Diante da maior emergência planetária da Humanidade, o PT está como?
Por Rafael Tomyama (*)
Por todo mundo, são crescentes as preocupações com a saúde planetária. Mobilizam a opinião pública nos países, pressionam governos e governantes e impulsionam ondas de protestos, especialmente protagonizados por jovens. São greves do clima, rebeliões da extinção, entre outros movimentos que eclodem em torno das lutas por direitos democráticos e participativos.
Ao mesmo tempo, cada vez mais pessoas se dispõem a mudar hábitos de vida. Abandonam cardápios com proteína animal, de olho nos pastos do agronegócio que devastam a Amazônia e Pantanal. Outros tantos deixam os automóveis a combustíveis fósseis por bicicletas e coletivos a biogás. Outros muitos deixam as grandes e turbulentas megalópoles, pela vida mais tranquila e resiliente da autoprodução no campo.
O que há em comum em tais posturas, que afetam, repito, especialmente os e as mais jovens – é uma percepção de urgência – reforçada pela pandemia de virose atmosférica – diante das evidências científicas do esgotamento das possibilidades de sobrevivência da espécie humana na biosfera em uma ou duas gerações.
As áreas mais afetadas são as que envolvem a perda biodiversidade, a contaminação dos solos com fosfato e a acidificação de oceanos, além dos eventos extremos (secas, geadas, enchentes, etc.) decorrentes das mudanças climáticas.
Tais preocupantes constatações ficam ainda mais agravadas quando se trata de um governo negacionista como o brasileiro, associado aos interesses da espoliação e ultra concentração de riquezas, notadamente pelo agronegócio, que promove a liberação indiscriminada de agrotóxicos, o massacre de indígenas e o alijamento de povos originários para grilagem de terras para desmatamento e implantação de pasto e monocultura de commodities para exportação.
Estão aí os dados mais recentes divulgados pelo painel intergovernamental da ONU (IPCC, na sigla em inglês) que afirma, em suma, que não resta a menor dúvida que o aumento de mais um grau na temperatura terrestre seja uma decorrência da responsabilidade humana como causa de tais fenômenos.
A possibilidade de reversão desta tendência é cada vez mais remota. Apesar desta, digamos, consciência ecológica, a questão é que a mera mudança de atitude individual é importante, mas insuficiente para lidar com determinações da produção (e do consumo) na era do Antropoceno. Mais do que decisões pessoais dos homens e mulheres (que estão em escala de bilhões) estão as determinações, valores, hábitos de consumo e padrões da moda ditados por corporações transnacionais financeiras que controlam os mercados mundiais industriais, as matrizes energéticas, as reservas hídricas e de bens ambientais e as produções de alimentos.
O PT e “os de baixo”
Muitos destes movimentos contestatórios se constituem e atuam à margem dos partidos, sindicatos e demais organizações tradicionais das lutas sociais. Os institutos têm que lidar com o envelhecimento conservador de suas bandeiras e visões diante de uma realidade de metabolismo e reestruturação produtiva do capital.
É neste contexto de crise global – e, portanto, também de risco de oportunidade, que o PT realiza seu Encontros setoriais. Secretarias há muito estagnadas, se apressam em mostrar alguns espasmos de programações improvisadas e animadas pela disputa partidária.
O processo, segundo os experts iluminados da burocracia partidária, traz a “inovação” de se realizar virtualmente. Para o campo majoritário petista não passa de uma chance para radicalizar o processo de fraudes sistemáticas com o fito de manter-se indefinidamente à frente da legenda. Com a vantagem de parecer “legítimo” ou de ser legitimado pelo conjunto das forças que não controlam senhas para habilitar aliados e desabilitar desafetos no programa eletrônico que permitiria a prometida “participação”.
Na verdade, trata-se de mais uma manobra para alijar a base popular de acessar uma autogestão participativa real de seu instrumento de classe. A tecnologia não como um fator de inclusão e sim de apartação das bases e continuidade da alienação das direções.
Ambientalismo 3.0
Para além disso, diante da iminência da crise planetária, caberia questionar qual é realmente o interesse em levar adiante um processo de renovação partidária que não fosse o de sintonizar o partido com as aspirações da classe, no sentido de estabelecer um ousado plano de transição ecológica.
Para tanto, seria preciso adicionar mais complexidade. Não há soluções pontuais. É preciso avançar a consciência da classe e abandonar de vez uma compreensão compartimentada do “tema ambiental”. Ao invés disso, perceber que um projeto programático que incide sobre decisões econômicas é crucial para uma inserção protagonista do país no cenário internacional de desafios urgentes que impactam sobre os sistemas sócio-ecológicos.
As Secretarias estaduais podem assumir, neste sentido um papel relevante na construção de movimentos ecológicos sistêmicos e potentes. Mas o que se vê atualmente é uma Secretaria Nacional do Meio Ambiente que se tornou a sucursal do mandato parlamentar de seu titular.
Diante de tais circunstâncias, o PT tem como alternativa avançar dentro de possibilidades: continuar fazendo mais do mesmo, imerso em suas disputas internas inócuas ou alçar uma mobilização efetiva de jovens, agricultores/as, intelectuais, acadêmicos, gestores/as públicos/as, empreendedores/as e trabalhadores/as em geral para sintonizar-se com a pegada ecológica do presente, que seja sustentável para as gerações que advirão.
(*) Rafael Tomyama é jornalista, designer e ambientalista