Por Varlindo Nascimento (*)
A comemoração do Dia do Exército no último domingo (19) foi a deixa para mais uma manifestação pública da extrema direita brasileira. Como se não bastasse continuar ignorando as orientações sanitárias de distanciamento social, os fascistas ocuparam as ruas das principais cidades conclamando às forças armadas a interverem politicamente (o que já ocorre), fechando o regime através de um novo AI-5.
A cereja foi posta em cima do bolo no final da tarde, quando o presidente Jair Bolsonaro se juntou aos manifestantes de Brasília, em frente ao QG do Exército, e deu mais uma demonstração clara e manifesta de que pretende, se tiver condições práticas para isso, fechar definitivamente o regime político e impor mais um período ditatorial ao povo brasileiro.
Bolsonaro tem posto às claras onde pretende chegar com a condução que dá ao governo. Ir na contramão de todas as orientações científicas no enfrentamento à crise do Coronavírus é um aceno constante à sua base eleitoral composta majoritariamente por setores fundamentalistas e pelo pequeno-patronato economicamente atingido pelas restrições às atividades comerciais. Dessa forma, ele tem consigo uma base de apoio social significativamente grande e constantemente mobilizada em sua defesa, numa espécie de culto à personalidade do “grande mito”.
Se ilude quem pensa que a disputa política fundamental é aquela travada entre o Bolsonarismo e o Centrão, como o oligopólio da mídia tenta fazer parecer ser. Esses dois setores fazem parte do mesmo projeto político e continuam de braços dados no que tange ao sufocamento de uma alternativa à esquerda. A divergência entre eles está no até onde seria o limite de ação do presidente. É essa faixa limite que está em disputa.
Não devemos nos esquecer que durante o processo eleitoral essa mesma direita fez pouco caso sobre a possibilidade de Bolsonaro levar adiante um projeto autoritário. No cálculo da burguesia ele seria domesticável e controlável. Neste sentido, a economia foi entregue de pacote fechado aos neoliberais e a base ministerial aos militares que, em tese, não pretenderiam mais um regime fechado nos moldes de 1964. Na cabeça dessa burguesia, representada ideologicamente pelo Centrão, esses movimentos seriam suficientes para contornar o ímpeto bonapartista do Capitão.
Diante deste cenário, é imperativo que as forças de esquerda tenham a clareza necessária sobre o que cada ente nessa disputa de fato representa. Não nos cabe estar à reboque dos setores da direita que hoje se opõem pontualmente ao governo. A defesa do fim do governo Bolsonaro é imperativa, urgente e deve estar atrelada a um programa político próprio de soberania nacional, garantia dos direitos sociais ainda existentes e retomada dos direitos que foram assaltados do povo. Cabe à esquerda, em especial ao Partido dos Trabalhadores, o papel de representação da classe trabalhadora e do povo pobre, e para isso o primeiro passo é assumir definitivamente o Fora Bolsonaro, seu governo e suas políticas como palavra de ordem e bandeira de luta!
(*) Varlindo Nascimento é militante petista em Recife, bacharel em Geografia, pós-graduado em Sindicalismo e Trabalho, graduando em História e mestrando em Estado, Governo e Políticas Públicas.