O PED e a posição da Articulação de Esquerda

Por Natália Sena (*)

Está confirmado! Em 6 de julho de 2025, vai acontecer o Processo de Eleições Diretas (PED) em todo o país. O Diretório Nacional do PT aprovou o regulamento do PED na reunião virtual que aconteceu no dia 17 de fevereiro. No regulamento, além da confirmação da data de realização do processo e do prazo de filiação para participar — que se esgotou em 28 de fevereiro —, foi aprovado que o PED será realizado no “modelo clássico”. Isso significa que haverá voto direto em todos os níveis, para presidente(a), direções e chapas de delegados(as).

A direção que será eleita no PED de 2025 irá comandar a reeleição do presidente Lula em 2026, e será responsável por conduzir o PT no debate estratégico que já está posto para nós desde agora e que estará escancarado no pós-2026, “queiram ou não queiram” alguns dirigentes e setores do Partido. Além disso, após 12 anos, iremos realizar o PED no modelo do voto direto, em um cenário totalmente diferente da última vez em que este formato aconteceu, que foi em 2013. O PT mudou, o país mudou, a conjuntura política para a esquerda se alterou brutalmente e, para dar conta disso, é preciso que o PED aconteça de forma regular, seja bem mobilizado e politizado.

Na Plenária Nacional que a Articulação de Esquerda fez em novembro de 2024, aprovamos as diretrizes táticas sobre a nossa participação no PED. Naquele momento, não havia definição acerca de quais seriam as regras do processo, mas a avaliação da conjuntura política e do balanço eleitoral de 2024 nos permitiu tirar uma posição sobre a tática a ser adotada por nós, que segue firme e atual: iremos ter chapa e candidatura própria em nível nacional e no máximo de estados e cidades em que for possível. Essa posição será confirmada pelo 9º Congresso Nacional da AE, que vai acontecer nos dias 14 a 16 de março de 2025, em São Paulo/SP.

De novembro para cá, a conjuntura política só se agravou. Em nível mundial, o governo Trump tomou posse nos Estados Unidos e deflagrou com força seu projeto de recuperação da hegemonia global, o que tem como alvo principal a derrota da China, além de reforçar a extrema-direita em todo o mundo, inclusive no Brasil. No plano nacional, o governo Lula segue com imensas debilidades, que, em parte, são decorrentes das escolhas políticas que estão sendo feitas. A opção pelo ajuste fiscal e por buscar unicamente a “governabilidade parlamentar”, deixando de lado a mobilização social e a construção efetiva de uma estratégia de desenvolvimento para o país, está cobrando o seu preço. E já estamos no terceiro ano do governo!

É necessário construir uma tática de luta social combinada com a disputa eleitoral e, para isso ser feito de forma real, o Partido precisa mudar sua atuação e sua estratégia, o que inclui trabalhar para convencer o governo a mudar também. A tarefa da formação de uma aliança para derrotar a extrema-direita em 2026, que não implemente uma política social-liberal (ou até mesmo neoliberal) e faça um governo de esquerda e de transformação, requer um Partido militante, preparado para atravessar tempos de guerra e com muita disposição e capacidade de fazer duros enfrentamentos políticos.

Não achamos que seja possível fazer alterações tão profundas no PT sem que o grupo dirigente atualmente majoritário seja derrotado. Por isso, na nossa opinião, a existência de “rachas” no grupo majoritário não altera de verdade a correlação de forças interna, pois as divergências que ali existem, no fundo, não dizem respeito às questões estratégicas e de linha política. Também não achamos que a mudança que o PT precisa possa ser feita através de mediações supostamente de esquerda com o núcleo duro do grupo majoritário, que é a tendência Construindo um Novo Brasil (CNB). Achamos que esse PED é o momento para travar as boas lutas e debates, ao invés de nos conformamos com os maus acordos. Por tudo isso, a nossa tática para a disputa do PED envolve inscrever chapa e candidatura próprias em nível nacional e no máximo de estados e cidades em que for possível para defender uma nova orientação para o Partido e para construir uma nova direção.

Certamente, é preciso conectar esse debate com a conjuntura política do país e do Partido. Uma questão que está posta é a seguinte: a base de filiados(as) petistas de 2025, inclusive as cerca de 300 mil novas filiações que foram feitas nos últimos anos e meses, estarão dispostas, no PED, à construção de uma alternativa dirigente à atual maioria? Essa não é uma pergunta com resposta pronta, pois o processo de debate e mobilização para o PED deve ter a capacidade de incidir nesse “animus”. Por isso, achamos que é necessário e saudável para o Partido que o máximo de tendências e correntes de pensamento apresentem as suas chapas e candidaturas. Que tenha debate, muito debate. Que exista mobilização, que a capacidade e disposição de construção partidária possam ser vistas na prática, e que não prevaleçam os falsos consensos e as unidades construídas em cima de fisiologismos eleitorais.

O PT fará o PED no ano do nosso aniversário de 45 anos. Temos muito o que comemorar, muito o que debater, muito o que mudar! E uma coisa é certa: a preços de hoje, o rumo que seguirá a luta da classe trabalhadora brasileira depende do rumo que seguirá o PT. Por isso, é tarefa fundamental para toda a militância que acredita em um Partido efetivamente democrático, militante, de massas, socialista, se engajar no PED e disputar para valer os rumos do Partido dos Trabalhadores.

(*) Natália Sena é advogada e integra a Comissão Executiva Nacional do PT.

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