Por Valter Pomar (*)
O companheiro Eloi Pietá formalizou, no dia 23/1/2024, sua desfiliação do PT.
O motivo declarado por ele, em conversa comigo, conversa mantida na reunião que o DN do PT fez em 8 de dezembro de 2023, foi a decisão do DN sobre a candidatura do PT à prefeitura de Guarulhos.
Para quem não está informado: o estatuto do PT estabelece que as candidaturas majoritárias são decididas, quando não há consenso, ou via prévias ou via encontro municipal.
Apesar de ser uma regra estatutária, o Diretório Nacional alterou esta regra, tornando possível que um Diretório Municipal decida por maioria qualificada.
Um detalhe importante: os atuais Diretórios Municipais foram eleitos em 2019. A eleição prevista para 2023 foi prorrogada para 2025. E, no lugar da eleição de novos diretórios, foi feita uma recomposição que nem de longe garante que os atuais diretórios expressem o pensamento médio da base do Partido.
A nova regra – a meu juízo, antiestatutária e antidemocrática- parece ter sido feita sob encomenda para garantir que o candidato a prefeito em Guarulhos não fosse Eloi, que já foi prefeito da cidade e que lidera algumas pesquisas de opinião.
Eloi disse que aceitaria uma derrota e apoiaria outro candidato petista, se esta derrota fosse produto de uma votação democrática. Mas não aceitava uma derrota “no tapetão”.
Acrescentou, se a memória não me trai, que a situação política de Guarulhos é terrível, que ele tem chances de ganhar as eleições, que ele deve isso ao povo da sua (dele) cidade, acrescentando algo do tipo ser esta a “última chance” dele poder contribuir desta maneira.
Eloi disse, ainda, que – vitorioso – poderá contribuir, futuramente, para a renovação do Partido. Renovação que ele acredita bloqueada pelo “controle burocrático” que alguns mantém sobre as direções partidárias.
O que respondi a Eloi foi, muito resumidamente, que embora concorde que foi cometida uma violência, não concordo com entrar na justiça (o que Eloi fez) e também não concordo em sair do Partido.
Não concordo, entre muitos outros motivos, porque este tipo de reação – justiça e desfiliação, com promessa de regresso posterior – trata o Partido como uma legenda eleitoral, como muitas outras que existem no país. Legenda na qual se entra e da qual se sai por motivos eleitorais.
Ou seja: contra os que – em nossa opinião – tratam o PT como uma legenda, se adota um suposto “remédio” que também trata o PT como uma legenda.
O resultado final deste tipo de operação não é “acumular forças fora, para ajudar a mudar o PT”, como parece acreditar Elói. O resultado é reforçar o eleitoralismo.
Vale lembrar que a “crença no retorno” se alimenta do fato de que outros fizeram este percurso de sair-e-voltar: Coutinho, Cartaxo, Freixo etc.
E além dos que já fizeram, há outras pessoas que pretendem fazer o mesmo, como é o caso de Marta, com o agravante de que os danos causados por ela foram infinitamente maiores.
Devido aos casos acima citados, não duvido de que – em caso de vitória – os mesmos que atropelaram o estatuto em 2024 e não concordaram com a candidatura de Eloi, amanhã o recebam de braços abertos. Mas, mesmo que isto viesse a acontecer, seria uma vitória do eleitoralismo e uma desmoralização do Partido, como se fosse verdade que “o crime compensa”.
Sem falar no seguinte: pelo menos até hoje, todo mundo que saiu do PT, alegando as mais elevadas razões e motivos supostamente de esquerda, na prática apenas contribuiu para reforçar o status quo interno.
Por isto tudo, qualquer que seja o efeito eleitoral da decisão de Elói, o efeito partidário já é e continuará sendo negativo. Assim sendo, embora pessoalmente o siga estimando, não lhe desejo nenhuma sorte nesta empreitada em que se meteu.
(*) Valter Pomar é professor e membro do diretório nacional do PT