Por Adriano Bueno (*)
No último sábado, dia 2 de julho, o PT de São Paulo organizou seu encontro estadual, onde foram aprovados um texto de diretrizes do programa de governo e uma resolução.
O texto de programa reafirmou compromissos históricos do PT. Não houve polêmica. Mas o texto da resolução tinha uma passagem estranha, que reproduzo a seguir:
“18.A unidade expressa na chapa Lula-Alckmin também deve nos orientar. Divergências do passado não podem impedir que acumulemos forças para enfrentar a eleição mais dura da história de nosso partido e do nosso país.”
Em nome da tendência petista Articulação de Esquerda, defendi a emenda abaixo, substitutiva, no início do ponto 18 do texto de programa:
“18.A unidade expressa na chapa Lula-Alckmin também deve nos orientar. Nesse contexto, a presença de Alckmin como candidato à vice-presidência introduz um elemento novo em nossa tática, nos forçando lidar de outra forma com um setor com o qual mantemos divergências históricas.”
Defendemos esta emenda por uma razão objetiva. A presença do Alckmin em nossa chapa presidencial trouxe para nosso campo uma contradição. Existem muitas formas de lidar com esta contradição, seja fingindo que ela não existe, seja reconhecendo a existência dela e sinalizando como lidaremos com ela.
Em nossa perspectiva, fingir que ela não existe pode empurrar o problema para debaixo do tapete. Mas lá na frente ele reaparecerá.
Propusemos tratar da seguinte forma: de fato, temos divergências históricas, que não são “do passado”, mas do presente também. E, quanto a isto, nossa posição é esta: somos favoráveis a superação do neoliberalismo.
Venceu a defesa pela manutenção do texto, feita pela maioria. Fizeram a defesa da manutenção alegando que nossa emenda ia na contramão do “sentido original do texto”. Um absurdo, porque na prática o ponto 18, como estava, é que ia na contramão do texto.
Havíamos acabado de aprovar um texto de diretrizes programáticas onde criticamos a política de pedágios; a política de segurança pública; etc. Ora, quem implementou estas políticas nos últimos anos foi o Doria. Mas nosso vice nacional foi o responsável por implementar estas políticas por muito mais tempo que o Doria. Ele mudou de ideia? Entendemos que não.
Sendo assim, cabe a nós, reconhecendo a contradição, sinalizarmos o que propomos. Em sintonia com o texto de programa que queremos implementar.
Não foi esta a posição da maioria no encontro. Mas a realidade se encarregará de nos mostrar que, para que as divergências “do passado” sejam superadas, alguém deve capitular.
(*) Adriano Bueno é militante do PT de Campinas-SP e foi delegado ao Encontro Estadual do PT-SP.