Por Rubens Marques de Sousa
Passado o sufoco provocado pela decisão das centrais sindicais de suspender a greve geral nacionalmente e manter apenas as mobilizações, vamos fazer aqui um breve balanço das atividades de luta do dia 5 de dezembro. A agenda de luta quase esmoreceu por conta do recuo do governo golpista de Michel Temer ao desistir de votar a Reforma da Previdência, já que ele não havia conseguido “comprar” os votos necessários à sua aprovação. No entanto, 25 estados brasileiros construíram mobilizações vitoriosas neste dia, sendo que em Sergipe a Greve foi mantida com muito sucesso.
Antes de tudo, dizer que foi acertadíssima a decisão da CUT Sergipe em manter a greve, marchar pra cima dos golpistas e mostrar ao setor patronal a unidade da classe trabalhadora, já que pela primeira vez todas as centrais com atuação no estado saíram juntas para o front de batalha. Foram elas: CUT, CSP Conlutas, CTB, UGT e Força Sindical. Existem outras centrais, mas sem atuação pública.
É verdade que o clima de incerteza sobre a manutenção ou não da greve terminou atrapalhando no início, mas, com muita determinação, nós fazemos o debate da contrainformação nos meios de comunicação, redes sociais, e também nas panfletagens, no contato direito com a classe trabalhadora, nos terminais de ônibus, centros comerciais, feiras livres, escolas, universidades, postos de saúde, bancos etc.
Por conta do final de ano e a grana do 13º salário na praça, os patrões do comércio e do transporte do coletivo reagiram com força e exigiram do governo do estado (Jackson Barreto – PMDB) que colocasse a polícia para dar proteção nas garagens de ônibus e comércio principalmente, por isso às 7:00h do dia 05, a cavalaria da PM já estava lá aguardando os manifestantes. Mesmo assim, o fechamento do comércio aconteceu, verdade que com mais dificuldades do que nas vezes anteriores, mas fechou 80% e esteve sem clientes, porque os ônibus não saíram das garagens e trechos importantes da cidade de Aracaju estavam bloqueados.
A classe patronal tem feito enfrentamento aberto ao movimento sindical, principalmente à CUT em Sergipe, e fruto disso são processos que tramitam no Judiciário e Justiça do Trabalho, contra a central, proibindo a minha presença em locais onde estejam ocorrendo manifestações, sob pena de receber multa astronômica e prisão, mas é claro que não podemos respeitar determinações como essas, afinal de contas, pra que serve central que não faz greve e dirigente que não vai para o front de batalha lutar?
Compreendendo a importância da unidade na resistência, a CUT além de assumir tarefas que foram divididas durante reunião entre as centrais, foi solidária com as demais, dividindo o seu exército e enviando parte do contingente de militantes para outras trincheiras de lutas.
Nós ganhamos o sindicato dos rodoviários nas greves de 28 de e 30 de junho (era filiada à Força Sindical), e essa conquista foi muito importante, prova é que na greve do dia 5 a direção do SINTTRA fez assembleia e deliberou favorável ao movimento paredista. Uma coisa era a CUT fazer piquete em garagem de ônibus e mobilização em terminais de ônibus quando o sindicato era filiado à Força Sindical, outra é agora, nós vamos com os dirigentes do sindicato.
Além da unidade entre as centrais nessa pauta específica, destaco o papel que a Frente Brasil Popular tem cumprido em Sergipe e nesse dia a Frente foi muito importante ao apoiar a decisão das centrais em manter a greve. Entidades da FBP (além das centrais) a exemplo do MST, Levante Popular da Juventude, MPA – Movimento dos Pequenos Agricultores, DCE – UFS, Movimento dos Sem Teto etc participaram ativamente das ações diretas durante a madrugada e depois que o sol abriu o olho.
Naturalmente o povo se incomoda com os efeitos causados pela greve, como aconteceu em Sergipe, em que o transporte coletivo não funcionou, os bancos não abriram e o comercio abriu parcialmente (20% das lojas, porém vazias) e houve trancamento das rodovias federais e estaduais e entradas e saídas da cidade de Aracaju. O setor público também parou: educação, saúde, administração, fazenda etc. A tarde o SINTESE coordenou um ato unificado com todos os sindicatos de servidores estaduais em frente ao palácio do governo para protestar contra os desmandos administrativos, atraso, falta de reposição salarial e o avanço da política neoliberal em Sergipe.
Esse é o momento de colocar os transtornos na conta dos deputados, senadores e empresários golpistas, e assim nós temos feito com muita eficiência, ao ponto de recebermos recados diretos deles, através da imprensa e também por telefone.
Retornando ao início quando tratei da manutenção da greve em Sergipe, confesso que a CUT Sergipe recebeu a notícia com perplexidade, e de imediato reafirmou a manutenção da greve, e isso foi o que amenizou as críticas vindas da imprensa e o julgamento do povo – com esse nós temos que nos preocupar –, uma vez que nas primeiras horas da manhã durante a semana de mobilização, vários cutistas fizeram atividades nos terminais de ônibus, Centro comercial e feiras livres, e lá o povo perguntava se a greve era pra valer, referindo-se à paralisação do dia 10 de novembro, que não funcionou na maioria dos estados.
Como a CUT se mantém como a maior referência do movimento sindical no Brasil, foi sobre ela que caiu a avalanche de ataques, inclusive de entidades próximas que aproveitaram o momento para ganhar visibilidade, e isso tem nome: oportunismo.
Espero que o imbróglio causado pela suspensão da greve sirva de exemplo e que daqui pra frente as centrais não tomem decisões de grande impacto como essa, sem antes ouvir as CUTs estaduais e os ramos e no caso da CUT nacional, acredito que a sua direção fez coro com as demais centrais para não fcar isolada. Quanto a isso, orientamos pelo rompimento em caso de se posicionar contra todas elas, porque só se isola quem não ouve a classe trabalhadora.
Enquanto a classe trabalhadora clamava pela greve geral, as centrais, batendo cabeça, saíram pela contramão provocando alguns incidentes. Por fm parabenizamos o papel de vanguarda da CUT Sergipe que soube dirigir o processo difícil sem a arrogância recorrente do vanguardismo muito presente na esquerda.
Rubens Marques de Sousa é presidente da CUT Sergipe.