Os imigrantes são os outros?

Por Suelen Aires Gonçalves (*)

 

A resposta da pergunta acima é simples, sim. Sim, pois os imigrantes não brancos são tidos como seus inimigos de projeto nacional. O que os incomoda são, de fato, os imigrantes latinos, asiáticos, negras (os) dentre outros. Neste breve ensaio, gostaria de trazer algumas reflexões em relação à hipocrisia presente em certos discursos e políticas contra imigrantes, especialmente nos Estados Unidos.

Estamos diante de temas como o paradoxo da imigração e a seletividade racial, quando, por exemplo , líderes que têm origem imigrante – ou que se beneficiaram diretamente dela – adotam posturas contrárias à imigração de grupos não brancos. Essa postura revela uma lógica de exclusão racial, onde a imigração de brancos europeus é tratada de forma diferente da imigração de negros, latinos e asiáticos. Essa seletividade racial não é nova e reflete um legado histórico de supremacia branca, que ainda permeia as estruturas sociais e políticas.

Outro tema vem à tona, em relação à meritocracia. É fácil pregar a meritocracia quando se parte de privilégios herdados, como fortunas construídas à base da exploração de grupos racializados, como é o caso de Elon Musk que nasceu no continente africano, na África do Sul, e Donald Trump, filho de imigrantes. A análise se fortalece ao destacar que tanto Musk quanto Trump representam exemplos emblemáticos de uma elite econômica que perpetua desigualdades enquanto disfarça sua posição com o discurso de esforço individual. Ambos construíram suas “riquezas” com base em heranças. O primeiro neto de admirador da política do Apartheid, herdeiro de uma família que fez fortuna explorando as minas de esmeraldas no Zâmbia e, o segundo, filho de especulador imobiliário. Ou seja, seus “impérios” foram construídos com base na exploração da mão de obra de vidas negras no continente africano e de imigrantes pelas américas.

Concluindo, é essencial refletirmos sobre a hipocrisia que permeia os discursos e políticas contra imigrantes, especialmente quando aqueles que os promovem possuem, em suas próprias histórias, vínculos com a imigração ou o privilégio herdado. Essa seletividade racial e o mito da meritocracia não apenas reforçam desigualdades históricas, mas também perpetuam um sistema que marginaliza vidas racializadas em prol de uma elite que se beneficia da exploração e da exclusão. Para avançarmos como sociedade, é necessário desconstruir essas narrativas, reconhecendo as contribuições dos imigrantes de todas as origens e combatendo as estruturas que perpetuam a discriminação e a desigualdade.

(*) Suelen Aires Gonçalves é socióloga, mulher negra latino americana, militante do PT.

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