação das eleições municipais já está feita: a imposição do modelo partidário do tipo “mandatos corporação” levou ao paradoxo da derrota do PT por “WO” por mandatários do próprio partido.

(*) Lucas Rafael Chianello é membro do Diretório Municipal de Poços de Caldas; está organizado na AE-MG.

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