Página 13 entrevistou Francisco Junior, farmacêutico do SUS no Rio Grande do Norte, militante do PT e do SUS, para conversar sobre a setorial de Saúde do Partido. Confira a entrevista a seguir. Boa leitura!

Francisco Junior
Página 13. Quem é Francisco Junior? De onde surgiu a chapa e a candidatura?
Eu sou um farmacêutico do SUS no Rio Grande do Norte, militante do PT e do SUS desde o seu nascedouro, ex-dirigente sindical de sindicato de base estadual (Sindsaúde-RN), de entidade nacional (CNTSS/CUT), ex-presidente da CUT estadual, fui Conselheiro Municipal, Estadual e Nacional de Saúde, ex-presidente do Conselho Nacional de Saúde (o primeiro eleito). Sou integrante do Setorial Nacional de Saúde do PT, componho a Comissão Intersetorial de Orçamento e Financiamento do Conselho Nacional de Saúde. Nossa Chapa e nossa candidatura surgiram a partir de uma articulação de companheiras e companheiros do Partido que entendem haver a necessidade de debater com profundidade o papel do Setorial no Partido e no Governo, resgatando também a proposta da Reforma Sanitária como farol e referência no enfrentamento das dificuldades que têm de certa forma inviabilizado o SUS.
Página 13. Qual a importância do setorial de saúde para a história do PT? Qual seu balanço sobre esse espaço político? Como está escrito na tese que apresentamos ao encontro do Partido, os Setoriais têm teoricamente um papel fundamental na definição das ações do PT. O Setorial de Saúde já teve momentos melhores, exercendo um razoável protagonismo nos debates que dizem respeito à saúde. Já faz um bom tempo que sua atuação se tornou secundaria e ouso dizer irrelevante. Nesse último período, por exemplo, nenhuma das políticas implantadas ou renovadas pelo nosso governo foi antes debatida internamente conosco e com isso o Partido e o governo desperdiçam possibilidades concretas de uma intervenção qualificada em propostas e políticas nem sempre as mais indicadas para enfrentar os desafios colocados. Vamos trabalhar para que o Setorial de Saúde incida tanto no governo, quanto no programa de governo da candidatura de Lula à reeleição, assim como no programa do conjunto das candidaturas do Partido.
Página 13. Como você acha que deve ser a relação do setorial com o movimento sindical? Uma relação perene e permanente, em que as experiências e o acúmulo das entidades pode ser decisivo na definição de propostas que qualificarão a intervenção do Partido nos espaços políticos e legislativos.
Página 13. Como você acha que deve ser a relação do setorial com o controle social e a sociedade civil? Deve ser uma relação sintonizada com as demandas da sociedade, particularmente aquelas aprovadas nos espaços de deliberação como Plenárias e Conferências. São o controle social, a sociedade civil e os sindicatos que estão no dia a dia enfrentando os desafios e as dificuldades naturais das políticas públicas. São elas que estão debatendo e elaborando propostas que em muito podem contribuir e ajudar nosso setorial, nosso Partido e nosso governo.
Página 13. Como der ser a relação com o governo? Como deve ser a relação com o governo? Naquilo que diz respeito à defesa dos princípios do SUS e do modelo de sociedade que queremos, defendemos uma relação de parceria, colaboração e, quando for necessário, de cobrança e crítica. Diferente do silêncio obsequioso, que em nada contribui para o aprimoramento de propostas e ações, a cobrança e a crítica construtivas, responsáveis e no momento adequado, pode ajudar nossos governos a corrigirem rumos equivocados, colocando em prática o que é mais sintonizado com nossa história e nosso projeto ideológico.
Página 13. O que diferencia este projeto da outra chapa? No único debate que realizamos até agora, pudemos constatar que temos divergências de concepção do SUS, que também foram explicitadas em outros momentos durante os últimos anos. No debate realizado com @s companheir@s do Setorial de Saúde do Ceará isso ficou evidente, por exemplo, em relação à proposta do “Agora tem especialistas”, em que a outra chapa defende como sendo algo “emergencial” enquanto nós divergimos na sua forma e conteúdo. É uma proposta equivocada que além de não dar a resposta à demanda que é real, é concebida de uma forma que aprofunda o equivocado modelo de atenção que está implantado no SUS, como também a criminosa privatização do Sistema. A proposta é interessante, porém deveria ser elaborada e implantada de forma totalmente diversa da que aí está.
Página 13. Como o setorial pode contribuir para eleição de Lula 2026 e as eleições proporcionais e majoritárias nos Estados? Participando ativamente da elaboração do Programa do Governo bem como interagindo e contribuindo com os coletivos estaduais e municipais na perspectiva de construir uma proposta que possa ser defendida e implementada em todas as esferas de governo. A proposta de governo, devidamente debatida e aprovada pelo setorial, deve ser uma referência, naquilo que couber, para os programas a serem implantados nos nossos governos estaduais e municipais, bem como servirem de ferramentas nas disputas políticas com governos de outras matizes ideológicas em todo o país.
Página 13. Como você avalia o futuro do SUS no Brasil? Nosso SUS, maior conquista da história do nosso povo, é a experiência mais includente, transformadora e avançada que temos no Brasil e é uma referência para o mundo. Muito do avanço da qualidade de vida dos brasileiros nas últimas décadas tem o SUS como mola propulsora. No entanto, é fundamental entendermos que, conceitualmente, o SUS vem sendo desconstruído ano após ano. Um permanente subfinanciamento aliado a um modelo de atenção equivocado, uma força de trabalho desvalorizada e precarizada e uma total privatização na assistência, nas ações, na força de trabalho, na gestão do Sistema e na gerência dos serviços da Rede, tornam nosso Sistema a cada dia mais inviável política e economicamente. Por isso nós propomos mudanças radicais em todos esses eixos estruturantes, por entender que, se assim não for feito, o SUS se tornará insustentável. Esse o nosso desafio mais imediato que deve ser prioridade absoluta para nosso setorial, nosso Partido e nossos governos.
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