Jaques Wagner, o sionismo e a arte do cortesão

Por Valter Pomar (*)

Um tema foi abordado em todos os debates de presidentes e de chapas que disputam a direção nacional do PT: a Palestina.

Na esmagadora maioria das vezes e das vozes, houve manifestações de solidariedade.

Em dois casos houve polêmica.

A primeira foi sobre a ruptura de relações entre o Brasil e o Estado Terrorista de Israel. Esta polêmica foi (aparentemente) encerrada quando, em Porto Alegre, os quatro candidatos assinaram um documento apoiando a ruptura.

A segunda foi sobre o Dia da Amizade Brasil Israel, mais exatamente sobre a posição da bancada de senadores petistas, mais especificamente sobre o papel de Jaques Wagner.

Foi uma polêmica intensa, mas que provavelmente teria ficado restrita aos participantes e assistentes ao debate realizado em Belo Horizonte dia 28 de junho, não fosse pelo fato do companheiro Murilo Brito ter resolvido divulgar amplamente o fato (ver imagem abaixo).

É direito dele fazer isso. Mas como nesse vídeo Murilo incluiu apenas um trecho da minha fala, decidi transcrever a íntegra da polêmica.

Alerto que outros debatedores falaram acerca da Palestina, com destaque para o companheiro Sokol.

Quem quiser conferir o conjunto do debate, pode assistir aqui: 28/06 | Debate entre as chapas para o PED 2025, direto de Belo Horizonte

Na transcrição abaixo vou me limitar a polêmica que me envolve diretamente.

O primeiro a falar da Palestina foi o próprio companheiro Murilo, representante da chapa Campo Popular, que disse o seguinte: (…) Então, até recentemente a gente tinha organismos internacionais que tinham como meta regular as disputas entre nações internacionais. E isso agora cada vez mais vai sendo deixado de lado. Cada vez mais esses organismos multilaterais vão perdendo força, e ganha espaço uma política expansionista nitidamente expansionista. O capítulo mais recente que a gente acompanhou, agora com Israel e os Estados Unidos bombardeando o Irã, como um produto, entre outras coisas, daquela disputa que está acontecendo ali de limpeza étnica na Faixa de Gaza. Inclusive aqui, abre um parêntese para dizer que o governo brasileiro precisa se posicionar de uma forma muito dura em relação a isso, rompendo relações com Israel. Não dá pra gente assistir um genocídio daquela magnitude que está acontecendo naquela região do mundo passivamente. É preciso, além do discurso, ter ações práticas. Mas ali, por exemplo, é um nítido movimento de expansionismo do território de Israel, inclusive incluindo genocídio, limpeza étnica, sem que as instituições internacionais multilaterais possam responder à altura aquilo ali (…).

Eu falei depois e disse o seguinte: “(…) quero terminar minha fala fazendo referência a um aspecto da situação internacional que condensa todos os temas que a gente vem discutindo, que é a situação na Palestina. Houve esse ataque de Israel contra o Irã. Depois, houve um ataque dos Estados Unidos contra o Irã. E, de certa forma, saiu de cena o genocídio que segue em marcha. Depois de terem assassinado mais de 60 mil pessoas à base da bomba e da bala, se entrou numa etapa de negar comida, de negar água, de negar remédios e de atirar nas pessoas que estão indo buscar suprimentos junto de uma organização sediada nos Estados Unidos, que é controlada, na verdade, pelo Estado de Israel. É uma barbárie. Uma coisa terrível, absolutamente terrível. E isso vai sendo naturalizado, porque a gente começa a ver isso na televisão todo dia e começa a fazer parte da paisagem. E no nosso governo há uma resistência a tomar medidas mais duras. Os quatro candidatos à presidência nacional do PT assinaram um documento pedindo a ruptura do Brasil das relações diplomáticas com o Estado terrorista de Israel. E, ao invés de encaminhar isso, nós tivemos um episódio constrangedor no Senado em que a nossa bancada votou a favor do “Dia da Amizade Brasil e Israel”. E o líder explicando que os povos e a amizade dos povos estão acima da conjuntura. Alguém aqui acharia normal se, em 1941, 42, quando foi encaminhada a “solução final”, se propusesse esse tipo de amizade entre os povos do Brasil e da Alemanha? Pessoal, é um escárnio. E é um escárnio porque dentro do nosso partido e dentro da nossa bancada tem gente que segue a linha do sionismo. Vamos falar as coisas como são, claras. E, como eu tô um pouco cansado dos debates que mandam recado, tô me referindo ao senador Jacques Wagner, um defensor das causas de Israel dentro do PT. Ele e outros. E isso tem que ser enfrentado. Porque é inaceitável que o nosso partido e o nosso governo, nessa conjuntura internacional, não deem uma resposta dura a esse crime contra a humanidade que tá sendo cometido. Palestina livre, do rio ao mar (….).

Vou repetir aqui o trecho que parece ter detonado a polêmica: “E é um escárnio porque dentro do nosso partido e dentro da nossa bancada tem gente que segue a linha do sionismo. Vamos falar as coisas como são, claras. E, como eu tô um pouco cansado dos debates que mandam recado, tô me referindo ao senador Jacques Wagner, um defensor das causas de Israel dentro do PT. Ele e outros.”

Depois falou o companheiro Virgílio Guimarães, que ensaiou uma defesa radical de Jaques Wagner, mas frente a meu alerta suavizou.

Depois falou o companheiro Sokol, que fez uma bela fala que pode ser conferida aqui: 28/06 | Debate entre as chapas para o PED 2025, direto de Belo Horizonte

Na rodada seguinte, em resposta ao Virgílio, eu disse o seguinte: “(…) Eu queria usar o restante do meu tempo, já que eu respondi a pergunta, para também comentar uma outra coisa que o Virgílio disse na sua fala inicial. Ele insinuou uma crítica que ele depois não completou acerca da minha crítica ao Jacques Wagner. Eu quero aqui ler para vocês, pessoal, um trechinho. No dia 25 de junho, no mesmo dia que os caras nos deram aquele golpe lá do IOF, o Alcolumbre promulgou o tal dia da amizade Brasil e Israel. E óbvio, a direita criticou o presidente Lula porque o presidente Lula, ao invés de assinar, encaminhou pro Senado. O Senado é que promulgou. O presidente Lula, na minha opinião, devia ter feito o que fez a Dilma em 2015: ter vetado, ter vetado. Mas ele escolheu essa solução salomônica. Não adiantou nada. Foi espancado pela direita, acusado de antissemita, antiestado de Israel etc. E neste contexto, o companheiro Jacques Wagner fez um discurso. Eu vou ler só um trecho: abre aspas — “Eu, que sou judeu, também concordo que Israel exagerou nas respostas nesta guerra, atingindo inocentes e crianças.” — Fecha aspas. Pessoal, isso foi dito dia 25 de junho, agora, semana passada. “Exagerou”? “Atingindo”? O Estado terrorista de Israel cometeu um genocídio. Está cometendo. Matou pelo menos 60.000 pessoas. Não é que atingiu inocentes e crianças. Assassinou civis. Civis, não combatentes. Os caras são capazes de mandar um drone que entra noutro país e mata com foguete um general iraniano dentro do apartamento dele. Eles têm capacidade tecnológica. Eles escolheram assassinar deliberadamente a população palestina. E o nosso companheiro Jacques Wagner diz que isso é um “exagero que atinge”. É disso que eu tô falando. Repito: tem um setor do nosso partido, tem um setor da nossa bancada, e em especial o Jacques Wagner, que passam o pano no estado de Israel, defendem e querem separar. Querem separar o que é o governo de Bibi Netanyahu do que seria o mítico Estado de Israel. Só que o mítico Estado de Israel, desde o dia que começou a funcionar — desde o dia que começou a funcionar — agiu para inviabilizar o Estado Palestino e agiu para assassinar, ou expulsar, ou, na prática, escravizar a população palestina. Então não dá para passar o pano. E não dá para ficar fazendo diferença onde as diferenças não existem. Então eu repito aqui, e lembro — concluo com isso — aquilo que o companheiro Sokol falou: quem fica dizendo que qualquer crítica ao Estado de Israel é antissemitismo são os sionistas. Porque grande parte dos judeus mundo afora condenam o que tá acontecendo”.

Destaco o seguinte trecho: “tem um setor do nosso partido, tem um setor da nossa bancada, e em especial o Jacques Wagner, que passam o pano no estado de Israel, defendem e querem separar. Querem separar o que é o governo de Bibi Netanyahu do que seria o mítico Estado de Israel. Só que o mítico Estado de Israel, desde o dia que começou a funcionar — desde o dia que começou a funcionar — agiu para inviabilizar o Estado Palestino e agiu para assassinar, ou expulsar, ou, na prática, escravizar a população palestina. Então não dá para passar o pano. E não dá para ficar fazendo diferença onde as diferenças não existem”.

Na sequência, o companheiro Murilo afirmou o que segue: “(….) Como Valter começou lendo, eu também quero começar lendo. ‘Bom, o povo judeu não pode comungar com assassinato de civis sob qualquer desculpa que seja, até por termos sofrido — não só nós, porque foram testemunhas de Jeová, foram ciganos, foram homossexuais, foram deficientes que morreram na máquina da morte’. Essa fala é do companheiro Jacques Wagner na tribuna do Senado. A fala do companheiro Valter Pomar com as críticas ao companheiro Jacques Wagner são graves, infelizes e injustas. Jacques Wagner não é da minha tendência, Jacques Wagner não é da minha chapa, mas a gente precisa colocar as coisas como elas são. O companheiro Jacques Wagner sempre defendeu a solução de dois estados. O companheiro Jacques Wagner sempre se alinhou com judeus que estão apanhando no estado de Israel porque são contra o governo de Netanyahu, e colocar o companheiro Jacques Wagner como alguém que passa pano para o governo de Netanyahu é um desserviço ao Partido dos Trabalhadores. E tô dizendo isso porque ele tem uma contribuição inestimável para esse partido. A gente precisa lembrar que foi sobre a arquitetura dele que o Partido dos Trabalhadores derrotou o dinheiro na mão e o chicote na outra lá na Bahia, quando derrotou o Antônio Carlos Magalhães e derrotou o príncipe agora. Derrotou o príncipe com professor filho de vaqueiro, que lá no estado, em terras devolutas, já titulou mais de 30 comunidades quilombolas, todas com organização de movimento popular na base, que tirou 1200 hectares da mão da Veracel para dar a agricultores familiares e fazer o primeiro assentamento estadual da história da Bahia. Não ajuda o Partido dos Trabalhadores a gente trazer o debate a essa mesa nessa perspectiva. Posso discordar do momento em que foi proposto, que foi proposto no Senado. Posso achar que ele foi pouco incisivo, posso achar que ele não tem uma posição como a minha, mas daí a dizer que ele é alinhado com sionismo é um equívoco político brutal para o Partido dos Trabalhadores que eu não posso deixar passar aqui. É preciso dizer essas coisas, porque muito do que é feito na Bahia nos cinco mandatos do Partido dos Trabalhadores é o que nós gostaríamos de ver reproduzido no Brasil — e feito não só por Jacques Wagner, pelo conjunto do Partido dos Trabalhadores no Estado da Bahia, incluindo a minha tendência. Isso não significa que a minha tendência ou eu nunca tive divergência com o companheiro Jacques Wagner — muito pelo contrário. Muitas levadas até o fim. E ele, melhor do que qualquer pessoa nessa mesa, sabe disso, porque em algumas ele esteve presente. Mas a gente não pode conduzir o debate nesses termos, porque não nos ajuda. Não nos ajuda porque lá na Bahia, por exemplo, em todas as eleições de governador, desde que o companheiro Jacques Wagner foi candidato, a gente faz o programa de governo participativo envolvendo trabalhadores da saúde, professores, trabalhadores da educação, movimentos do meio rural, movimentos urbanos, para fazer o programa de governo do Partido dos Trabalhadores. Isso ajuda a gente a ter a votação que nós tivemos pro companheiro Lula lá na última eleição — em todas antes dessa — porque lá existe um nível de compreensão da população baiana do que significa o projeto dos trabalhadores. Porque lá chegou água no sertão para quem tinha sede e nunca tinha tido água em casa para beber. O programa Água para Todos, que foi uma iniciativa, em primeiro lugar, do governo do Estado da Bahia sob o governo do companheiro Jacques Wagner. Então, eu queria pedir desculpa por não estar falando sobre o tema que foi a pergunta, mas eu não podia deixar passar isso porque eu acho um equívoco muito grande conduzir as críticas nos termos em que foram conduzidas. (…)”

Como se pode constatar lendo o trecho acima transcrito, o companheiro Murilo fala muito de Jaques governador, como se os êxitos do governo servissem como cheque em branco para todo o resto.

Quanto a polêmica propriamente dita, repito a seguir o que Murilo disse: “(….) Como Valter começou lendo, eu também quero começar lendo. ‘Bom, o povo judeu não pode comungar com assassinato de civis sob qualquer desculpa que seja, até por termos sofrido — não só nós, porque foram testemunhas de Jeová, foram ciganos, foram homossexuais, foram deficientes que morreram na máquina da morte’. Essa fala é do companheiro Jacques Wagner na tribuna do Senado. A fala do companheiro Valter Pomar com as críticas ao companheiro Jacques Wagner são graves, infelizes e injustas. Jacques Wagner não é da minha tendência, Jacques Wagner não é da minha chapa, mas a gente precisa colocar as coisas como elas são. O companheiro Jacques Wagner sempre defendeu a solução de dois estados. O companheiro Jacques Wagner sempre se alinhou com judeus que estão apanhando no estado de Israel porque são contra o governo de Netanyahu, e colocar o companheiro Jacques Wagner como alguém que passa pano para o governo de Netanyahu é um desserviço ao Partido dos Trabalhadores”.

Acontece que Murilo me acusa de algo que eu não disse. Eu não disse que Wagner passa pano para Bibi. O que eu disse, como pode ser constatado na transcrição ou diretamente no vídeo, foi que Wagner passa pano para o Estado de Israel.

A minha frase foi esta aqui: “tem um setor do nosso partido, tem um setor da nossa bancada, e em especial o Jacques Wagner, que passam o pano no estado de Israel, defendem e querem separar. Querem separar o que é o governo de Bibi Netanyahu do que seria o mítico Estado de Israel”.

Pode ser que Murilo tenha ouvido mal? Pode. Mas acho mais provável que ele não conheça algo chamado “sionismo de esquerda”.

Indício deste desconhecimento é o seguinte trecho da fala de Murilo: “Posso discordar do momento em que foi proposto, que foi proposto no Senado. Posso achar que ele foi pouco incisivo, posso achar que ele não tem uma posição como a minha, mas daí a dizer que ele é alinhado com sionismo é um equívoco político brutal para o Partido dos Trabalhadores que eu não posso deixar passar aqui”.

Ser “pouco incisivo” frente a um genocídio já é algo em si mesmo notável. Mas esta é, exatamente, uma das condutas do sionismo de esquerda.

Foi o que comentei na minha fala final no debate. Eu disse o seguinte: “Queria começar comentando a defesa veemente que o companheiro Murilo fez do Jacques Wagner. Ele disse, abre aspas: “Muito do que é feito na Bahia é o que gostaríamos de ver no Brasil”, fecha aspas. Nós estamos no quinto mandato do PT no governo estadual da Bahia, e, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2024, a Bahia é o segundo estado no ranking de letalidade policial militar. Amapá é o primeiro, Bahia é o segundo. Um em cada quatro casos de violência policial militar no Brasil acontecem na Bahia. Então, pessoal, menos. A gente fez muita coisa boa, mas nem tudo é legal. Quando eu critico o Edinho, eu não tô dizendo que o governo dele em Araraquara foi ruim. Quando eu critico o Quaquá, eu não tô dizendo que o governo dele em Maricá foi uma porcaria. Quando eu critico Jacques, eu não tô me referindo a tudo que foi feito no governo. A crítica que eu fiz foi bem concreta: frente à tramitação do tal Dia da Amizade Brasil e Israel, neste contexto, ele deu uma declaração horrorosa que eu li aqui. E veja, disse também a respeito do Jacques que ele tenta exatamente diferenciar o governo Bibi, que ele critica, do Estado de Israel, que ele defende. Foi isso que eu falei. E para ficar claro, ele disse também o seguinte num outro momento: ‘A crítica legítima ao atual governo de Israel e a sua política externa não pode arrefecer nossa luta contra o ódio aos judeus.’ Óbvio que nós temos que lutar contra o ódio aos judeus. Óbvio que nós temos que combater o antissemitismo. O golpe tá no seguinte: qualquer crítica ao Estado de Israel é tratada como se fosse antissemitismo e se esconde o fato de que o nazismo e o sionismo têm ambos um fundo racista. Esse é o ponto, essa é a crítica. E o próprio Jacques, quando o Lula disse que o que estava acontecendo era genocídio e comparou ao Holocausto e comparou o Bibi a Hitler, o próprio Jacques disse: “A comparação não é pertinente.” Então, assim, reitero tudo o que eu falei — não aquilo que tenha sido entendido (…).
Na sua fala final, posterior a minha, Murilo disse o seguinte acerca da polêmica: (…) Antes de entrar nas minhas considerações finais, eu queria dialogar com o companheiro Valter. Fico feliz que você não tenha dito na sua última fala que o companheiro Jacques Wagner é sionista. Ao contrário, você disse que ele tenta afastar o governo de Netanyahu do que são judeus. É isso mesmo. Por quê? E o Estado de Israel. Porque o PT e ele defendem a solução de dois estados. Isso é nítido. E aqui eu não tô dizendo que não cabe crítica à postura dele. Não, eu não tô dizendo isso. Eu tô dizendo que a crítica não é real. Jacques Wagner é um democrata reconhecido no PT. Dizer que ele apoia o governo de Bibi Netanyahu é um equívoco. Ponto. Ponto. E gostaria que respeitasse minha fala como respeitei a de todos. E ainda mais, pega 30 segundos de uma fala sobre segurança pública na Bahia como se isso resolvesse o debate. Talvez a gente precisasse fazer, companheiro, outro debate com a mesma duração que esse pra gente debater o problema da segurança pública no Brasil e na Bahia. Quais foram os erros do governo do PT, quais foram os acertos, aonde faltou iniciativa, aonde foi equivocado. Mas não são 30 segundos que resolve. E você falou dos 30 segundos sem reconhecer nenhum avanço que lá teve, talvez porque não conheça, inclusive”.
Começo pelo final: realmente eu não conheço a Bahia como Murilo conhece. Mas isso não me impede de criticar a conduta da Polícia Militar da Bahia. Aliás, fiz isso diretamente ao Rui Costa, numa reunião do Diretório Nacional do PT. De toda forma, minha referência ao tema PM da Bahia foi apenas para demonstrar o óbvio: nem tudo são flores. Frente a este fato, Murilo resolveu dar carteirada. Mas, infelizmente, isto não muda os fatos: depois de quase duas décadas de governo, a PM da Bahia nos envergonha.
Seja como for, os espinhos e as flores dos governos petistas na Bahia não podem nos impedir de debater a postura do senador Wagner diante de Israel.

Como já disse, um problema é que Murilo parece achar que todo sionista é apoiador de Bibi. Mas não é assim. Existem sionistas que se opõem ao governo de Bibi. Existem sionistas que criticam os “excessos” (sic, argh) do atual governo, inclusive porque estes excessos estão causando danos ao principal, a saber, a legitimidade do projeto sionista do Estado de Israel.

Nem todo sionista é de direita. Existem sionistas que são, pelos padrões brasileiros, “democratas”, “de esquerda”, radicalmente contra Bolsonaro, assim como são contra Bibi. Assim como existem sionistas que defendem sinceramente a solução dos “dois Estados”, mas que na prática defendem o Estado de Israel de tal maneira, que contribuem para que o Estado da Palestina nunca saia do papel.

Jaques Wagner é um destes que defende os interesses do Estado de Israel. Murilo, se entendi direito, acha que defender o Estado de Israel seria uma decorrência da posição defendida pelo PT, a saber, a defesa dos dois Estados.

É um ponto interessante, que realmente merece debate. Mas do ponto de vista político, alguém tem dúvida de que, na situação atual, a postura de Wagner tem sido a de moderar a reação do governo Lula frente ao genocídio? E alguém tem dúvida a quem isto serve??

Neste sentido, é paradoxal: Murilo, que começou sua fala defendendo “medidas duras”, terminou reforçando a posição dos que defendem medidas bem moles.

Ligando o modo empatia, entendo os motivos pelos quais Murilo fez uma defesa tão enfática de Wagner, mesmo que isso na prática anule sua demanda por medidas duras do governo brasileiro.

Mas os motivos de Murilo, todo o PT da Bahia sabe. Recomendaria, entretanto, não exagerar na dose. Na prática, ao divulgar sua performance defendendo Wagner, Murilo só deu mais publicidade ao assunto. Como ensinou faz tempo o Castiglione, um bom cortesão deve saber dissimular seu entusiasmo. Senão, produz o efeito oposto ao pretendido.

(*) Valter Pomar é professor e candidato à presidência nacionald o PT

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