Por Thaísa Magalhães (*)
A denúncia do absurdo contexto de violências a que as mulheres são expostas no Brasil desde o dia que nascem, derivada de uma combinação de explorações e subserviências, dado o casamento perfeito do capitalismo com o patriarcado. A luta contra esse contexto se impõe cada vez mais como uma questão de sobrevivência para as mulheres, impulsionando a realização dos atos 8 de Março.
A luta de resistência contra a perda de direitos nos últimos anos, deixou explicita a vida precarizada das mulheres no Brasil. O desmonte dos serviços públicos gera perdas gerais para a classe trabalhadora; os ataques à educação e ao SUS, sobrecarregam ainda mais as mulheres que são culturalmente responsabilizadas com os cuidados dos/as doentes e dos/as filhos/as.
A violência doméstica é pauta (e precisa ser) dos movimentos de mulheres há anos, porém é preciso explicitar que a gênese da violência doméstica é a mesma que impede mulheres de alcançar melhores postos de trabalho e emancipação financeira, que impede a segurança na rua com estranhos, que tenta impedir as mulheres de ocuparem espaços de poder.
Tanto mais agora, em que o golpe de 2016 trouxe o fundamentalismo religioso para o centro da ideologia moral construída para enfrentar e derrotar o campo progressista, principalmente o PT.
Ainda assim, a organização do 8 de Março tem de superar a miopia de quem não percebe as necessidades do momento. Por exemplo, a criminalização dos Partidos Políticos e das Centrais Sindicais se reflete nos recorrentes questionamentos a presença de militantes vestindo camisas e portando bandeiras de suas organizações.
No fundo desta miopia está a visão liberal, que há algum tempo se apropriou da palavra sororidade. Lembra o combate contra as violências individuais, mas o desvincula do contexto político social. A sororidade individual não resolve o problema das empregadas domésticas, que revivem as violências nas casas das patroas. E outras trabalhadoras, em grande parte negras, continuam apartadas da seguridade social. Enquanto as violências que culminam no feminicídio não forem entendidas, não como um problema individual, mas como parte do sistema capitalista, que é em sua gênese patriarcal e racista, as estatísticas seguirão aumentando enquanto o neoliberalismo fascista avança no Brasil e no mundo.
Ainda há na construção coletiva, não apenas do 8 de Março, mas do campo progressista, a instrumentalização de pautas elencadas como pertencentes a um ou outro grupo. O rompimento do racismo não é apenas de interesse das negras/os, assim como a superação do machismo e da LGBTIfobia não são interesses apenas de mulheres e das LGBTI, são interesses de todas e todos que se propõem a construir uma sociedade de igualdade social. Avançar nesse diálogo ainda é um desafio.
Neste contexto, é inegável a responsabilidade do PT e da CUT para que o ano politico, pós carnaval, seja iniciado com mobilizações exitosas.
O 8 de Março precisa evidenciar e dar protagonismo à luta das mulheres por igualdade de gênero, denunciar o que muitas vezes os movimentos gerais deixam de lado, por não incluir o patriarcado e racismo em suas análises. Mas o 8 de março não pode incorrer no erro de negar a luta de classe, precisando também se encarar enquanto uma discussão para a construção de uma outra sociedade, entendendo que romper com o patriarcado hoje é necessariamente romper com o capitalismo.
O 8 de Março é construção de uma rede que, apesar das divergências trazidas por sua composição e do esforço necessário à sua organização, entende a necessidade de levar a esquerda e a luta pras ruas, o que o tem mantido constante nos últimos cinco anos. Mas a unidade ainda é uma palavra muita usada como intenção e pouco exercida na ação.
Vamos ao 8 de Março de 2020 lutar por outra sociedade, pelo fim das violências, contra o desmonte do serviço público! A luta pelo feminismo é socialista!
(*)Thaísa Magalhães é Secretária da Mulher Trabalhadora CUTDF, integra o Coletivo Distrital de Mulheres do PT