O declínio na eleição e a devida reflexão

As eleições em Feira de Santana chegaram ao final com uma nova eleição de José Ronaldo de Carvalho (União Brasil). Em 2024, ficamos a 11 mil votos de diferença para a direita que governa o município há mais de 24 anos e a mil votos de levar a disputa para o segundo turno.

Não ter conseguido a vitória em 2024 tem um significado específico em razão de que, pela sexta vez, o Partido dos Trabalhadores lançou a candidatura do deputado federal Zé Neto à Prefeitura, com somente uma oportunidade em que outro candidato foi testado nas urnas desde 2000.

O Partido dos Trabalhadores atingiu 21 mil votos para seus candidatos a vereadores e vereadoras, 3 mil votos a menos do que em 2020, quando nossos candidatos atingiram 24 mil votos. O desempenho da Federação, entretanto, foi de 32 mil votos ao se somar os resultados do PV e do PCdoB.

O desempenho da esquerda partidária acompanha o relativo declínio do PT. Enquanto o PCdoB reduziu sua votação de 7.500 votos para 4.260 (sem eleger vereadores em 2020 e 2024), o PSB ampliou de 9 mil votos para 11 mil e o PSOL cresceu de 9 mil para 11 mil. No entanto, o PSB e o PSOL, que tinham um vereador cada, perderam essas vagas no legislativo municipal.

A direita ampliou seu tamanho, em parte, devido ao seu crescimento e, em parte, devido às novas regras eleitorais. O DEM e o PSL somados atingiram 40 mil votos em 2020, enquanto o União Brasil alcançou 56 mil, permitindo ao partido governista eleger sete vereadores. O PL, que havia obtido 11 mil votos em 2020, ampliou sua votação para 29 mil, elegendo dois vereadores para a próxima legislatura. Nos próximos anos, a configuração da Câmara demonstra que será muito mais difícil fazer oposição do que é na legislatura que terminará em 2024.

Apesar de a Federação abrir espaço para a eleição de três vereadores, a terceira eleita — Lu de Ronny (PV) — já anunciou que seu mandato “estará a serviço do povo”, em uma declaração ambígua, sugerindo que não fará oposição ao governo Zé Ronaldo.

A indicação para a vice-candidatura a prefeito demonstrou-se um erro crasso tanto do ponto de vista ideológico-programático quanto do ponto de vista pragmático-eleitoral. Na reta final das eleições, a pesquisa Atlas Intel indicava que colocar um vice evangélico e bolsonarista na chapa, sob a pretensa intenção de “furar a bolha”, nos renderia 24% do eleitorado evangélico. Por outro lado, como era de se esperar, colocar um sanfoneiro gospel sem voto, sem capilaridade e completamente desconhecido da população como vice na chapa somente fez surgir, às nossas custas, uma nova liderança local de direita.

A linha de campanha de televisão demonstrou-se acertada tanto no atrelamento do nome de Zé Neto ao nome de Lula quanto no atrelamento do nome de José Ronaldo ao nome de Colbert Martins. Ainda de acordo com a Atlas Intel, 91% do eleitorado lulista votariam em nossa chapa, assim como 97% dos eleitores de Jerônimo Rodrigues.

Críticas que deveriam ter sido feitas à gestão desde a campanha de 2020 foram acertadamente emplacadas, como as dos desvios milionários da Saúde através de cooperativas de terceirização.

Em que pese não ganharmos, com algumas exceções, nos bairros da cidade, fomos vitoriosos, em larga margem, nos distritos rurais, o que, em grande medida, se deve ao abandono do governo municipal com relação ao povo do campo.

Por outra via, a campanha na rua, de bairro em bairro e em atos a pé nas ruas centrais de cidade, demonstrou-se muito mais avançada do que em 2020. Vencemos a campanha nas ruas e, ao longo da campanha, estivemos muito superiores à direita.

Para o próximo período, o Partido dos Trabalhadores precisa realizar a devida reflexão a respeito da relação que se estabelece entre o mandato do deputado federal Zé Neto e o Partido, bem como entre o Partido e os mandatos de vereadores. É necessário questionar os limites a serem superados pelo Partido e pelo nosso principal nome para a Prefeitura, de modo que seja desenvolvida uma forma de oposição constante ao governo municipal. Precisamos, também, fortalecer o trabalho de base que as organizações internas do Partido desenvolvem com a classe trabalhadora.

Por fim, é essencial apontar que, após um longo caminho tortuoso, invariavelmente, será nossa a vitória, pois a classe trabalhadora não nos faltará. Não há no horizonte perspectiva de que um governo antipovo, como o de José Ronaldo, se mantenha.

Com luta, venceremos!

Direção Municipal da Articulação de Esquerda em Feira de Santana. 

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