Por Felipe da Silva Freitas (*)
Luiz Alberto, ex-deputado federal pelo PT da Bahia
A partida de Luiz Alberto é uma perda irreparável para o movimento negro brasileiro e para a luta das trabalhadoras e trabalhadores do nosso país. Como parlamentar, como dirigente partidário e, também, como gestor público, Luiz Alberto foi um incansável defensor dos direitos das pessoas negras e jamais vacilou na defesa de um projeto de esquerda para a sociedade brasileira. Como deputado federal por cinco mandatos, entre 1997 e 2015, Luiz liderou a formação da Frente de Parlamentares Negros na Câmara dos Deputados, protagonizou a articulação de deputados e deputadas em defesa da Petrobras; enfrentou os ataques aos trabalhadores durante o segundo governo de FHC; combateu as privatizações realizadas pelo governo federal; realizou históricas sessões em defesa das religiões de matriz africana; e as comunidades quilombolas de todo o país e realizou inéditas articulações entre parlamentares negros e lideranças políticas da América Latina e Caribe de toda a diáspora africana.
Tenho a honra de conhecer Luiz Alberto desde quando eu tinha 15 anos de idade e militava no movimento estudantil secundarista. Pude, ao seu lado, participar de todas as disputas eleitorais em que se envolveu, bem como de ser seu assessor durante o mandato de deputado federal. Foi Luiz Alberto quem sugeriu meu nome como assessor da então ministra da Igualdade Racial, Luiza Bairros, em 2012, e viabilizou minha atuação no governo federal até o golpe de 2016. Também foi dele o apoio para que, mesmo após o impeachment da presidenta Dilma, eu permanecesse em Brasília, concluísse meus estudos de doutorado e me envolvesse em outras frentes de luta na docência universitária. Sua presença foi determinante em todos os aspectos da minha vida política e intelectual.
Nos últimos meses, tive a honra de conviver com Luiz na condição de meu assessor especial no Gabinete da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos. A sua presença na nossa equipe é uma demonstração inequívoca de sua disposição militante e de sua devoção à coisa pública e aos interesses coletivos do nosso povo. Como assessor na SJDH, Luiz vinha liderando inúmeras iniciativas na defesa das comunidades quilombolas, na interiorização da política de direitos humanos no estado, e em várias outras áreas da nossa atuação institucional. Ontem mesmo, assinei uma Portaria que criou o grupo de trabalho para elaborar diretrizes inéditas de combate ao racismo nas relações de consumo no estado da Bahia. O GT é resposta a uma perspicaz provocação de Luiz Alberto que, nos últimos meses, trabalhou intensamente com a equipe do PROCON Bahia para que esta iniciativa se tornasse realidade.
A equipe da SJDH está profundamente impactada pois, nos 12 meses de convivência que teve com Luiz, pode sentir de perto a energia do diálogo respeitoso com um militante entusiasmado e disposto a aprender, no diálogo franco e sincero, com profissionais das mais diferentes gerações. É unânime entre os servidores da secretaria o reconhecimento à maneira desprendida com que Luiz colocava-se entre todos sem jamais reivindicar para si o “título” de ex-deputado ou de ex-secretário de estado. Pelo contrário, Luiz, em que pese sua trajetória e carreira diferenciada, foi mais um entre os vários servidores públicos que constroem a política de acesso à justiça e direitos humanos em nosso estado, portando-se com especial generosidade entre todos nós.
A partida de Luiz é um momento de profundo sofrimento em minha vida e, seguramente, na vida de todas e todos que puderam ser tocados por sua presença revolucionária e comprometida entre nós. Não consigo calcular o peso que terá viver os próximos embates políticos sem o conselho, a presença entusiasmada e a lucidez militante do gigante Luiz Alberto Silva dos Santos; porém estou seguro de que a força de suas ideias seguirá impulsionando a todos nós, e que seu legado de coerência e dedicação é um exemplo e uma inspiração para a atual e as futuras gerações.
(*) Felipe da Silva Freitas é Secretário de Justiça e Direitos Humanos do Estado da Bahia