Por Articulação de Esquerda – MA
Felipe Camarão (ao microfone)
O PT cumpriu um papel fundamental até aqui na organização da luta da classe trabalhadora do Brasil, o que o levou a conquista de diversos espaços institucionais, inclusive ao governo do país. No entanto, o caminho desde sua origem como partido que nasce com o ímpeto revolucionário buscando dar finalmente independência política à classe trabalhadora frente as demais forças políticas presentes (a maioria das quais burguesas) sofre uma inflexão nos anos 1990 à direita e à moderação, deixando de priorizar a luta social e a organização da classe dentro do horizonte socialista e de luta de classes, impactado pelo queda do socialismo real no leste europeu e pelo processo de flexibilização das relações de trabalho, produzindo o desemprego estrutural e uma nova classe trabalhadora precarizada e fora das organizações tradicionais de representação, os sindicatos.
Tal inflexão leva o partido a priorizar a conquista de espaços institucionais, visando principalmente aos governos. Assim, chegamos em 2002 com uma grande vitória fruto do acúmulo de duas décadas de lutas, elegendo 91 deputados/as federais e o presidente da República, mas com um programa de conciliação de classes, prometendo “cumprir os contratos” e colocando em prática um programa de políticas públicas de melhoria da vida do povo, combate à fome e ao desemprego, mas que não realizou reformas estruturais, não inverteu o processo de financeirização e desindustrialização.
Por outro lado, o partido perde influência junto à classe trabalhadora ao tempo que cumpre um papel de correia de transmissão do governo. Isso se dá também com as principais representações de nossa base social, principalmente a UNE e a CUT. Poucos movimentos atuaram criticamente, como o MST, o MTST e o movimento de moradia. Tudo isso leva o PT a intensificar uma política de alianças nos processos eleitorais cada vez mais ampla, buscando nos setores conservadores sustentação e governabilidade quase exclusiva no Congresso e não nos movimentos sociais e populares.
O golpe de 2016 é fruto disso. Golpe continuado com a prisão e interdição de Lula em 2018.
13 anos de políticas públicas foram varridos em um curto período de Temer e Bolsonaro (2016-2021), o que diz muito da fragilidade de tais políticas, que serviram para melhorar a vida do povo, mas não abalou estrutura de riqueza, renda e propriedade do país. Nem mesmo abalou a estrutura de poder das principais instituições (Congresso, Judiciário, FFAA, mídia etc.).
No momento, as forças conservadoras seguem unidas fazendo passar a boiada e se preparando para dar continuidade ao bolsonarismo, com ou sem Bolsonaro, a partir de 2023, dando sequência ao golpismo que vigora desde 2016. Não será fácil, pois a polarização política segue com Lula ganhando força nas pesquisas e o Fora Bolsonaro nas ruas.
O Maranhão pós-Sarney
Se são frágeis as políticas públicas de caráter nacional de 13 anos de governos de coalizão comandados pelo PT, muito mais limitadas são as possibilidades no âmbito estadual, principalmente em se tratando de estado tão pauperizado e fortemente rural como é o caso do Maranhão. Ainda mais em apenas dois mandatos ainda incompletos do governador Flávio Dino.
Os avanços obtidos pelo governo do Estado correm agora o risco de serem dissipados em vista das possibilidades político-eleitorais colocadas. Deixando de lado, por enquanto, a candidatura de oposição sarneysta de Roseana (MDB), que segue à frente nas pesquisas, mas mostra-se frágil politicamente; bem como a candidatura de Maranhãozinho (PL), recém-rompido com o governo e envolto em escândalos de corrupção; o bloco governista liderado por Flávio Dino conta até o momento com duas pré-candidaturas que apontam para um retrocesso em relação ao que conquistamos até aqui, a saber, um governo de ampla coalizão, mas sob uma liderança de centro-esquerda, e a derrota da oligarquia Sarney.
Neste quadro, vem ganhando força dentro do PT, nas últimas semanas, a proposição de candidatura própria, com o nome do Secretário Estadual de Educação, Felipe Camarão. Tal proposição pode e deve apontar uma saída pela esquerda à bifurcação conservadora representada por Brandão (PSDB) e Weverton (PDT) dentro do bloco governista. Trata-se pois de uma possibilidade ímpar para agregar as forças de centro-esquerda (PT, PSB, PCdoB, PSOL, e REDE), bem como nossas bases nos movimentos sociais que lutam e almejam um programa dirigido aos trabalhadores e trabalhadoras do Maranhão que garanta a continuidade das políticas sociais em andamento, mas que dê um salto de qualidade, reforçando uma plataforma democrático-popular de transformação para o Brasil.
Assim, a Articulação de Esquerda abraça essa opção, a única que permite ao PT seguir caminhando pela esquerda, fortalecer com coerência a candidatura Lula e apontar uma alternativa à classe trabalhadora do Maranhão diferente da restauração conservadora representada pelas demais candidaturas. E conclama sua militância ao engajamento no sentido de contribuir para agregar as forças internas do partido para fortalecer a saída pela candidatura própria do PT na pré-candidatura de Felipe Camarão e, junto aos demais setores progressistas, construir uma plataforma que represente um horizonte pelo qual valha a pena lutar, com melhores condições de vida e dignidade para o povo do Maranhão e do Brasil.
Articulação de Esquerda/MA
Tendência do Partido dos Trabalhadores