Por Valter Pomar (*)
Deveriam impedir notícias ruins entre o Natal e o Ano Novo. Inclusive as que envolvem nosso Partido. Por exemplo as movimentações em favor da bancada do PT apoiar a candidatura de Baleia Rossi para a presidência da Câmara dos Deputados.
Baleia Rossi é a candidatura urdida no encontro entre Michel Temer e Rodrigo Maia. Os três são golpistas e ao menos a Maia não falta sinceridade.
Segundo declarações dele, publicadas hoje na imprensa, “o nosso campo vota majoritariamente a favor da agenda econômica do governo. Após a sucessão, é óbvio que a agenda econômica vai continuar sendo liberal.” Perguntado se há o compromisso com a oposição de não pautar privatizações, Maia responde que “não há compromisso de deixar de pautar matéria alguma.”
Sobre 2022, ele considera que o bloco de apoio a Baleia Rossi seria “um sinal forte de que parte desse bloco pode estar junto em 2022. Nós demos o grande passo para reduzir de vez a radicalização da política brasileira.” Maia aproveitou para citar os nomes de Luciano Huck, João Doria, ACM Neto, Ciro Gomes e Paulo Câmara.”
Moral da história: a “tática antifascista” implementada pela maioria da bancada do PT na Câmara dos Deputados pode, na melhor das hipóteses, derrotar Arthur Lyra. Mas não responde como derrotar o neoliberalismo.
Uso aspas ao falar da “tática antifascista”, por diversos motivos.
Primeiro, porque acho que Bolsonaro tem uma óbvia pegada fascista; mas seu governo, a coalizão que o sustenta e as políticas que implementa não são exatamente “fascistas”. São reacionárias, são regressivas, são fundamentalistas, são neoliberais, são de direita, são ultraconservadoras, são milicianas, são racistas, são misóginas, são lgbtfóbicas, são saudosistas da ditadura militar, mas não são exatamente “fascistas”, ao menos se quisermos ter rigor com os termos.
Uso aspas, também, porque acho que a maioria da bancada do PT na Câmara dos Deputados decidiu participar do “Bloco do Maia” por diversos motivos. Certamente derrotar a candidatura apoiada por Bolsonaro é um deles; mas há outros motivos, entre os quais garantir espaço na Mesa, na presidência de Comissões, em relatorias importantes etc. Se o objetivo fosse “apenas” derrotar a candidatura apoiada por Bolsonaro, a maioria da bancada teria adotado outra tática, por exemplo, lançar desde o início e para valer uma candidatura petista no primeiro turno da eleição para a presidência da Câmara.
Mas há um terceiro motivo pelo qual uso aspas na expressão “tática antifascista”. Este motivo é: considero que esta tática dificilmente vai “dar certo”; e mesmo que dê “certo”, terá como resultado fortalecer algumas das “causas estruturais” do bolsonarismo.
Explico: Baleia Rossi pode derrotar Arthur Lyra. E uma candidatura do “bloco do Maia” pode vencer as próximas eleições presidenciais. Mas o programa que esta gente defende — o programa neoliberal versão 5G – vai ampliar a desigualdade social e o corolário disso é menos democracia, não mais democracia. Ou seja, na melhor das hipóteses, teremos expulsado o cavernícola pela porta, mas as condições econômicas, sociais e políticas continuarão propícias ao reino das cavernas.
Por isso o PT e a esquerda precisam de outra “tática antifascista”. Pois a “tática-antifascista-versão-frente-ampla-com-neoliberais” já mostrou seus defeitos e limites em 2020.
(*) Valter Pomar é professor e membro do Diretório Nacional do PT