Por Fabíola de Azevedo Lemos*
A Revolução Francesa, na ocasião de seu Centenário, foi exaustivamente comemorada em várias partes do mundo, por se tratar de um marco histórico de ruptura com a antiga ordem absolutista e se tornar referência de uma nova Era, onde os direitos à liberdade do indivíduo seriam finalmente conquistados.
Como qualquer processo histórico de ruptura de hegemonia, teve muita morte, execuções sumárias, tortura, censura e ditadura. Porém não vi ninguém criticando as homenagens organizadas naquela ocasião.
Qualquer pessoa que tenha cursado a 8ª série do ensino fundamental sabe que a Revolução Francesa só garantiu (muito parcialmente) a igualdade jurídica (mulheres não contam!). Porém, trabalhadores e trabalhadoras não conquistaram direitos sociais ou garantias trabalhistas.
Em 1917, a Rússia faz a primeira revolução proletária da história, se tornando referência pra classe trabalhadora mundial, como uma possibilidade real de confrontar o sistema de exploração. Daí em diante, muitos Estados europeus, sob o medo do “espectro socialista”, tiveram que se reformular, garantindo direitos à classe trabalhadora.
A Revolução Russa merece, indiscutivelmente, ser homenageada, por ser diretamente responsável pelas garantias sociais que hoje desfrutamos (e estamos perdendo pelo avanço neoliberal); pelo fato de a Rússia comunista ter sido decisiva para a derrota nazista no contexto da Segunda Guerra; por ter influenciado vários movimentos de libertação na África e Ásia; por ter em cinco décadas transformado uma ordem feudal de pobreza extrema em uma potência que enviava o primeiro homem ao espaço; e por alimentar nossa esperança na mobilização popular como instrumento de transformação.
Houve mortes, execuções, ditaduras, fome, guerra?
Sim… muitas coisas inclusive nunca saberemos com certeza. Porém, existe um pensamento que é chama viva e forte: a vontade de garantir à humanidade uma alternativa a esse modelo mercantil, pautado na insanidade planejada.
Nunca será normal que somente oito pessoas no mundo detenham uma riqueza maior que a de 3 bilhões de pessoas. Estamos destruindo o planeta e a própria vida que, hoje, se resume a viver pra produzir.
* Fabíola de Azevedo Lemos é militante do PT