Por Nicole Di Domenico (*)
O britânico Jeremy Corbyn, de 71 anos, é uma figura tão importante no Labour (Partido) como na política britânica no geral. Começou sua militância política ainda adolescente, passando pela setorial sindical, ocupa posições importantes dentro do Partido até que em 1983 é eleito parlamentar por Islington North. Sendo uma figura comprometida com as lutas sociais, defesa de direitos e manutenção do NHS (National Health Service – Serviço Nacional de Saúde).
Em 2015 é eleito líder do Labour, assinalando para muitos a esperança de uma guinada à esquerda depois de muitos anos sob o jugo da ala mais à direita do Partido. Essa vitória foi marcada por uma forte disputa pelos rumos do partido e da política inglesa.
E essa disputa que nascera antes mesmo do resultado das eleições, elucidava que os anos seguintes não seriam fáceis. Isto é, Corbyn foi alvo de sabotagens, mentiras, tanto por parte dos parlamentares reacionários quanto por parte de colegas de Partido da ala conservadora. No entanto, cabe destacar que a popularidade de Corbyn na sociedade era positiva.
A relação da disputa de poder, seja no seio do Partido, para alavancar mudanças estratégicas, seja externa – na forma de como o Partido e a figura de Jeremy se relacionam com seus opositores – foi bastante intensa. Mas ainda havia um terceiro elemento imprescindível para a compreensão dos fatos. Esse terceiro elemento era a população.
Jeremy manteve sempre um bom nível de popularidade entre seus simpatizantes. Todavia, essa popularidade cai em franco degringolamento em razão de Corbyn passar a adotar gradativamente posições mais moderadas e conciliadoras em relação ao BREXIT, bem como o papel de oposição pela esquerda com posições firmes que não foi cumprido.
E as polêmicas não param por aí. Corbyn foi acusado de antisemitissmo e de fazer suposta vista grossa a este problema presente no Labour. Esta polêmica tem desdobramentos no decorrer das eleições gerais de 2019, o que serviu como estopim para desqualificar um possível governo Corbyn. Recentemente Corbyn recebeu afastamento de três semanas do parlamento pela nova direção do Labour. Em abril de 2020, depois de um ciclo de cinco anos, Corbyn deixa de ser líder do partido e dá espaço a Keir Stamer.
O sucessor de Corbyn não se comprometerá com as mesmas lutas que Corbyn se comprometeu. Keir parece ser um alento aos setores mais conservadores do Labour, pois não irá comprar o debate à esquerda, permanecendo em uma posição neutra e moderada que fortalecerá cada vez mais a ala conversadora do Partido, num cenário em que essa estratégia, mesmo que seguida sem muito aparente afinco, possibilitará que a direita volte a ocupar a direção do Partido.
Enquanto os ares parecem mudar para uma situação cada vez pior, tanto no Partido quanto na conjuntura do Reino Unido, é necessário que lembremos que ainda existe esperança, apesar dos ataques da direita há sempre o contraponto às medidas absurdas que estão em pleno desenvolvimento no país.
O legado de Corbyn dentro da direção do Partido pode ter chegado ao fim, mas é inegável a sua importância para a esquerda local e espelho para o globo. Apesar de suas falhas, lapsos de política moderada, erros e certos, Corbyn é um dos grandes nomes da política inglesa.
(*) Nicole Di Domenico é militante do PT