Ao se inaugurar 2024, completa-se um ano da gestão de Jerônimo Rodrigues à frente do governo do estado da Bahia. O Partido dos Trabalhadores comanda o quarto maior estado do Brasil há 17 anos ininterruptos, elegendo o terceiro governador petista a partir de um arco de alianças que incorpora partidos de direita em sua base de sustentação. Em perspectiva conjuntural, algumas alianças retornaram de onde nunca deveriam ter saído, como é o caso do MDB de Gedel, e outras se retiraram do governo, não por opção do PT, como é o caso do PP de João Leão. O marco característico da gestão Jerônimo resta, então, como de continuidade naquilo que é central, sem ainda apresentar claramente aspectos distintivos em relação ao governo Rui Costa.
As perspectivas para a classe trabalhadora na Bahia, como em todo o Brasil, se deterioraram após seis anos de governos reacionários e os pesados ataques decorrentes da reforma trabalhista e previdenciária. O reflexo para o trabalhador baiano é pontuar a maior taxa de desemprego do país, uma economia majoritariamente dependente da informalidade e o menor rendimento médio por trabalhador. Desse modo, derrotas estratégicas ocorreram para o desenvolvimento da Bahia em específico, como a privatização da refinaria Landulpho Alves e a saída da Ford de Camaçari. O governo Jerônimo tem, então, o enorme desafio de atuar sob fortes contradições derivadas do capitalismo, atravessado por alianças que enxertam interesses avessos à classe trabalhadora no interior do governo.
Uma dupla herança negativa do governo Rui Costa merece atenção imediata da gestão Jerônimo: a política educacional e a política de Segurança Pública. O governo Rui caracterizou-se por reduzir proporcionalmente o orçamento do estado destinado à Educação Pública, tendência que aparentemente o governo Jerônimo tenta reverter ao expandir em 7% o orçamento da Educação para 2024. Como resultado, a Bahia localiza-se entre as últimas posições no ranking do índice de desenvolvimento da educação. No que se refere à segurança pública, os vários anos de populismo penal, discurso conservador e aposta exclusiva na repressão fez a violência no estado atingir índices alarmantes.
No que se refere ao modelo de desenvolvimento, o traço constitutivo nos últimos anos é de organizar o estado para a exportação de commodities. Nesse sentido, cumpre papel destacado o agronegócio e a mineração. O agronegócio se instalou na Oeste do estado da Bahia centralmente para a produção de soja e a mineração se espalha por novos territórios do estado, trazendo consigo inúmeros conflitos em face de comunidades tradicionais e trabalhadores rurais. Assim, o governo do estado resta aprisionado ao capital, com a capitulação de órgãos vitais aos interesses das transnacionais mineradoras e do agronegócio, tais como a Secretaria de Meio Ambiente e a Companhia Baiana de Pesquisa Mineral.
A esquerda baiana, o PT da Bahia e o governo do estado necessitam se inserir inteiramente na disputa cultural, ideológica e comunicacional. Dessa forma, as políticas de governo na área da cultura e da comunicação devem estar à disposição dos movimentos sociais e dos modos populares de fazer cultura. Levando-se em consideração de que se trata de um estado em que os aparatos de mídia — escrita, rádio e TV — continuam à disposição do carlismo e das oligarquias locais, construir canais alternativos de reprodução do discurso contra-hegemônico é uma tarefa urgente para os tempos que se apresentam.
O governo Jerônimo se apresenta exatamente agora na seguinte encruzilhada histórica: permanecer sob a linha da continuidade do projeto de conciliação de classes ou alterar os rumos da linha de atuação que ficou cristalizada ao longo do governo Rui Costa. Após quatro mandatos petistas, alterar os rumos do governo estadual da Bahia para aprofundar as mudanças é essencial ao prosseguimento do projeto popular que foi vitorioso em 2006.
Um projeto essencialmente democrático, popular e socialista é aquilo que a Bahia precisa!
Direção Estadual Articulação de Esquerda Bahia.