Bolsonaro usa expressão do futebol para encobrir suas intenções autoritárias; a torcida vaia
Por Paulo Sérgio de Proença (*)
O futebol é fenômeno interessante e complexo.
Arrebata paixões em barracos e palácios, em cristãos e não cristãos, em pobres e ricos; arrebatou a preferência de outros esportes e, além de crianças e jovens, mulheres – felizmente – desfilam nas canchas desse esporte. A complexidade reside no fato de que concentra as contradições da vida em sociedade.
Interessantes aspectos do esporte deveriam inspirar fair-play, mas tendências à barbárie afloram quando torcedores anônimos se juntam em torcidas e, com atos de violência, estragam a festa; nesse circo, o racismo não fica ausente – nem o machismo, fatores que se ligam à complexidade de elementos que configura qualquer arranjo social.
A Ditadura Militar se aproveitou da conquista da Copa de 1970, usada como cortina de fumaça para encobrir a tortura e a morte e cabalar a opinião pública em favor do regime, para cujo fim foram criados hits musicais e associação da conquista à imagem (falsa) de país em harmonia.
Devido à sua popularidade, o futebol está presente nas trocas linguísticas, das conversas informais a gêneros mais formais; expressões futebolísticas tornam a comunicação mais amena e direta, simplifica a comunicação sem necessidade de esforços argumentativos mais elaborados. Quando usadas com habilidade, as analogias do futebol se tornam poderosos recursos de persuasão.
O ex-presidente Lula tem habilidade para isso; ele nunca escondeu sua paixão pelo futebol e pelo seu clube de preferência, de forte apelo popular. Quando bem encaixadas numa sequência argumentativa lógica, certas expressões dão logo o recado, como estas: jogar pra escanteio, bola murcha, encher a bola, pisar na bola, jogar pra torcida, bola pra frente e tantas outras. Era o que acontecia nos pronunciamentos do ex-presidente.
Ocorre que Bolsonaro tem repetido esta expressão alusiva ao futebol: “estou jogando nas quatro linhas”, em alusão ao formato do campo em que se joga futebol, para dizer que ele respeita as regras do jogo.
É notória, contudo, a falta de sintonia entre o que ele diz e o que ele faz. Dizer é uma coisa; ser (fazer) é outra. Bolsonaro é um perna-de-pau, que não sabe nem quer jogar o jogo democrático.
O campo em que o atual presidente joga é o da ruptura, da insolência, do autoritarismo; nesse esporte, é inigualável. O seu jogo é desmontar o Estado; induzir ao armamento; aumentar a fome; divulgar fake News; desestabilizar as instituições, principalmente o STF-Supremo Tribunal Federal, que contém sua voracidade ditatorial, e o TSE-Tribunal Superior Eleitoral, que bloqueia suas tentativas de melar a eleição. Ele parece um menino mimado que para o jogo quando está perdendo. E há muito mais. Isso é jogar nas quatro linhas? Só a torcida bolsonarista acredita nesse embuste – ou finge acreditar.
É preciso considerar, ainda, que dentro das quatro linhas é possível violar regras do jogo, como indispor juiz contra torcida. Além disso, um carrinho desleal, uma cotovelada violenta, mão na bola e simulação de pênalti inexistente são expedientes desleais; vale tudo para derrotar o time adversário e, quando não se joga bem e bonito, apela-se a recursos ilícitos (criminosos).
Chegou a hora de mandar Bolsonaro para o chuveiro (de Bangu). Vai tarde.
Cartão vermelho para ele.
Ele e seu time serão rebaixados.
A bola das eleições está na marca do pênalti. A goleada nas urnas está chegando.
(*) Paulo Sérgio de Proença é professor da Unilab -Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, Campus dos Malês-BA.