Por Gabriel Araújo (*)
Antes que os oportunistas cogitem distorcer a orientação política no título deste artigo, é preciso desde já deixar clara a saudação e o total apoio ao presidente Lula, que mesmo encurralado institucionalmente na situação política doméstica e pressionado pelo imperialismo para capitular, apoiou o pedido da África do Sul para condenar Israel pelo genocídio contra os palestinos e convocou o embaixador brasileiro em Israel para retornar ao Brasil após o governo Netanyahu tentar enquadrar o governo brasileiro.
O presidente Lula com essas medidas demonstra que não é um Papa de Esquerda, mas um político de esquerda anti-imperialista e com coragem para defender os interesses soberanos do Brasil.
Porém, essa postura não é mero fruto da cabeça do presidente, em grande medida essa posição ela advém das reivindicações incansáveis dos defensores do povo palestino no Brasil, da identificação do perigo de continuar tergiversando sobre a situação (as perseguições judiciais e policialescas contra os defensores do povo palestino estão em uma crescente nunca vista antes) e da própria conjuntura geopolítica e econômica internacional.
Visivelmente ao mesmo tempo em que essas medidas são tomadas, também existe uma cautela para não esticar a corda até que a mesma quebre. Lula jogou a batata quente no colo de Netanyahu, mas a tendência é que o conflito fique cada vez mais intenso e ocorra de forma mais aberta. Isso é um reflexo do próprio processo de aprofundamento da polarização política e econômica na dinâmica do capitalismo.
Apesar de Israel ter pouca relevância na balança comercial brasileira (representando 0,2% das exportações e 0,6% das importações, de acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), a influência de sionistas na própria economia nacional é de extrema relevância. São diversos monopólios nacionais em variados setores da economia que tem estreita relação com o sionismo e sua entidade política. Esses elementos tem se agrupado na Confederação Israelita do Brasil (CONIB), que na realidade é um órgão do Estado de Israel infiltrado na dinâmica política do Brasil que permanece em um sistemático assédio contra os interesses do povo brasileiro.
Os sionistas que se fazem presentes em solo nacional ou nas relações políticas-econômicas exteriores entre Brasil-Israel, detém uma enorme influência entre os bolsonaristas e a chamada direita “civilizada”, contando com grande apoio da comunidade evangélica. Essa situação não pode ser negligenciada na análise, principalmente com a escalada da tensão política entre o governo brasileiro e a entidade sionista.
Esse cenário atual é apenas o inicio de uma paisagem política que tende a efervescer mais e mais. Tendo em perspectiva que a postura do governo brasileiro de condenar o genocídio sionista contra os palestinos de maneira mais contundente e aberta, de forma institucional já tem gerado o descontentamento e o agrupamento dos setores mais reacionários do país, certamente estes últimos tomarão a postura para desestabilizar concretamente o governo. Até o presente momento, as mobilizações nas ruas desse setor direitista têm atuado de forma mais contida.
O sucesso da ação da resistência armada palestina e os reflexos desse sucesso no avanço de medidas institucionais são frutos da coragem das ações da luta armada e das mobilizações de rua em centenas de países ao redor do globo terrestre.
Devemos saudar o avanço das medidas institucionais, mas as medidas concretas que podem levar ao fim do Estado Nazista de Israel e do controle do imperialismo na região do Oriente Médio, são as mobilizações de rua de maneira incansável e cada vez mais massivas. Essa é na realidade, a única forma efetiva e concreta, de nos solidarizarmos com a causa do povo palestino.
(*) Gabriel Araújo é dirigente do MNLM e militante do PT