Por Célio Moura (*)
Está cada vez mais evidente, no Brasil atual, que a ruptura praticada no ano de 2016 pelos setores lavajatistas e da mídia hegemônica, tocado pelo então presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha e seus cúmplices no Senado da República, tinha como endereço específico a total e brutal destruição dos direitos sociais duramente conquistados pela classe trabalhadora. E foi exatamente o que ocorreu. O golpe parlamentar e midiático acabou por gestar o clima necessário para a eleição de uma pessoa da qualidade de Jair Messias Bolsonaro, o grande inimigo das trabalhadoras e trabalhadores.
Atualmente mais de 19,1 milhões de conterrâneos, irmãos e irmãs, passam por permanente insegurança alimentar. Significa que milhões e milhões de pessoas estão passando fome literalmente. E isso dói. Trata-se de uma gravíssima e cruel realidade que deveria ser tratada com a seriedade que o triste e urgente fato requer. Entretanto, as práticas do governo Bolsonaro apontam no sentido de aprofundar ainda mais o abismo social existente. Segue no sentido de reafirmar sua trágica trajetória pública, espalhando mazelas e inverdades o tempo todo. Praticando a negação da ciência, a negação da política como meio de melhorar a vida das pessoas e, principalmente, atua para destruir políticas públicas respeitadas no mundo inteiro, como é o caso do desmonte do premiado Programa Bolsa Família, que por 18 anos ajudou a retirar o Brasil do abjeto mapa da fome.
Ao invés do governo trabalhar para mitigar e tornar menos intenso o sofrimento estabelecido no Brasil, ele faz com que a fome avance em uma crescente por todas as partes. O levantamento mais recente da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan) indica que 9% da população brasileira enfrenta a chaga da fome. Não é difícil de atestarmos tais evidências apontadas na pesquisa, basta olhar nas ruas a crescente situação de miserabilidade de homens, mulheres e crianças pedintes nos semáforos e portas de mercados. “É fome”, gritam!
Ao contrário do que alguns poderiam supor, tal situação de desumanidade atinge todas as regiões do país, de norte a sul, leste a oeste, tanto em áreas urbanas como em áreas rurais e, segundo a Rede Penssan, com a pandemia da COVID-19, cerca de 116,8 milhões de pessoas estão sofrendo em algum grau de insegurança alimentar, classificado como leve, moderado ou grave.
Está provado é comprovado, o golpe foi contra todos nós da classe trabalhadora. Todos que vivemos do fruto de nosso trabalho, do suor do rosto e do calo nas mãos para levar o sustento de nossas famílias. Por isso temos que ampliar ainda mais o diálogo com as pessoas, seja nas associações, sindicatos, movimentos sociais, organizações de bairros, espaços religiosos e estudantis, e com todo o coletivo de proletários que sofrem e sentem a navalha da exclusão na própria carne. É preciso falar de igual para igual, sem sobreposição, com humildade e firmeza fraterna: organizar a revolta e politizar o processo de enfrentamento ao retrocesso representado por Bolsonaro e todos os que simbolizam sua necropolítica.
O Brasil já viveu melhores momentos, nos governos de Lula/Dilma, com desenvolvimento social, pleno emprego e sem fome. É necessário manter nossa memória ativada permanentemente, para não repetirmos os erros do passado/presente. Afinal, é como disse o poeta Jean Cocteau, “com a mesma ternura que fechamos os olhos dos mortos, devemos abrir os olhos dos que estão vivos”.
Amanhã vai ter.
(*) Célio Moura é advogado e deputado federal pelo PT/TO