Por Valter Pomar (*)
Este texto é o primeiro de uma série dedicada a debater a estratégia do PT. Foi escrito durante uma viagem de ônibus, entre Porto Alegre e São Paulo. A avaliação política e as pesquisas indicam que o PT e a esquerda gaúcha podem colher bons resultados nas eleições de 2024. Como em toda parte, muito depende do engajamento militante nesta reta final. A militância gaúcha com que conversamos tem um olho no peixe e outro no gato: por um lado está engajada na campanha eleitoral, por outro está preocupada com os rumos do nosso Partido. Este texto (sem revisão) trata disso.
“Precisamos de um partido para tempos de guerra”. Quando dissemos isso, em 2015, muita gente não entendeu e outro tanto discordou. Quase dez anos depois, somos obrigados a repetir e agregar: precisamos de um partido e de um governo para tempos de guerra.
Que vivemos tempos de guerra, não há mais quem discorde. Vide, por exemplo, o discurso que o presidente Lula fez, dia 24 de setembro de 2024, na assembleia geral da ONU.
Lula lembrou que “2023 ostenta o triste recorde do maior número de conflitos desde a Segunda Guerra Mundial. Os gastos militares globais cresceram pelo nono ano consecutivo e atingiram 2,4 trilhões de dólares”.
Os fatos citados por Lula nos lembram que vivemos tempos de guerra e de crise social: “momento de crescentes angústias, frustrações, tensões e medo”, nos quais o “número dos que necessitam de ajuda humanitária no mundo chegará a 300 milhões” e “9% da população mundial (733 milhões de pessoas) estão subnutridas”.
Além de tempos de guerra e crise social, os dados citados por Lula recordam que vivemos, também, tempos de crise econômica e catástrofe ambiental: “a consolidação de assimetrias que levam a um verdadeiro oligopólio”, “uma segunda década perdida” na América Latina, um ano que “caminha para ser o ano mais quente da história moderna”.
Neste cenário tão difícil, nós da esquerda brasileira contamos com uma grande vantagem: estamos governando. Mas cabe perguntar: nosso governo está tomando todas as medidas necessárias para enfrentar a situação descrita no discurso presidencial?
Há quem acredite nisso. Assim como há quem não acredita tanto assim, mas por diversas razões escolha dizer que estamos “vivendo um momento excelente”. Para nossa infelicidade, os fatos apontam noutro sentido.
Numa interpretação otimista (que deixa de lado algumas oportunidades perdidas e várias escolhas rebaixadas), nosso governo está tentando fazer o máximo e o melhor possível, mas atua num ambiente dominado por forças econômicas e políticas que trabalham no sentido oposto.
A resultante disso é que fazemos menos do que o necessário, numa velocidade inferior à necessária e com resultados políticos aquém dos necessários, como demonstram as pesquisas desde janeiro de 2023 (veremos logo mais o que dizem as eleições municipais de 2024).
Se essa situação não se alterar, podemos até vencer as eleições presidenciais de 2026, mas não conseguiremos enfrentar exitosamente as terríveis consequências e ameaças provenientes dos tempos de guerra e crise em que vivemos.
Para termos êxito neste plano, será necessário alterar substancialmente a correlação de forças. E isso passa por impor derrotas às forças políticas e sociais que, de maneira mais ou menos articulada, seguem nos impedindo de fazer o que precisa ser feito em defesa da maioria do povo brasileiro, das liberdades democráticas, do bem-estar social, do desenvolvimento, da soberania, do meio ambiente e do socialismo.
As forças políticas e sociais a que nos referimos são: o imperialismo, o capital financeiro, o agronegócio, o neoliberalismo, a direita tradicional e a extrema-direita.
Para derrotar estas forças precisamos de algo que nosso partido elaborou em 1987 (quinto encontro nacional) e tentou reelaborar em 2017 (sexto congresso nacional): uma estratégia que articule nossas ações de curto, médio e longo prazo.
Uma estratégia que articule a luta eleitoral com a luta social; a ação de governo com a ação de partido; as políticas públicas com as transformações estruturais; o nacional com o internacional; as alianças com o enfrentamento; a luta política com a disputa ideológica etc.
Nem todo mundo concorda com o que foi exposto antes.
Para começo de conversa, existem pessoas que simplesmente não percebem a necessidade de uma estratégia. Assim como há aquelas que acreditam que o PT disporia sim de uma “estratégia”, que consistiria em articular a eleição de 2024 com a eleição de 2026 e assim sucessivamente, até perder de vista.
Entretanto, até mesmo quem defende este ponto de vista estritamente eleitoral anda meio preocupado. Afinal, é verdade que nosso desempenho nas eleições presidenciais é positivo – vencemos cinco das nove eleições realizadas desde 1989 e ficamos em segundo lugar nas outras quatro – mas também é verdade que nossa votação, em termos percentuais, vem caindo desde 2002. Ademais, quando Lula é retirado da equação (como ocorreu em 2018), nosso desempenho é inferior ao necessário para vencer. Ademais, nosso desempenho nas eleições presidenciais não encontra correspondência nas eleições para o Congresso, nem nas eleições estaduais e municipais. Nem encontra correspondência em nossa força social e influência ideológica: depois de quatro vitórias eleições presidenciais seguidas, não conseguimos derrotar um golpe e, mesmo depois de nossa vitória em 2022, seguimos enfrentando dificuldades no enfrentamento do neoliberalismo e do neofascismo.
A verdade é que, depois de 42 anos disputando eleições e governando algum ente da federação, podemos reafirmar com absoluta certeza algo que antes era no fundamental uma hipótese, baseada na experiência de outros países: para mudar o Brasil, não basta ganhar eleições, não basta ter um petista na cadeira presidencial.
Para mudar o Brasil é necessário ter uma imensa força social e cultural, mais um conjunto de condições que exigem muita sorte, muito trabalho de base e uma orientação política adequada.
O que nos traz de volta ao debate sobre a estratégia.
A esquerda debate “estratégia” antes mesmo que esse termo fosse incorporado ao nosso vocabulário. Até o fim da União Soviética (1991), parecia existir um roteiro mais ou menos universal para quem fosse discutir qual a estratégia adequada para a classe trabalhadora, em uma determinada sociedade, num determinado momento histórico. Hoje, para o bem e para o mal, o debate acerca da estratégia se tornou bem mais confuso. Entre outros motivos porque o desmanche da União Soviética foi interpretado, por parte da esquerda, como “o fim da história” da luta pelo socialismo. E se não há luta pelo socialismo, o debate estratégico vai desidratando, vai perdendo sentido, vai deixando de ser a orientação geral de todas as nossas ações. Isso é especialmente visível num partido como o PT, que possui no seu interior de comunistas até socialliberais.
Para alguns setores do Partido, não faz sentido debater uma estratégia de luta pelo socialismo, simplesmente porque não lutam mais pelo socialismo.
Sendo assim as coisas, é preciso começar reafirmando alguns fundamentos.
O PT precisa de uma estratégia, antes de mais nada, porque nadamos contra a corrente do capitalismo realmente existente no Brasil. A “dinâmica natural das coisas” da sociedade brasileira é manter, produzir e aprofundar a desigualdade, o mal-estar social, a concentração do poder político, a dependência externa, a destruição ambiental e todas as formas possíveis de opressão.
Os momentos em que, no Brasil, as coisas tomaram um rumo pouco diferente deste acima descrito, são a exceção (por exemplo os governos Vargas 2, Jango, Lula, Dilma), não a regra de nossa história.
Mesmo nos governos citados, forças poderosas infiltraram, sabotaram, bloquearam, impediram e derrotaram as mudanças. Aquelas mesmas forças já estão implementando o referido roteiro contra o governo Lula 3.
Portanto, precisamos de uma estratégia porque agimos contra a dinâmica do sistema, contra o status quo, contra a ordem vigente. E só com uma estratégia poderemos – se também contarmos com muita sorte e se fizermos muito esforço – ter alguma chance de êxito.
Várias estratégias são possíveis. E só retrospectivamente saberemos se a estratégia adotada por nós foi exitosa.
Na maior parte dos países do mundo, a esquerda até hoje não teve êxito. E como seria ridículo culpar os inimigos pela nossa derrota – eles estão aí para isso mesmo, para tentar nos derrotar – a conclusão é que, na maior parte dos países do mundo, faltou alguma coisa: um pouco de sorte, de trabalho e, talvez, uma estratégia correta.
No Brasil, desde pelo menos 1922, a esquerda brasileira experimentou diversas estratégias. A estratégia que nos permitiu, até hoje, acumular maiores fatias de poder para a classe trabalhadora, foi a estratégia adotada pelo PT no ano de 1987: a estratégia democrático popular e socialista.
Foi aquela estratégia que nos orientou na gloriosa eleição presidencial de 1989, a partir da qual o PT converteu-se em força hegemônica na esquerda brasileira.
Nos anos 1990, apesar das imensas forças contrárias oriundas da ofensiva neoliberal e da crise do socialismo, aquela estratégia serviu de contraponto e ajudou a impedir que o PT tivesse o mesmo destino de tantas outras forças de esquerda mundo afora.
“Nunca antes na história deste país” a esquerda conseguiu polarizar a disputa política e ganhar eleições presidenciais como fez durante o período em que o PT converteu-se em partido hegemônico na esquerda brasileira. Mas ao mesmo tempo em que nos tornamos hegemônicos, fomos nos transformando e nos distanciando de diversos dos pressupostos da estratégia democrática popular e socialista.
Hoje, grande parte do PT não se identifica mais com aquela estratégia. Ademais, o mundo para o qual ela foi elaborada em certa medida não existe mais.
As mudanças ocorridas, desde 2008, na situação mundial, de nosso continente e do Brasil; e as correspondentes mudanças nas condições de luta política e na própria classe trabalhadora; associadas às limitações de própria estratégia, bem como a nossa falta de trabalho e de sorte, tornam necessário elaborar uma estratégia adequada aos tempos em que vivemos, em 2024 e além.
Evidentemente, mesmo entre os que percebem esta necessidade, não há consenso acerca de qual estratégia deve ser elaborada e implementada.
Do nosso ponto de vista, há quatro pressupostos fundamentais. O primeiro pressuposto é a convicção de que estamos diante de problemas, no Brasil e no mundo, que não têm solução nos marcos do capitalismo. Portanto, precisamos de uma estratégia cujo “objetivo final” é o socialismo.
O segundo pressuposto é a percepção de que vitórias eleitorais não são suficientes para as transformações que necessitamos fazer. Portanto, precisamos de uma estratégia que permita conquistar e construir o poder através da combinação de diferentes formas de luta.
O terceiro pressuposto é que os grandes capitalistas e o imperialismo são nossos inimigos e devem ser derrotados. Portanto, precisamos de uma estratégia para fazer da classe trabalhadora a classe dominante e dirigente na sociedade brasileira.
O quarto pressuposto é que o Partido dos Trabalhadores segue sendo um protagonista insubstituível para encabeçar a implementação desta estratégia.
Parte da esquerda brasileira não concorda com nenhum desses pressupostos. Parte concorda com alguns, mas não com outros. Por exemplo, há os que concordam com os três primeiros pressupostos, mas não concordam com o protagonismo do PT.
Por incrível que possa parecer, este é o caso de uma parte dos filiados ao PT, que não acredita mais que nosso Partido seja capaz de implementar uma estratégia com os pressupostos citados anteriormente.
E há, além de tudo, os que têm dúvida sobre se a classe trabalhadora brasileira possui a energia ideológica, política e organizativa necessárias para sustentar uma estratégia do tipo citado anteriormente.
As dúvidas têm motivos para existir. E algumas delas estão relacionadas com os efeitos da crise sobre a classe trabalhadora e sobre suas organizações.
A ideia de que toda crise profunda no capitalismo resulta em uma onda de conscientização, organização e mobilização na classe trabalhadora é parcialmente falsa. A rigor, isso pode acontecer e efetivamente acontece, mas a depender de inúmeras circunstâncias. Entretanto, mesmo quando o final é feliz, mesmo quando a crise é o estopim de profundas lutas e mudanças, ainda assim é muito comum que – antes do desfecho – a crise contribua para provocar, em amplos setores da classe trabalhadora, reações conservadoras: uma luta desesperada por manter o (pouco) que se tem.
Frente à perda de direitos, de renda, de empregos, de moradia, de qualidade de vida, há uma reação defensiva. Nos setores menos politizados e menos organizados da classe, verifica-se um crescimento do sofrimento mental, do individualismo, do fundamentalismo religioso, do racismo, da violência contra a mulher, do preconceito, do voto na direita e na extrema-direita, da desfiliação e do desinteresse nas organizações da classe, entre tantos outros efeitos negativos. Num resumo, amplos setores da classe sentem mais medo da mudança do que medo do status quo.
As crises profundas no capitalismo também afetam os setores mais politizados e mais organizados da classe. A óbvia e necessária reação defensiva muitas vezes transforma o vício em virtude. Afinal, uma coisa é defender o que se tem, contra uma piora, contra um retrocesso. Outra coisa é idealizar o que se tem (ou que se tinha), como se fosse a melhor coisa do mundo. E uma terceira coisa, diferente das duas anteriores, é transformar a atitude defensiva numa linha política segundo a qual sempre seria melhor ceder um pouco, do que lutar e correr o risco de perder tudo.
Evidentemente, transformar esta última atitude em regra, torna virtualmente impossível alterar para melhor a correlação de forças.
No plano político ideológico, a atitude conservadora que citamos antes gera recuos malabares. Esquerdistas se convertem nos campeões da “moderação” e da “responsabilidade”. Princípios e objetivos estratégicos são queimados na pira do supostamente aceitável pela opinião pública. O nobre objetivo de preservar os espaços conquistados se converte numa luta sem quartel, a qualquer preço e com qualquer método, para manter os pequenos poderes. Práticas inaceitáveis, típicas de partidos tradicionais, clientelistas e oportunistas, começam a ser naturalizadas. Políticas que combatíamos ontem passam a ser defendidas hoje, sob o argumento de que a alternativa seria ainda pior. A “correlação de forças” é aceita como imutável, porque no fundo se acredita que mudança, só para pior. E, portanto, que melhor seria manter as coisas como estão do que correr riscos.
Muita gente defende e implementa este tipo de atitude, convicta de que é a única alternativa possível. Acreditam também que, fazendo isto, interromperíamos a ofensiva conservadora e criaríamos as condições para voltar a avançar.
Suponhamos que, em algumas situações, isto possa ser verdade. Mas noutras situações, o efeito tem sido exatamente o contrário. Por exemplo: quando há forças de extrema-direita, que catalisam a insatisfação popular e a direcionam num sentido reacionário, o único antídoto é a existência de uma esquerda combativa. Este antídoto não funciona sempre; mas sem ele, a derrota é líquida e certa.
Este é, em nossa opinião, o caso do Brasil. A extrema-direita conquistou amplos setores da classe trabalhadora, exatamente nos territórios que o PT perdeu, abandonou ou nunca entrou. Mas, por outro lado, a extrema-direita só foi derrotada graças à força que o PT segue tendo na classe trabalhadora.
Apesar disso, há dentro do PT fortes setores que defendem enfrentar a extrema-direita fazendo crescentes concessões à direita tradicional (sem falar nos que fazem acenos à própria extrema-direita).
Estes setores do PT não explicam como – com esta política que defendem – vamos conseguir alterar a correlação de forças no Congresso, nas forças armadas, nos meios de comunicação, para citar apenas três das inúmeras casamatas da classe dominante. Tampouco explicam como vamos derrotar o agronegócio, o capital financeiro e o imperialismo.
Alguns não explicam, porque já desistiram de tentar alterar e derrotar; contentam-se em conviver com os inimigos, pactuar com eles, incorporar como nossas algumas das políticas da direita e, sem vergonha nem dor na consciência, ir levando a vida.
Outros mantém uma atitude ambivalente: seguem dando entrevistas, fazendo discursos e (até há pouco) mandando tuítes que sinalizam à esquerda, ao mesmo tempo que vão concordando com a política implementada pelos que já capitularam.
O crescimento do conservadorismo, nas fileiras da esquerda, parece tão profundo que cresce o número de pessoas que não acredita mais que nosso PT possa ser capaz de adotar uma estratégia com os pressupostos descritos anteriormente.
Muita gente fora do PT e muita gente dentro do próprio PT pensa que seria irreversível a conversão do nosso partido em uma força política mais ou menos tradicional, na qual até se pode votar, mas da qual não se deve esperar nada além de algumas boas políticas públicas. Como gosta de dizer certa imprensa, um partido de centro-esquerda, com vários tucanos de bico vermelho e alguns coronéis do asfalto.
Os mais pessimistas vão além e acreditam que o problema é ainda mais profundo: não apenas o PT, mas também a classe trabalhadora brasileira não teria mais a energia ideológica, política e organizativa necessária para implementar mudanças profundas em nosso país.
Pode ser verdade? Sim, sempre pode ser verdade. Mas como o “não” já temos, não custa nada se perguntar algo óbvio: não é estranho que a classe dominante faça tanto esforço para desmoralizar, derrotar e destruir uma força supostamente tão inócua como o PT é descrito por alguns críticos?
Ademais, aquela descrição acerca da impotência da classe trabalhadora e do PT não seria, também, por demais conveniente para aqueles que desejam manter o status quo? E, finalmente, qual seria mesmo a alternativa que decorre daquele tipo de análise?
Antes de seguir, um esclarecimento: concordamos que o PT corre risco de vida. Corremos este risco, em menor escala, por causa de nossos inimigos. E, em maior escala, por causa das opções que parte de nós têm feito, nos últimos anos. Os partidos, como os gatos, têm muitas vidas. Mas o acúmulo de erros algum dia pode se tornar fatal.
Isto posto, não há dúvida sobre o seguinte: até agora fracassaram todas as profecias sobre o fim do PT. Ainda hoje, todas as organizações da esquerda brasileira giram ao redor do petismo. Até mesmo aquelas que se aliaram à direita para tentar nos derrotar, são obrigadas a organizar toda sua política ao redor do que o PT faz ou deixa de fazer.
As eleições de 2024, aliás, confirmaram mais uma vez que a esquerda que se considera superior ao PT têm grande parte de nossos defeitos, mas não tem grande parte de nossas virtudes.
Acima de tudo, 44 anos depois da fundação, a maior parte da classe trabalhadora com consciência de classe segue tendo o PT como sua referência.
Isso pode deixar de ser assim? Claro que pode. Até porque o ambiente na própria classe trabalhadora está cada vez mais difícil, pelos motivos já citados. Mas por isso mesmo, seja pela influência que seguimos tendo, seja porque somos a barreira principal contra o avanço da extrema direita, segue sendo inescapável disputar os rumos do PT, como parte da disputa dos rumos da classe trabalhadora brasileira.
É inescapável, entre outros motivos, porque nas condições de um país como o Brasil a luta pelo socialismo exige um partido de massas. Se o PT criado em 1980 não der conta desta tarefa, isto não alterará em nada o problema estratégico: continuará sendo necessário um partido de massas. E se não formos capazes de enfrentar, em 2024, os problemas que afetam o PT que foi criado em 1980, a decorrência é que vamos legar às futuras gerações mais um problema não resolvido.
Neste sentido, os petistas que deixam de disputar os rumos do PT e passam a resmungar pelos cantos – “oh céus! oh vida! oh azar! isto não vai dar certo” – precisam entender que agir como Hardy só piora a situação.
Isto posto, voltemos ao ponto de partida: precisamos de uma estratégia cujo “objetivo final” é o socialismo. Uma estratégia que permita conquistar e construir o poder através da combinação de diferentes formas de luta. Uma estratégia que faça da classe trabalhadora a classe dominante e dirigente na sociedade brasileira. Uma estratégia que articule nossas ações de curto, médio e longo prazo; a luta eleitoral com a luta social; a ação de governo com a ação de partido; as políticas públicas com as transformações estruturais; o nacional com o internacional; as alianças com o enfrentamento; a luta política com a disputa ideológica etc. Uma estratégia para derrotar o imperialismo, o capital financeiro, o agronegócio, o neoliberalismo, a direita tradicional e a extrema-direita. Precisamos de um partido e de um governo para tempos de guerra.
No próximo episódio, ou seja, no segundo texto desta série, falaremos mais sobre estes tempos em que vivemos.
(*) Valter Pomar é professor e membro do diretório nacional do PT