Nassif propõe entregar os pontos

Por Valter Pomar (*)

Como piorar ainda mais uma situação difícil?

Um bom exemplo disto é a proposta feita por Luís Nassif, em artigo intitulado “ É hora de Lula começar a preparar sua sucessão” e disponível no seguinte endereço: https://jornalggn.com.br/coluna-economica/e-hora-de-lula-comecar-a-preparar-sua-sucessao-por-luis-nassif/

Embora em nenhum momento diga isso de maneira explícita, o que Nassif sugere é que Lula não seja candidato em 2026.

Os “argumentos” de Nassif são basicamente subjetivos: “o herói cansou”, “não tem mais paciência”, “não terá pique”.

Talvez por pensar assim, Nassif trata como insuperáveis as nossas atuais dificuldades: “um governo sitiado, sem espaço para ampliar os gastos, “a apropriação de grande parte do orçamento pelo Centrão”, “a armadilha da política monetária-fiscal”, “a total incapacidade do governo de articular qualquer proposta que devolva ao país a capacidade de sonhar”.

O que Nassif propõe frente a isto é… desistir, capitular.

Outra atitude é possível, necessária e urgente.

Ela consiste, entre outras coisas, em mudar a orientação política do governo, especialmente a relativa ao impossível “déficit zero”.

Desistir de fazer isso, usando como pretexto a suposta inapetência de Lula, nos condenaria a derrota não apenas em 2026 e depois, mas também nos condenaria a derrota imediata, em 2025.

Afinal não é criando artificialmente um “sucessor” que Lula fará “o governo parar de jogar na retranca e criar uma expectativa de futuro”.

Em 2005, numa situação muito mais difícil que a atual, também propuseram que Lula abrisse mão de disputar a reeleição.

Mas a escolha feita pela militância petista no PED de 2005 foi outra: mudamos de política e demos a volta por cima.

É o que a militância deve fazer, novamente, no PED deste ano de 2025. Para nós, entregar os pontos nunca foi uma boa alternativa.

(*) Valter Pomar é professor e membro do diretório nacional do PT


Segue abaixo o texto criticado acima:

É hora de Lula começar a preparar sua sucessão, por Luís Nassif 

Há um quadro complexo pela frente.

De um lado, tem-se um governo sitiado, sem espaço para ampliar os gastos e preso a duas armadilhas.

Uma delas, a apropriação de grande parte do orçamento pelo Centrão em um movimento duplo: tirando fôlego político do governo e turbinando eleitoralmente os parlamentares.

Some-se a isso a armadilha da política monetária-fiscal, obrigando o Banco Central a manter juros estratosféricos, que impedem qualquer relançamento maior da economia.

E, no meio, a total incapacidade do governo de articular qualquer proposta que devolva ao país a capacidade de sonhar.

No centro dessa ciranda, Lula, indiscutivelmente a maior liderança moderna do país, único governante que, em período democrático, conseguiu amenizar um pouco a gritante desigualdade brasileira e criar algumas políticas estruturantes.

Lula é o maior ativo internacional brasileiro, visto mundialmente como a grande voz pela paz, em um mundo cada vez mais radicalizado e conturbado.

Além disso, enfrentou seu martírio, a prisão, a perda de entes queridos, sem jamais baixar a cabeça, dando um complemento épico à sua biografia, especialmente quando voltou para salvar o país da completa milicialização, representada por Bolsonaro.

Agora, é hora de começar a encarar uma situação de frente: o herói cansou. Nada a ver com capacidade cognitiva. Na China, quando deixou de lado o discurso escrito, mostrou sua enorme capacidade de comunicar os aspectos centrais da ética pública.

Mas o político Lula cansou, não tem mais paciência para o dia-a-dia da política, nem para administrar seu ministério, como fez brilhantemente na grande crise de 2008. Não terá pique para montar seu plano de metas, organizar ações interministeriais, devolver um novo sonho ao país, da mesma maneira que o sonho de eliminar a fome, que pavimentou seus dois primeiros governos.

Essa falta de pique cria uma curva descendente de expectativas que será fatal, mesmo que ainda garanta algum fôlego para vencer as próximas eleições.

É hora de Lula começar a discutir a sua sucessão. Não se trata de abrir mão do enorme ativo político que ele representa, nem de sua liderança sobre esse processo. Mas tem que começar a apostar em um sucessor, abrir espaço para ele dentro do governo, para o governo parar de jogar na retranca e criar uma expectativa de futuro.

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