O Estadão ataca o “passadismo decrépito do PT”

Por Valter Pomar (*)

O jornal O Estado de São Paulo é porta-voz de parte da classe dominante mais reacionária do país.

Faz pouco tempo, o Estadão comentou sobre o PED e apoiou a candidatura do Edinho.

Quem tiver dúvida, leia aqui: Valter Pomar: O Estadão prefere Edinho

Agora o Estadão atacou novamente, num editorial intitulado “o passadismo decrépito do PT”.

Como de decrepitude e passadismo o Estadão entende, quem quiser pode ler ao final deste texto ou diretamente no endereço abaixo:

O passadismo decrépito do PT – Estadão

Como é previsível, o alvo principal do Estadão são “três dos quatro postulantes – Rui Falcão, Valter Pomar e Romênio Pereira”. Edinho é tratado ao estilo dos males, o menor.

As críticas feitas pelo Estadão deixam evidente, a quem acredita no diálogo, que não importa o quanto se modere o discurso, lá vem porrada: “O atual governo de Lula, a bem da verdade, já tem os piores cacoetes da esquerda, a saber: o discurso estatizante, o culto à personalidade (o PT sempre foi e continuará a ser infinitas vezes menor do que o ego de Lula), o populismo, a aversão ao mercado e ao setor privado, o afrouxamento fiscal e a incapacidade de superar seus limites ideológicos para se apresentar como governante de todos os brasileiros, e não apenas da patota”.

Sendo assim as coisas, moderar não adianta nada. Ou melhor dizendo: não adianta para nós, pois para as elites uma esquerda domesticada é mais fácil de derrotar.

Numa coisa o Estadão está certo: “não está em jogo apenas a escolha de um nome para presidir o partido – se fosse só isso, a eleição petista não teria a menor importância. Mas a definição do futuro presidente do PT dirá muito sobre a bússola que orientará o futuro imediato do partido do presidente Lula. O fato é que os rumos do partido decerto afetarão os rumos do governo”.

Por isso, aliás, no editorial de 12 de março o Estadão declarou preferência por Edinho: “um político moderado e conciliador, além de próximo a Haddad e ao presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, ele tem protagonizado o que poderia ser impensável até pouco tempo atrás: um petista que admite problemas e fragilidades do seu partido e abertamente defende mudança de rumos na legenda (…) Edinho Silva ainda padece do pecado da santificação de Lula, mas ao menos vem apontando o óbvio: o País (e, claro, o seu partido) precisa sair da armadilha da polarização e da radicalização. Não é exagero, portanto, enxergá-lo como a grande chance de um imprescindível aggiornamento do PT e, por consequência, da esquerda tradicional brasileira.”

Como, ao contrário do Estadão, eu não acredito que a luta de classes seja algo anacrônico, está na cara que o candidato preferido por eles não pode ser o eleito por nós.

(*) Valter Pomar é professor e candidato à presidência nacional do PT

Segue o texto criticado

O passadismo decrépito do PT

Candidatos à presidência do partido de Lula da Silva debatem o socialismo, defendem as ditaduras de Cuba e Venezuela contra o imperialismo e pedem que o governo dobre ainda mais à esquerda

É mesmo singular o mundo em que vivem os capas-pretas do petismo. Enquanto o governo do presidente Lula da Silva enfrenta sucessivas, permanentes e gravíssimas crises de natureza política, econômica e existencial, os candidatos à presidência do PT se reuniram na segunda-feira passada e produziram um festival de despautérios no primeiro debate público entre eles, surpreendente até para quem já espera o pior de qualquer convescote do partido.

Entre muitos delírios, três dos quatro postulantes – Rui Falcão, Valter Pomar e Romênio Pereira – defenderam estultices como a radicalização do governo lulopetista “à esquerda”, pregaram a necessidade de o partido sair em defesa de ditaduras companheiras como Cuba, Venezuela e “todos os povos que lutam contra a opressão e a exploração” para enfrentar o “imperialismo” e o “capitalismo”, esbravejaram contra a política econômica conduzida pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e, previsivelmente, atacaram os juros altos e o Banco Central, hoje presidido por um indicado de Lula.

A Edinho Silva, o quarto candidato e tido como favorito da disputa, restou o papel de alvo dos demais, defensor do indefensável (Lula 3) e anteparo contra os jargões esquerdistas dos adversários. Mas, provocado por um deles, precisou dedicar parte considerável do tempo disponível a, ora vejam, debater os rumos do socialismo. “Sem socialismo a gente não derrota o imperialismo. Sem socialismo a gente não derrota a ditadura do capital financeiro”, resumiu o historiador Valter Pomar, um autodeclarado “revolucionário”, recorrendo ao passadismo decrépito do esquerdismo tradicional para cobrar do ex-prefeito de Araraquara o tratamento devido ao tema. Historicamente o PT nunca se resolveu bem nem com o capitalismo nem com o socialismo. Crítico do primeiro, pregou para o segundo o que definiu como um mal explicado “socialismo democrático”.

O atual governo de Lula, a bem da verdade, já tem os piores cacoetes da esquerda, a saber: o discurso estatizante, o culto à personalidade (o PT sempre foi e continuará a ser infinitas vezes menor do que o ego de Lula), o populismo, a aversão ao mercado e ao setor privado, o afrouxamento fiscal e a incapacidade de superar seus limites ideológicos para se apresentar como governante de todos os brasileiros, e não apenas da patota. Mesmo assim, isso não basta para os candidatos à presidência petista.

O PT também nutre simpatia especial pelo que há de mais hostil à democracia e aos direitos humanos: Cuba, Venezuela, China, Rússia, os terroristas do Hamas e os aiatolás misóginos e homofóbicos do Irã. Também faz bravatas contra qualquer preocupação mínima com a austeridade fiscal e ignora que juros altos são o preço a pagar pelo populismo lulopetista, consubstanciado na ideia segundo a qual “gasto é vida”, frase símbolo da ex-presidente Dilma Rousseff que quase conduziu os brasileiros à ruína e segue inspirando a tibieza fiscal deste quinto mandato presidencial do PT.

Num dos raros momentos de consenso – e de lucidez –, os quatro candidatos petistas reconheceram que o PT e a esquerda perderam o pulso das ruas, distanciaram-se da juventude e se mostram hoje incapazes de interpretar o pensamento e os anseios da classe trabalhadora. Só não conseguiram reconhecer duas obviedades: sua dificuldade de escapar da obtusa simplificação do conflito brasileiro em uma anacrônica “luta de classes”; e a visão, igualmente simplificadora, da “classe trabalhadora” – como se sabe, o PT ainda enxerga trabalhadores com as lentes de um trabalho e uma base sindical que não existem mais.

Este jornal já sublinhou que não está em jogo apenas a escolha de um nome para presidir o partido – se fosse só isso, a eleição petista não teria a menor importância. Mas a definição do futuro presidente do PT dirá muito sobre a bússola que orientará o futuro imediato do partido do presidente Lula. O fato é que os rumos do partido decerto afetarão os rumos do governo. A julgar pelo debate sem bússola, contudo, esses rumos poderão ser ainda mais gravosos do que já são.

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