Meios e fins na guerra eleitoral

Por Valter Pomar (*)

Guerra é um fenômeno violento, brutal, onde a força atropela toda lei e ordem.

Verdade?

Em parte sim.

Mas até mesmo na guerra há procedimentos considerados criminosos.

Armas que não se pode utilizar indiscriminadamente, por exemplo.

Por isso as vezes acontece, no meio de uma guerra, que um soldado ou um oficial sejam presos, julgados, condenados e até mesmo executados por seu próprio “bando”. Isso tudo por terem transgredido certas leis da guerra.

Hipocrisia? Em parte, sim. Afinal, que sentido faz punir alguém por ter matado do jeito X e não do jeito Y?

Mas, ao menos em parte, não se trata de hipocrisIa.

Principalmente quando se trata de guerras civis ou de guerras de libertação nacional, em que o apoio político do povo é um fator importante – inclusive do ponto de vista militar – o respeito às “leis da guerra” pode ser decisivo.

É por isto que, por exemplo, todas as guerrilhas bem-sucedidas exigiam que seus integrantes respeitassem e não cometessem violências contra o povo.

Há vários casos – na guerrilha cubana, por exemplo – de condenações à morte de guerrilheiros que exibiam o que era considerado comportamento inadequado.

E, quando ocorria uma condenação desse tipo, a ninguém ocorria dizer coisas do tipo “estão dando tiro no pé”, “vamos nos concentrar em vencer”, “vamos deixar para depois”.

Não ocorria a ninguém tais coisas, entre outros pelo simples motivo de que a “ética no combate” era um componente importante da soma de fatores que, na visão dos guerrilheiros, tornaria possível a vitória final.

Isto posto, ressalvadas as múltiplas diferenças entre guerra e política, acontece algo similar nas campanhas eleitorais. Não se pode nem deve fazer “tudo”.

Não se pode, por exemplo, fazer igual ao que nossos inimigos fazem. Não se pode “deixar para depois” a discussão sobre certas atitudes. Não basta ser “legal” para ser legítimo.

Claro, podemos divergir sobre se esta ou aquela atitude merece ou não reprovação. Podemos divergir sobre o que fazer quando alguém comete uma atitude reprovável.

O que não podemos é achar que, em nome da “vitória”, tudo pode ser feito e nada pode ser questionado.

Pelo simples motivo de que a indiferença em relação aos meios é característica dos capitalistas. Para a classe trabalhadora, há uma relação entre meios e fins.

É também por isso que devemos ser criteriosos no trato das contribuições de campanha. Apesar do que dizia o imperador, dinheiro tem cheiro.

(*) Valter Pomar é professor e membro do diretório nacional do PT

Uma resposta

  1. “Facçionismo Partidario.”
    Ética no combate!!
    O PT já passa por uma fase diferenciada..”A Fragmentaçao interna, muito daquilo que foi exposto..”Algumas regiões estão divididas, polarizadas isto tornou se o fenômeno da “Facçao Pártidaria..Antagonismo, intolerância e falta de ética no combate.”. é preciso revermos nossos conceitos.”

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