Por Valter Pomar (*)
Uma parte da esquerda brasileira comporta-se como se o tempo corresse a nosso favor.
Atua (e talvez pense) como se o agravamento da situação sanitária, da situação social e da situação econômica estivesse criando condições cada vez melhores para um desenlace político positivo para os setores populares.
Parecem imaginar que, como Bolsonaro se desgasta a cada dia que passa, o desfecho está dado.
No fundo, trata-se de uma mistura do “quanto pior, melhor”, com a lógica do “tudo de bom”, segundo a qual se elimina do cenário tudo que possa dar errado.
O agravamento da situação pode, ao contrário do que pensa uma parte da esquerda brasileira, criar condições para uma saída ainda mais “pela direita” e ainda mais “por cima” da crise brasileira.
Até porque Bolsonaro não vai cair de podre. Nem pedir para sair.
Quem deseja uma saída da crise, que seja “pela esquerda” e “por baixo”, não pode esperar, tem que agir.
Agir significa organizar imediatamente – de maneira articulada com as inúmeras medidas práticas e legislativas em defesa da vida, do emprego e da renda – a campanha pelo Fora Bolsonaro, nas suas variadas dimensões:
*a difusão maciça e massiva da palavra de ordem, nestes tempos de quarentena;
*a apresentação de um pedido de impeachment, fundamentado na defesa da vida e da democracia, articulado com a defesa de novas eleições presidenciais, que ao mesmo tempo que proponha o impeachment do presidente, marque posição contra a posse do vice e a continuidade do governo e suas políticas;
*a campanha pela aprovação da PEC das Diretas, que prevê eleições presidenciais em 90 dias;
*a pressão para que o TSE julgue a impugnação da chapa.
É urgente agir neste sentido, entre outros por três motivos:
1)contrapor aos que, na esquerda, no centro e na direita, adotam a tática de “dar tempo ao tempo”, “deixar Bolsonaro sangrar até 2022”;
2)contrapor, também, aos que, no centro e na direita, criticam Bolsonaro, mas apoiam seu programa econômico e social e, inclusive por isso, vão pouco a pouco cedendo às suas pressões no terreno sanitário;
3)por último, mas o mais importante, é urgente organizar a campanha pelo Fora Bolsonaro, para dar ao povo uma perspectiva e um instrumento político para enfrentar a extrema-direita encabeçada pelo cavernícola.
Reiteramos: o governo Bolsonaro e a extrema-direita estão escalando a crise.
Não apenas no terreno das medidas de governo (ou na falta delas).
Mas também nos apelos 100% explícitos à guerra civil, ao fechamento das instituições e ao extermínio físico da esquerda.
Não há nenhum motivo para acharmos que se trata de mera retórica. Ou agimos imediatamente, ou poderá ser tarde demais.
Neste sentido, a direção do Partido dos Trabalhadores precisa antecipar todas as decisões que precisam ser tomadas.
Reunir a executiva nacional do PT apenas no dia 15 de maio, ou bem é dar tempo ao azar, ou bem é transferir para instâncias informais e/ou parlamentares as decisões que, dado o seu conteúdo, precisam ser adotadas pela direção do Partido.
Que exista quem não compreenda que há tarefas e decisões que só podem ser adotadas pelas instâncias de direção, apenas confirma que a palavra de ordem “Fora Bolsonaro” pode ter sido aceita como slogan, mas ainda não é efetivamente majoritária, na prática, a posição dos que defendem agir para por fim ao governo Bolsonaro agora!!, não em 2022.
O tempo não corre a nosso favor.
Por isso, acelerar o passo é preciso.
O coronavírus é mortal. O Bolsonavírus também.
(*) Valter Pomar é integrante do Diretório Nacional do PT e professor da UFABC