Manter as aulas na rede estadual em meio ao desastre no RS?

Por AE Sindical (RS)/Esperançar a Escola Pública

Caros colegas da categoria dos profissionais da educação e comunidade escolar gaúcha!

Não há justificativa plausível para retomar as aulas. O governo Eduardo Leite e a Secretária de Educação Raquel Teixeira, ao implementarem o projeto de educação do PSDB, um projeto neoliberal, erram ao manterem a normalidade das aulas, inclusive em áreas de vulnerabilidade dos efeitos climáticos, os quais foram desconsiderados preventivamente pelo próprio governo que não investiu em prevenção e mitigação dos problemas ambientais. Ao contrário, modificou 480 artigos do Código Ambiental do Estado para flexibilizar as liberações de licenciamentos ambientais.

Observamos que enfrentamos muitos problemas encontrados pela comunidade escolar que dizem respeito às seguintes questões:

1. Comunidade com muitas informações desconectadas, causando alvoroço e ansiedade pela situação climática. O fato de o governo avaliar todos os dias a possibilidade de retorno ou cancelamento das aulas, só favorece o caos já instalado. O governo deve dar uma resposta concreta para cada região e adiar o término do calendário letivo de 2024 para proteger e acolher a comunidade escolar gaúcha.

2. Incerteza sobre o abastecimento de combustíveis. Não há previsão de retomada da normalidade do abastecimento, causando muita insegurança e instabilidade emocional.

3. Escolas necessitando de reparos e limpeza, muitas com necessidades antes mesmo desse sinistro anunciado. Precisamos de tempo para colocá-las em ordem, não dá para querer ser acolhedor quando não temos as condições mínimas de segurança e conforto nas escolas.

4. O Sistema de dados da PROCERGS está desligado. Não temos ISE, FPE, RHE, PROCERGS ESCOLA, PROFESOR E ESTUDANTE. Não há justificativa para voltar nessas condições ao menos não enquanto não retomar certa normalidade.

5. Os profissionais da educação estão sem condições de chegar nas escolas, sair de casa ou atingido pelas águas em suas próprias residências. Muitos de nós estamos sofrendo consequências diretas desse evento climático de proporções desastrosas. É de uma falta de empatia e solidariedade exigir que nessas condições retomamos as atividades como se tudo estivesse normal. NÃO ESTÁ!

6. A comunidade atingida pelas chuvas não tem como atender nem o híbrido. Como vamos querer que os e as estudantes que não tem condições de irem para a Escola vão conseguir ir pegar material ou ter acesso online. É de um contrassenso descabível. É aula para “inglês ver”. Não tem compromisso pedagógico com aqueles e aquelas que não terão possibilidade de acesso por diversos motivos.

7. E não menos importante, o impacto emocional, especialmente das crianças, assim como de todos aqueles/as que perderam familiares e amigos. Cidades foram completamente destruídas, histórias e recordações das pessoas apagadas pela invasão das águas. Agora vem o retorno para o lar destruído pela enchente. Da saída dos abrigos para o retorno às sua casa danificadas ou aniquiladas.

Assim, nós do Esperançar a Escola Pública, solicitamos que prudentemente sejam suspensas as atividades dessa semana, e semana seguinte até que o Estado consiga ter de volta uma certa normalidade de tráfego, abastecimento, acolhimento e restabelecimento do fluxo de dados do sistema da PROCERGS. Podemos recuperar as aulas tranquilamente adequando o calendário a estas novas necessidades, porém, jamais poderemos recuperar vidas e adoecimentos causados pela ansiedade climática e transtornos sociais causados pelo medo e a insegurança.

Da mesma forma, solicitamos à Direção do CPERS Sindicato que acione o Ministério Público para que garanta o adiamento do calendário letivo em função do estado de calamidade pública dos municípios e, ao mesmo tempo, convoque a categoria para ato/manifestação cobrando do governo ações que minimizem e acolham as comunidades escolares atingidas pelas enchentes. Linhas de créditos a juro zero pelo Banrisul, financiamento de móveis e imóveis, materiais escolares para os estudantes, reconstrução das escolas e assistência psicológica nas escolas para tratamento da ansiedade climática. A reconstrução se faz com muitos investimentos.

Cuidem-se todas e todos.

Mantenham-se seguros, calmos e sempre solidários ao próximo. O Rio Grande do Sul e o Brasil deram uma aula de solidariedade da classe trabalhadora e isso fará toda a diferença daqui para frente. Os governantes sabiam das previsões catastróficas e nada fizeram para cuidar do povo e da natureza. Está na hora de rever o voto que é depositado nas eleições. Negacionistas, NUNCA MAIS!


(*) redacao@pagina13.org.br

Uma resposta

  1. É isto!! É inconcebível que se pense em voltar ás aulas. Professores e alunos estão em condições precárias, mas também em condições mentais abaladíssimas. É um contra senso pensar no retorno normal ás aulas nesse momento. Resistência!

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