Jaques Wagner “passou do ponto”

Por Valter Pomar (*)

Jaques Wagner considera que Lula “vamos dizer, passou do ponto”.

Onde?

A fonte está aqui:  Jaques Wagner (PT-BA), afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) “passou do ponto”

Palavras de Wagner, segundo a fonte acima: “Para mim, a única coisa que, vamos dizer, passou do ponto foi a comparação. Porque eu acho que aquele episódio [Holocausto], que foi a maior barbárie do século 20, é um episódio único. Agora, a indignação do presidente, se eu puder apostar, é a indignação da ampla maioria dos seres humanos no mundo”.

De fato, o século 20 foi cheio de barbáries.

E o holocausto foi especialmente terrível.

Vale lembrar que o holocausto foi resultado final de uma decisão política: a de realizar uma “limpeza étnica”.

Por isso, quem realmente se indigna com o holocausto, odeia quem defende e quem pratica “limpeza étnica”.

E, também, despreza quem acoberta, passa o pano, olha para o outro lado, justifica, minimiza ou muda de assunto.

Tudo isto ajuda a explicar a indignação da “ampla maioria dos seres humanos no mundo”, contra a “limpeza étnica” praticada por Israel, tendo como vítima o povo palestino.

Hitler operou uma “limpeza étnica”, o governo de Israel quer fazer uma “limpeza étnica”.

Israel está, neste momento, oferecendo duas opções ao povo palestino em Gaza: morrer ou desaparecer.

Tudo isso apoiado numa operação ideológica que visa desumanizar os palestinos.

Nisto reside, entre outras coisas, a “comparação” entre o que Israel está fazendo hoje e aquilo que os nazistas fizeram anteontem.

Isto posto, sugiro a Jaques Wagner que releia as frases agora célebres, onde Lula disse o seguinte: “O que está acontecendo na Faixa de Gaza, com o povo palestino, não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando o Hitler resolveu matar os judeus”.

Como se pode ver, Lula não falou a palavra holocausto.

Sendo assim, por qual motivo Jaques Wagner fala que Lula “passou do ponto” ao fazer a “comparação”?

Na minha opinião, porque assim manda o “manual”: se criticam Israel, fale do holocausto.

E aí a discussão passa a ser sobre o holocausto, “a maior barbárie do século 20”, ao mesmo tempo que Israel está praticando aquela que já é uma das maiores barbáries do século 21.

O nome técnico disso é diversionismo.

Falo um pouco mais sobre isto aqui: Valter Pomar: O governo de Israel deveria ”aprender História e pedir desculpas” – Viomundo

Felizmente, são muitas as vítimas do holocausto que estão do lado certo da história e não aceitam que se use o holocausto como “justificativa” para o genocídio contra o povo palestino.

Por isso, acho que Wagner, vamos dizer assim, “passou do ponto”.

Afinal, o diversionismo – mesmo quando vem fantasiado com palavras gentis e sorriso largo – não consegue ocultar a realidade.

E a realidade é que o genocídio precisa parar, a ocupação deve terminar, a Palestina deve ser livre, os criminosos de guerra precisa ser punidos.

(*) Valter Pomar é professor e membro do diretório nacional do PT

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