Por Valter Pomar (*)
Muitos eleitores de Lula estão convencidos de que o cenário eleitoral está consolidado e, portanto, já vencemos, só falta publicar o resultado.
O fantástico êxito no podcast Flow seria a prova mais recente disso, somada às grandes manifestações do nosso lado, contra as dificuldades do lado de lá (Aparecida, “pintou um clima”, atividades esvaziadas).
Paradoxalmente, grande número de eleitores de Lula está com medo.
Medo do que, se vamos vencer?
Há várias respostas para essa pergunta.
Uma resposta é: no íntimo, parte de nós sabe que o cenário eleitoral não está consolidado.
Pelo contrário: o cavernícola está subindo lentamente nas pesquisas.
Entretanto, de forma similar ao ocorrido no primeiro turno, parte deste crescimento do cavernicola não aparece nas pesquisas.
Embora as pesquisas não demonstrem, é possível perceber (especialmente para quem é sudestino) que – se tudo correr bem – a diferença a nosso favor será pequena.
Existem entre nós muitos que não percebem ou que não concordam com isso.
Para estes, as coisas seguem no fundamental tal e qual eram no início do segundo turno, ou seja, estaríamos 6 a 8 milhões de votos na frente.
E também existem os que, exatamente porque percebem o que pode estar ocorrendo, têm tanto medo das implicações que preferem não externar explicitamente suas preocupações.
Neste caso, talvez sem o saber, fazem uma aplicação invertida da conhecida afirmação de Gramsci, sobre o “pessimismo da razão e o otimismo da vontade”.
No lugar da atitude sugerida por Gramsci, adotam a versão Icsmarg: o “pessimismo da vontade e o otimismo da razão”.
O pessimismo da vontade: supostamente não haveria nada que pudesse ser feito, diferente do que já estaríamos fazendo.
O otimismo da razão: vamos vencer porque acreditamos que vamos vencer. E coitada da Cassandra que lembrar da mera existência de outra possibilidade!
Pode ser que aconteça assim?
Pode ser que vençamos o segundo turno com uma diferença significativa a nosso favor?
Pode, sempre pode ser, até porque não é fácil para o cavernícola superar a diferença do primeiro turno.
O lado de lá, como sabemos, também dá tiro no pé e também está preocupado.
No fundo, no fundo, eles têm muito medo de nós, embora nós infelizmente não façamos por merecer…
Entretanto, minha opinião é que estamos dando sorte para o azar: se nada fizermos de diferente, corremos alto risco de terminar também invertendo aquele raciocínio sobre a repetição na história.
Marx falava sobre a repetição na história, a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa.
Mantida a incorreta atitude segundo a qual estaríamos bem e não haveria nada a fazer diferente do que já vem sendo feito, corremos o risco de viver – depois da fraude-farsa de 2018 – uma imensa tragédia.
Moral da história: estão cobertos de razão os que têm medo.
E estão muito errados tanto os que se deixam paralisar pelo medo, quanto os que se deixam acalentar pelo “otimismo da vontade”.
Por fim: é possível vencer, podemos vencer e vamos vencer, à condição de que adotemos várias medidas urgentes, entre as quais eu destaco colocar mais e mais e mais a pauta do povo no centro do debate.
Lula fez isso, na Band, ao defender o povo trabalhador do complexo do Alemão.
Lula fez isso, também, nos melhores momentos do podcast Flow.
Pobres contra ricos, tostão contra milhão, futuro contra passado, classe contra baixaria, rua rua e rua.