Por Luiz Sérgio Canário (*)
Quem vê o que as candidaturas do PT à Câmara de Vereadores de São Paulo publicam nas redes sociais pode não achar nenhuma ou muito pouca referência ao partido. Nada. Nem cor, nem estrela vermelha, nem o número 13, exceto o do seu próprio número na campanha, nem a cor e nem o nome ou número do candidato a prefeito. Procurar essas referências é como procurar Wally naqueles livros: um pequeno boneco no meio de uma quantidade de outras coisas.
E aí nesse bolo há de tudo um pouco. Há candidatos já maduros, quase fundadores do partido, que já ocuparam cargos no executivo e que até já foram parlamentares. Há também jovens recém saídos do movimento estudantil, com base em grupos de juventude. Há jovens e nem tão jovens. Há mais à direita e mais à esquerda. Há os que estilizam uma estrela para não dar muito na pinta. Há candidaturas individuais e as moderníssimas candidaturas coletivas. Há até mesmo pessoas em candidaturas coletivas que nem sequer filiadas ao partido são. E isso é apresentado como como o suprassumo da modernidade e da reconstrução de formas “antigas” de organização partidária. Enfim, várias candidaturas que se apresentam quase que como candidaturas independentes e sem ligação com nenhum partido.
O que chama a atenção é que muitos falam que a atual forma de organização partidária, seja lá o que se queira dizer com isso, está superada. Mas não está quando se trata de se aproveitar dessa “velha” forma para disputar eleições com chances de ganhar. E o que se propõe na prática? Nada! Nos embates dentro do partido seguem a lógica miúda da busca por cargos e posições de destaque na velha e combatida organização partidária. Nesses embates na maioria das vezes se associam a quem está encastelado no topo dessa velha estrutura há anos. Ora direis: ao inferno com os escrúpulos, com a decência e com a coerência!
Desde antes do golpe o nosso partido vem sendo duramente atacado. Não é preciso dizer aqui todo o esforço das classes dominantes e de seus aparelhos de dominação para nos destruir. Esse ataque vem muitas vezes daqueles que nos acusam de hegemonistas, arrogantes e prepotentes: setores que também estão à esquerda no espectro político. E, como se não bastasse, temos uma direção que com sua política incerta, difusa, confusa e atrasada nos impôs decisões como a aliança com golpistas em alguns municípios, como Belford Roxo do ilustre Quaquá, e o processo de definição da escolha da candidatura em São Paulo que resultou em Tatto e tudo do que daí decorre.
O PT é de longe o maior partido de esquerda e um dos maiores do país. Contra todas as previsões elegeu a segunda maior bancada na câmera e levou Haddad ao segundo turno em 2018. Mas levou uma forte pancada pouco antes nas eleições municipais de 2016. Eleições municipais são diferentes das eleições nacionais. O buraco da rua, o posto de saúde e o funcionamento das escolas são temas importantes. Mesmo nacionalizando a campanha os aspectos da vida cotidiana e do perfil do candidato são muito importantes. A boa performance em 2018 não é uma sinalização de que isso vá se repetir em 2020.
Apesar de Tatto não ser o piano de calda cheio de areia que tivemos que carregar nas costas em São Paulo chamado Luiz Marinho, ele não conseguiu agregar a militância ao seu redor e é muito pouco conhecido na cidade, apesar de ter feito parte de duas gestões do PT. Não empolgou nem está empolgando. E isso dificulta a campanha. E serve de desculpa para quem está disputando a vereança esconder seu nome em suas campanhas. Muitos preferem até fechar os olhos e fazer de conta que não sabem que muitos que os apoiam estão fazendo campanha abertamente para Boulos, candidato do PSOL, e baixando o sarrafo em Jilmar Tatto. E não podemos esquecer também aqueles que ficam repetindo como um mantra que o PT deveria ter feito coligação com o PSOL lá atrás e que agora querem que Jilmar retire a candidatura.
Fazendo uma leitura correta da conjuntura na cidade de São Paulo, há muito sabemos que perdemos espaço na cidade. Seja na periferia, significativamente para a direita, seja na classe média mais progressista, para Boulos. Mesmo não confiando muito nas pesquisas que estão sendo publicadas, não dá para ignorar o fato que aparecemos muito mal nelas. É um fator que temos que considerar. Pode ser revertido? Pode. Mas depende de muita militância, que até agora não se apresentou. E também que as candidaturas à vereança se voltem para isso.
Aqueles que estão apostando que escondendo o partido em seus materiais de campanha, principalmente nas redes, irão melhorar suas performances estão dando um tiro no pé. E os que acham que fechar os olhos para que pessoas de sua campanha façam campanha para Boulos estão dando um tiro no outro pé. Votação para prefeito atrai votos para vereador. E o vereador depende dos votos totais na legenda para se eleger. São entrelaçados. Essa deve ter sido a leitura, correta, do PSOL e do PCdoB, por exemplo. E aqueles que estão se mantendo em um equilíbrio instável com um pé no barco da campanha de Tatto e outro no da de Boulos vão acabar caindo na água.
É uma traição ao partido e as suas histórias de militância não defender nessa conjuntura perversa o partido e seu candidato de forma explícita e clara.
O PT é uma marca na percepção das pessoas. O partido tem um legado para ser defendido e exibido. Tatto não é nem de longe o melhor candidato que poderíamos ter na disputa. Como parte significativa do partido na cidade defendeu, Haddad seria o candidato que teria condições de nos levar à vitória. Mas não quis, se recusou. Também não temos o programa que deveríamos ter. É um programa que aborda aspectos importantes, mas não radicaliza no combate aberto ao neoliberalismo e suas gestões na cidade, no estado e no país. Não coloca a questão da construção do socialismo como saída possível para a resolução dessa crise que nos afeta a todos e a todas. Mas é que temos para hoje.
A Articulação de Esquerda foi e é uma força que teve uma posição muito clara no processo de indicação do candidato e no que ele representaria. Fomos e somos coerentes com nossas decisões ao longo de todo esse processo. Mas nem por isso podemos compactuar com a cristianização do candidato e do partido. É esse candidato que está carregando nossa estrela, nossos símbolos e nossa história. E não podemos baixar a guarda nessa conjuntura adversa em que fomos derrotados estrategicamente. Não podemos permitir que Covas, Doria ou Bolsonaro saiam vitoriosos nessa disputa. Esse trio representa o pior que o neoliberalismo aportou em nosso país.
Precisamos nos tornar cada vez mais presentes na cidade, nas lutas do povo e da classe trabalhadora. E não vamos fazer isso com candidatos escondendo a que partido pertencem.
Onde está o PT? Aqui entre nós e ao lado do povo e da classe trabalhadora de São Paulo. Quem esconde isso se afasta tanto do povo quanto da classe.
Viva o Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras!!!
(*) Luiz Sérgio Canário é militante petista em São Paulo – SP