Valter Pomar
O governador Geraldo Alckmin reagiu assim ao atentado contra a caravana de Lula: “acho que eles estão colhendo o que plantaram”.
“Concordo” com o picolé de chuchu.
Plantamos uma política externa soberana, colhemos uma reação do imperialismo.
Plantamos medidas sociais, colhemos uma reação das elites econômicas.
Plantamos tímidas mudanças democráticas, colhemos uma reação das oligarquias políticas.
Plantamos um discurso de paz, eles estão atirando para matar.
Plantamos republicanismo, colhemos fascismo.
O erro cometido por grande parte de nós petistas foi ter acreditado que as regras da vida pessoal se aplicam à luta de classes.
Na vida pessoal, gentileza geralmente é retribuída com gentileza.
Na luta de classes, gentileza geralmente não é retribuída com gentileza.
Muitos petistas acreditaram – como um ex-ministro de Lula deixou claro, em palestra dada a estudantes no ano de 2016 – que se nós fizéssemos um governo moderado, o lado de lá também agiria de forma moderada.
Ledo engano.
Os ricos se tornaram cada vez mais ricos, mas nem por isso toleraram os pobres melhorando de vida.
Não tocamos no oligopólio da comunicação, fortalecemos o Ministério Público e a Polícia Federal, respeitamos as leis etc. E “colhemos” uma perseguição baseada no “princípio” segundo o qual ao inimigo, nem mesmo a lei.
Fizemos uma política de alianças com setores de centro e direita e somos tão complacentes querecentemente um ex-prefeito petista elogiou Alckmin. E “colhemos” não apenas o silêncio, mas um estímulo direto e indireto à perseguição e violência praticada contra nós.
Relho, ovos, pedras, balas… e, se nada de mais grave ocorrer antes, julgamento do habeas corpus e possível prisão.
Nos próximos dias, o petismo vai ter que decidir se continua acreditando que gentileza gera gentileza. Ou se entendeu que situações extraordinárias exigem medidas extraordinárias.
Valter Pomar é militante do PT